terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Eu, porém, vos digo...


Jesus surge no meio da cultura judaica que possuía suas normas e tradições, tais como todas as demais culturas. Havia uma tendência a vingar-se do inimigo muito mais do que os males que a pessoa havia feito. Chegava-se a destruir a família do indivíduo, por conta de uma bobagem do pai ou de algum membro da família.  Por conta disso, surgiu a chamada Lei de Talion, isto é, dente por dente e olho por olho.  A pena não podia ser maior do que o mal produzido pelo infrator. Era uma tentativa de gerar equilíbrio no modo de vingar-se.
No Levítico (Lv 19,1-18) já encontra-se uma firme orientação para superar essa questão do ódio e da vingança, que corrompiam e continuam estragando  as relações humanas. O ódio e o desejo de vingança adoecem o coração do homem e da mulher. O ressentimento, o ódio e o desejo de vingar-se são como que cordas que amarram o coração daquele que os carrega e tira a liberdade de amar e de ser amado. São igualmente parecidos com ladroes, pois roubam as energias necessárias para o amor a si e ao próximo. A pessoa fica desprovida de energias para amar.
Diante disso, fica claro que guardar esses ladrões é um mau negócio, pois todos acabam perdendo. Quero aqui acrescentar uma terceira razão para não guardar esses pensamentos. Normalmente uma pessoa que os guarda por um longo tempo acaba ficando doentes fisicamente e não apenas socialmente e espiritualmente. Surgem gastrites, úlceras gástricas e até algum tipo de câncer, por causa disso. Por isso, o autor do Levítico diz: “Não tenhas no coração ódio contra teu irmão... Não procures vingança nem guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,17s).
Apesar dessas orientações os judeus continuavam com o coração cheio de ódio e de vingança. Nesse contexto Jesus acrescenta a sua orientação de não enfrentar os malvados com o mal. O mal retribuído atrai mais mal gerando a corrente do mal e do ódio, que a todos destrói. Jesus traz um elemento absolutamente novo para nocautear o mal. Ele orienta para amar os inimigos e aqueles que fazem mal. Por isso ele diz: “Amai os vossos inimigos, e rezai por aqueles que vos perseguem. Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos”(Mt 5,44s).
Que maravilha seria se nós os católicos e demais seguidores de Cristo entendêssemos essa novidade trazida por Jesus e a colocássemos em prática. Certamente teríamos força de acabar com a maioria das guerras que possuem a origem no coração do homem e da mulher! Um coração cheio de ódio e desejo de vingança justifica todos os tipos de agressões contra tudo e contra todos que se opõem ao seu modo de pensar e agir. Normalmente não de dá conta que ele é o problema e não o mundo ou os outros. Ao contrário, um coração cheio de amor e bondade, é capaz de todos os atos de amor e misericórdia, à semelhança da mãe que ama. Porque ama sempre encontra uma razão para perdoar o filho que erra.
Jesus revela um Pai de amor, que está sempre disposto a perdoar um filho e uma filha. Um Pai que derrama um olhar de bondade e misericórdia sobre bons e maus. Não age assim para menosprezar os bons, mas com toda a esperança de que os maus se convertam e vivam a aventura de amar, como filhos e filhas do Deus do Amor. Aliás, Deus continua sempre o mesmo, isto é, Amor. Se ele não amasse, deixaria de ser Deus e seria como nós que ora amamos e ora odiamos.
Esse ensinamento visa que os homens e as mulheres recuperem a sua identidade filhos de Deus, perdida pelo pecado. Por isso, Jesus diz: “Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso pai que está no céu”.



Pe. Arlindo Toneta – MI
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais – PR
padretoneta@yahoo.com.br


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