Jesus surge no meio da cultura judaica
que possuía suas normas e tradições, tais como todas as demais culturas. Havia
uma tendência a vingar-se do inimigo muito mais do que os males que a pessoa havia
feito. Chegava-se a destruir a família do indivíduo, por conta de uma bobagem
do pai ou de algum membro da família.
Por conta disso, surgiu a chamada Lei de Talion, isto é, dente por dente
e olho por olho. A pena não podia ser
maior do que o mal produzido pelo infrator. Era uma tentativa de gerar
equilíbrio no modo de vingar-se.
No Levítico (Lv 19,1-18) já
encontra-se uma firme orientação para superar essa questão do ódio e da
vingança, que corrompiam e continuam estragando as relações humanas. O ódio e o desejo de
vingança adoecem o coração do homem e da mulher. O ressentimento, o ódio e o
desejo de vingar-se são como que cordas que amarram o coração daquele que os
carrega e tira a liberdade de amar e de ser amado. São igualmente parecidos com
ladroes, pois roubam as energias necessárias para o amor a si e ao próximo. A
pessoa fica desprovida de energias para amar.
Diante disso, fica claro que guardar
esses ladrões é um mau negócio, pois todos acabam perdendo. Quero aqui
acrescentar uma terceira razão para não guardar esses pensamentos. Normalmente
uma pessoa que os guarda por um longo tempo acaba ficando doentes fisicamente e
não apenas socialmente e espiritualmente. Surgem gastrites, úlceras gástricas e
até algum tipo de câncer, por causa disso. Por isso, o autor do Levítico diz:
“Não tenhas no coração ódio contra teu irmão... Não procures vingança nem
guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv
19,17s).
Apesar dessas orientações os judeus
continuavam com o coração cheio de ódio e de vingança. Nesse contexto Jesus
acrescenta a sua orientação de não enfrentar os malvados com o mal. O mal
retribuído atrai mais mal gerando a corrente do mal e do ódio, que a todos
destrói. Jesus traz um elemento absolutamente novo para nocautear o mal. Ele
orienta para amar os inimigos e aqueles
que fazem mal. Por isso ele diz: “Amai os vossos inimigos, e rezai por
aqueles que vos perseguem. Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está
nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre
justos e injustos”(Mt 5,44s).
Que maravilha seria se nós os
católicos e demais seguidores de Cristo entendêssemos essa novidade trazida por
Jesus e a colocássemos em prática. Certamente teríamos força de acabar com a
maioria das guerras que possuem a origem no coração do homem e da mulher! Um
coração cheio de ódio e desejo de vingança justifica todos os tipos de
agressões contra tudo e contra todos que se opõem ao seu modo de pensar e agir.
Normalmente não de dá conta que ele é o problema e não o mundo ou os outros. Ao
contrário, um coração cheio de amor e bondade, é capaz de todos os atos de amor
e misericórdia, à semelhança da mãe que ama. Porque ama sempre encontra uma
razão para perdoar o filho que erra.
Jesus revela um Pai de amor, que está
sempre disposto a perdoar um filho e uma filha. Um Pai que derrama um olhar de
bondade e misericórdia sobre bons e maus. Não age assim para menosprezar os
bons, mas com toda a esperança de que os maus se convertam e vivam a aventura
de amar, como filhos e filhas do Deus do Amor. Aliás, Deus continua sempre o
mesmo, isto é, Amor. Se ele não amasse, deixaria de ser Deus e seria como nós
que ora amamos e ora odiamos.
Esse ensinamento visa que os homens e
as mulheres recuperem a sua identidade filhos de Deus, perdida pelo pecado. Por
isso, Jesus diz: “Amai os vossos
inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do
vosso pai que está no céu”.
Pe. Arlindo Toneta – MI
Paróquia N. Sra. da Boa
Esperança – Pinhais – PR
padretoneta@yahoo.com.br
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