quinta-feira, 26 de novembro de 2015

NÃO FICARÁ PEDRA SOBRE PEDRA


Jesus e seus amigos estavam diante do templo de Jerusalém e alguns deles admiravam a bela construção com seus diversos detalhes ornamentais. Vendo isso, Jesus profetizou que viriam tempos que tudo aquilo cairia por terra e não ficaria pedra sobre pedra. Tudo seria destruído. Diante disso, perguntaram quando aconteceria isso. A resposta de Jesus não é direta e nem muito clara ( cf Lc 21,5-11 ).  O que sabemos é que historicamente o templo foi destruído no ano 70 da Era Cristã, por Tito e suas tropas romanas.
Mas tenho a impressão que o ensinamento maior de Jesus não está no anúncio da destruição dos templos de pedras, de madeira ou de tijolos, mas sim em outros templos, sobre os quais Jesus dedicou a maior atenção, na sua estada terrena. Referimo-nos aos templos do corpo humano. Templos esses enfeitados com adornos, piercing, tatuagens, silicones, anéis e outras joias. Enfeitados, segundo uns, sujados e “enfeiados” segundo outros.
Em suma, nota-se, particularmente no nosso tempo, certo culto à beleza do corpo humano. Culto à beleza externa do corpo, por um lado, e uma pobreza interna por outro. Pobreza de valores, de respeito pelo outro, de amor a Deus e ao próximo. Pobreza essa que pode manifestar-se de diversas formas, tais como: bebedeiras, orgias, ganância, medo exagerado, insegurança, inveja, ciúme, rompimentos matrimoniais e outras.    
Neste tempo que estamos encerrando o Ano Litúrgico, a Liturgia da Palavra nos orienta para que tomemos consciência da fugacidade da beleza dos templos de pedras e, sobretudo, dos templos de carne e ossos, que somos cada um de nós. Como aconteceu com o templo de Jerusalém que não ficou pedra sobre pedra, assim acontecerá com o templo do nosso corpo que não ficará célula sobre célula, mas retornaremos ao pó de onde fomos tirados.
Ontem pela manhã fui atender um senhor que há alguns dias havia “perdido” a esposa. Quando cheguei, ele me aguardava na rua um tanto choroso. Auxiliou-me a estacionar o carro e me convidou a entrar na bela casa, porém, com ares de deserta. Não havia uma alma viva, tudo era silêncio. Muitas coisas, mais coisas, mais objetos. Conduziu-me a uma sala onde pude ouvir, ouvir e ouvir. Depois de uma hora, mais ou menos, propus a bênção da residência que aceitou com muito agrado. Iniciamos a bênção diante de um pote cheio de cinzas que ele olhava fixamente dizendo: “Veja padre o que sobrou da minha esposa! ”.

Sendo assim, queridos leitores, Jesus continua falando para todos nós da importância fundamental de investir na beleza interna do nosso templo. Não nos manda descuidar do nosso corpo ou desprezá-lo, mas cuidar dele priorizando aquilo que dura para a vida eterna, ou seja, a beleza interna. Beleza essa que os pais podem cultivar no coração dos filhos desde a tenra idade. Educando-os para a sensibilidade, o respeito, a partilha, o perdão, a honestidade, a verdade, a alegria, a bondade e o amor a Deus e aos outros.  Se nós queremos famílias melhores, políticos mais honestos, sacerdotes mais acolhedores, não podemos cair na armadilha do mundo pós-moderno que investe no consumo, na beleza fugaz e relega para mais tarde ou deixa para os filhos escolherem os valores religiosos e morais que desejam viver.






Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Boa Esperança
Pinhais - PR 


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O REI QUE DESCE DO TRONO

A história nos apresenta inúmeras pessoas que não mediram esforços para subir ao trono. Subiram a fim de ocupar um posto de comando.  Outros destruíram os concorrentes ou se valeram de mentiras e falcatruas para conquistar o trono. Um número sem conta subiu pisando sobre os demais e usando de todos os recursos da mentira e da guerra para serem eleitos. Uma vez empossados nos seus postos ou tronos, usaram dos mesmos para enriquecer-se à custa dos seus súditos, em vez de servi-los.
No meio desses reis surgiu há dois mil anos um Rei diferente. Um Rei que desceu do trono da Glória do Céu para estar no meio dos seus irmãos. Um Rei que se dignou assumir a nossa humanidade, a fim de redimi-la da sua sede de tronos opressores e fratricidas.  Esse Rei, que a Igreja celebra no último domingo do ano litúrgico, se chama Jesus de Nazaré, o rei servidor, que Pilatos o entregou aos judeus para ser crucificado.
Para começo de conversa, esse Rei não nasceu em palácios, mas no coração de uma família simples e servidora, Maria e José, com o propósito de mostrar o novo tipo de reinado que estava inaugurando. Um reino de justiça, paz e amor. Para edificar esse reino o Filho de Deus se despoja inteiramente. Não possui tronos, nem corroas, nem domínios e o seu exército armado de amor é um bando de mulheres e pessoas simples que se encantaram pelo seu novo jeito de reinar.
Um Rei que se abaixa junto aos doentes, às mulheres, aos pecadores, às crianças para acolhê-los, amá-los e sará-los com seu amor misericordioso. Um Rei que vai a busca das pessoas para fazê-las sentar-se à mesa do banquete. Enfim um Rei que não poupou a própria vida para resgatar as pessoas escravas do pecado e dos tronos que oprimem.
Em 315 da Era Cristã, com Constantino, o cristianismo foi assumido como a religião do estado. Nisto, certa influência do estado acabou apresentando Jesus como um Rei poderoso, vingativo, justiceiro, com coroas de ouro e prata, que permanece na mente de muitos católicos ainda hoje. Com isso, em alguns setores, se insiste em apresentar Jesus como um Rei distante, sentado no seu trono e revestido de ouro e pedras preciosas. Um rei assim assusta as pessoas.  Na Verdade, a verdadeira imagem do Rei do Universo foi apresentada por Jesus de Nazaré.
Um Rei que desce do seu trono de glória para assumir os nossos pecados e fraquezas a fim de destruí-las em si mesmo. Um Rei que se abaixa para lavar os pés dos seus irmãos e das suas irmãs. Um Rei que se aproxima dos pequeninos, das crianças, das mulheres e dos pecadores para perdoá-los e envolve-los de amor. Um Rei que não tira a vida de ninguém. Ao contrário, dá a sua vida em resgate de muitos.
Queridos irmãos, seguidores de Jesus, o Rei Servidor, a festa de Cristo Rei é um grito na mente e no coração de cada um de nós, que nascemos para ser reis, a fim de que examinemos que tipo de reis estamos sendo na família, nas comunidades e na sociedade. Se estamos sendo capazes de descer dos nossos tronos para assumir as fraquezas dos outros com o objetivo de santificá-los ou permanecemos nos nossos postos e tronos para observar os erros e falhas dos demais, com o intuito de julgá-los e condená-los, como fazem os reis pagãos.

Peçamos a graça de sermos reis servidores. Reis cheios de amor e bondade, que procuram sair de si para colocar-se no lugar do outro e da outra a fim de compreendê-los. Mais do que isso, para acolhê-los e amá-los, não apenas com palavras doces, mas, acima de tudo, com gestos concretos. 







Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Boa Esperança
Pinhais - PR 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DESCER DA ÁRVORE

Naturalmente quando desejamos ver melhor subimos numa montanha, colina, prédio ou árvore. Dificilmente entramos num buraco ou num vale profundo. Lá do alto o nosso olhar atinge o horizonte, passeia pelos vales e planícies. Normalmente sentimo-nos poderosos e por cima da carne seca, como diz um amigo meu de São Paulo.
Lendo e meditando o Evangelho de Lucas encontramos a passagem do cobrador de impostos Zaqueu ( Lc 19,1-10 ). Nela podemos ver Zaqueu subindo na árvore para poder ver melhor a Jesus que ia passando pela sua cidade. Quando Jesus o vê empoleirado na árvore para realizar o seu sonho de ver Jesus aparece a novidade do Evangelho, sobre a qual desejo falar um pouco.
Em primeiro lugar, é preciso desejar ver a Jesus. Aliás, esse desejo já está no nosso DNA. Uma vez que essa decisão é real, a oportunidade aparece, pois Deus que é Amor, sempre toma a iniciativa. Antes de nós existirmos Deus já pensou em nós. O Filho de Deus vê a cada um de nós e procura valorizar-nos. A iniciativa é de Deus. Ele nos vê primeiro e conhece a cada um de nós. Quem ama toma a iniciativa. Jesus vê a Zaqueu que está em cima da árvore. 
Em Segundo lugar, Jesus pede para o cobrador de impostos, que deseja vê-lo, que desça da árvore. O significa mesmo descer da árvore? Encontramos outro texto do mesmo Evangelho que vem em nosso socorro, ou seja, o do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). Somente o Samaritano que teve a coragem de descer do seu cavalo e postar-se junto ao necessitado, comtemplou verdadeiramente o rosto de Jesus. O Sacerdote e o Levita ficaram sobre seus cavalos e não viram o Mestre.
Os nossos cavalos e as nossas árvores podem ser mecanismos de fuga do povo e não ferramentas que nos colocam a serviço dele. Podem ser cavalos, árvores, títulos, cargos que ocupamos nas empresas e comunidades. Se subirmos neles para nos afastar ou oprimir os demais, seguramente eles cegam nossos olhos e impedem-nos de ver Jesus.  Por isso, Jesus nos convida a descer dos nossos postos para estar junto do povo para servi-lo, como ele mesmo fez deixando a sua glória para assumir a nossa humanidade a fim de elevá-la.
Mas, para que isso realmente o corra é preciso ter uma terceira atitude, isto é, decisão firme de hospedar a Jesus em nossa casa, ou seja, em nosso coração. Sem isso, os títulos e cargos cegarão os nossos olhos. Zaqueu desceu e hospedou Jesus. Hospedou e se tornou discípulo para ouvir o seu ensinamento. Uma vez convertido a Jesus ele decidiu devolver quatro vezes mais o que tinha roubado e se colocar a serviço dos necessitados, contemplando o rosto do Senhor em cada pessoa humana. De opressor dos irmãos ele passa a ser servidor dos mesmos, seguindo os passos do Mestre Jesus.

Queridos leitores! Peçamos a graça de querer contemplar o rosto de Jesus. Para isso precisamos ouvir a voz dele que nos pede para não nos empoleirar nos nossos postos e títulos, mas descer para o meio do povo e usar deles para servir e promover os mais fracos e necessitados.  





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança



Pinhais - PR 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

UM RIO BROTAVA DO TEMPLO

No aniversário da Igreja Mãe, isto é, a Basílica de Latrão de Roma, a Liturgia da Palavra nos apresente alguns textos muito significativos. Textos esses que merecem ser meditados a fim de extrair deles o significado teológico e mais do que isso as exigências pastorais, para a nossa vida quotidiana.
No primeiro deles, extraído do livro do profeta Ezequiel (Ez 47,1-12), apresenta uma parte da visão proporcionada por Deus. Num ambiente desértico o profeta viu um rio brotando do tempo, correndo para o deserto e crescendo em seu volume a ponto de se tornar um rio caudaloso. Por onde passava a vida pululava. Peixes abundantes povoavam as suas águas e árvores frutíferas de toda espécie cresciam nas suas margens com muitos frutos e cujas folhas serviam de remédio. Eis a síntese da visão.
No segundo texto tirado do Evangelho de João (Jo 2,13-22) vemos Jesus em Jerusalém purificando o templo expulsando os vendilhões dele dizendo que o seu templo é casa de oração e não de roubalheira. Por fim acrescenta que eles podem destruir o seu corpo, mas em três dias ele o reerguerá.
O que podemos entender de tudo isso? A partir da grande luz, que é Jesus, a qual brilhou nas trevas da maldade, podemos entender que Ele realizou plenamente a profecia de Ezequiel. Do verdadeiro templo não mais construído por mãos humanas, que é Jesus, brotou um rio de água viva que vivifica aonde passa. Da sua boca brotou a Palavra que vivifica a todos os que a escutam e a põem em prática. Do seu lado aberto brotou os sacramentos da Igreja que dá vida nova a todos os que os recebem com fé. Em suma, desse templo novo que é Jesus brotou um rio de vida que vai vivificando a tudo e a todos por onde passa.
De Jesus brotou a Igreja mãe, Igreja de Latrão, mas não ficou parada em Roma. A Igreja de Jesus foi correndo para os desertos do mundo através dos primeiros missionários, isto é, S. Paulo, S. Pedro, S. Tiago e tanto outros.  Aonde chegava essa água de amor e bondade ela levou vida nova a todos os que, de alguma forma beberam dela, que é o amor de Deus cheio de misericórdia e compaixão pelos seus filhos e filhas.
Como um rio sempre mais caudaloso foi avançando pelos continentes levando o amor de Deus que foi sendo expresso em inúmeras obras de evangelização e caridade concretas em favor do povo. Quantos hospitais, casas de acolhida, ordens religiosas e outras instituições, à semelhança de árvores frutíferas, foram brotando dessa água nutrindo e curando o povo de Deus!
Trazendo essa revelação para dentro do nosso templo temos que observar se está brotando um rio de água viva ou um rio de água poluída? Seguramente de alguns templos está brotando um rio de água poluída e até venenosa. Mais do que água suja parece brotar um rio de lama de algumas pessoas e instituições brasileiras. Rio que mata e envenena quem ousa nadar nele ou beber das suas águas.  Águas salobras que destroem a vida por onde passam produzindo desertos e mortes. Tudo isso parece resultar do distanciamento do verdadeiro templo que é Jesus.
As nossas missões permanentes visam manter unidos a Jesus, o verdadeiro templo do qual brota a água viva, o maior numero possível de pessoas a fim de que saciem a sua sede e assim, o Rio de Vida possa aumentar e correr para todas as periferias e centros levando esperança, bondade, caridade, paz, segurança, perseverança, perdão, solidariedade e vida alegre para todos.

Eis, queridos irmãos, o sonho do Pai do Céu para todos os seus filhos e filhas. Que tal empenhar-nos para que esse sonho se torne realidade e assim, podermos sorrir largamente com Deus e com os irmãos!







Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança


Pinhais - PR 

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

DAR O MELHOR DE SI


A realidade que nos cerca, apresenta um Brasil marcado por gestos pouco edificantes. Vemos inúmeras pessoas dando o pior de si mesmos. Basta que abramos os nossos famosos jornais nacionais e logo ficamos com nojo de tanta “lama” em Mariana, em Brasília, e nos mais diferentes escalões da nossa sociedade. Pessoas que foram eleitas, sacerdotes que foram consagrados, líderes que foram indicados dando o pior para a comunidade e para a Igreja.

No tempo de Jesus a realidade não era muito diferente. Dentro desse cenário, Jesus com os seus discípulos aparece observando as pessoas que estão colocando as suas ofertas no templo em Jerusalém. Alguns colocavam somas consideráveis daquilo que estava sobrando. O faziam jogando as moedas uma a uma para chamar a atenção dos presentes. Outros colocavam restos e com má vontade. No meio deles apareceu uma viúva, que não tinha ninguém por ela, e colocou tudo o que tinha e mais, o fez com alegria (cf Mc 12,38-44).  

Diante disso Jesus chamou a atenção dos seus seguidores perguntando a eles quem havia dado mais. Lógico que eles responderam que foi quem colocou mais dinheiro naquele cofre. Eles eram portadores do senso matemático como a maioria de nós. Avançando para águas mais profundas Jesus os ensinou que quem havia dado mais foi a pobre viúva, pois havia dado tudo o que tinha para viver. Além disso, o fez de forma discreta e com grande alegria, demonstrando o seu grande amor a Deus e à comunidade.

Essa passagem do Evangelho e outras, como a da Viúva de Sarepta, que acolheu e alimentou o profeta Elias, apesar da sua pobreza (cf 1Rs 17,1-16) querem ser uma oportunidade para revermos o que nós estamos dando à sociedade e a Igreja. O ponto fundamental é que a alegria e a abundância não se afastam daquele que é generoso com Deus e com os seus irmãos. Ao contrário, a tristeza e a depressão habitam o coração dos tacanhos e egoístas.

Vem à minha mente um filme intitulado: Desafiando gigantes. Trata-se de um time de futebol americano onde o treinador desafia os membros do mesmo a darem o melhor de si. Havia um em particular, que fazia corpo mole e consequentemente todo o time era penalizado com frequentes derrotas a ponto de colocar todo o grupo em crise. No dia em que o Brock conseguiu dar o melhor de si, o time todo começou uma série de vitórias e o grupo todo foi beneficiado, inclusive os torcedores, e a alegria voltou a habitar aquele grupo.

Eis as verdadeiras sementes da Igreja de Jesus de Nazaré. Não uma Igreja dos restos, das sobras e do corpo mole. Não uma Igreja da tristeza e das obrigações forçadas, mas uma Igreja da generosidade e da alegria. Uma Igreja não mais movida pelo medo, que “empequena” a alma, mas sim pelo amor a Deus e aos irmãos. Uma Igreja fermento de uma nova sociedade onde os seus líderes dão o melhor de si para os demais a fim de que todos possam viver na fraternidade, na alegria e na paz.

Queridos leitores! Eis aí o caminho da felicidade tão procurado pelas pessoas. Na medida em que procuramos dar aos demais o melhor do que temos e do que somos, seremos verdadeiramente ricos de amor e bondade. Não nos faltará o necessário para viver com dignidade. Mais do que isso, a alegria encherá a nossa vida, as nossas casas e comunidades.







Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O VALOR DE UMA OVELHA

Quando perdemos algo insignificante não nos perturbamos. Fazemos de conta que nada aconteceu e a vida segue normalmente. Quando nos roubam a TV 60 polegadas, o celular, um boi ou uma ovelha que nos custam suor para conquistar esses bens ficamos abalados e não é para menos. Normalmente saímos à procura para ver se conseguimos recuperar aquilo que era nosso e envolvemos pessoas para nos ajudar na busca. Quando conseguimos de volta o nosso bem, comunicamos para todos os amigos e festejamos.
Quanto custa no mercado um boi, uma ovelha, uma TV ou celular? Normalmente não passa de 2 mil reais. Mesmo assim, fazemos de tudo para poder recuperar o bem material e envolvemos o maior número possível de pessoas para nos ajudar. Na parábola da ovelha perdida Jesus destaca exatamente esse esforço do perdedor (Cf 15,1-7). Essa busca não tem nada de mal, mas Jesus destaca o grande esforço que normalmente se faz para reaver os bens perdidos e a alegria ao recuperá-los.
Com essa comparação Jesus está motivando aquele povo que o criticava por estar com os pecadores a rever o valor de uma pessoa humana. Parece que para eles valia muito uma ovelha, ou uma moeda, mas uma pessoa humana podia ser desprezada e abandonada por causa dos seus pecados ou por ter uma origem diferente da deles. Jogavam no inferno irmãos e irmãs seus porque, provavelmente, não sabiam o quanto valiam.
Jesus afirma que veio para procurar os pecadores, que se perderam, e os que foram perdidos por causa dos preconceitos dos que se julgavam santos. Ele veio dizer que a pessoa humana não perde o seu valor por causa dos seus pecados, da sua cor ou origem. Veio dizer que a pessoa é como a nota de 100 reais, mesmo que amassada e suja, ela continua mantendo o seu valor de compra.  Para Deus a pessoa humana é filha e filho e não perde o seu valor por conta dos seus defeitos, dos seus pecados e origem diferente.
Em segundo lugar a atitude de Jesus revela todo o amor de Deus para com seus filhos e, por isso, os procura sem jamais abandoná-los. Procura até encontrá-los onde estiverem a fim de envolvê-los de amor e carregá-los no colo até a sua casa para fazer um banquete. Não os julga e muito menos os condena por conta de suas quedas, mas os resgata no amor, os envolve de amor e os leva para celebrar num clima de grande alegria.
Depois disso só nos resta perguntar quanto vale uma pessoa humana? Segundo os traidores ela vale trinta moedas de prata, mil reais ou um pouco mais, mas para Deus ela não tem preço, pois é filha, e filhos não se vende apenas se ama. Para nós cristãos quanto vale uma pessoa? Seguramente isso depende da experiência que fizemos de Jesus, aquele que nos revelou, por excelência, o valor do ser humano. Jesus nos ensinou que a pessoa por mais amassada que esteja ela não perde o seu valor.  Seja ela criança, jovem, adulta, idosa, casada, separada ou sacerdote ela tem valor inestimável.
Diante dessa verdade é que podemos entender uma Igreja em saída, para ir ao encontro das pessoas que se afastaram. Enquanto houver pessoas distantes de Deus nós discípulos missionários de Jesus deveríamos estar inquietos. Olhando à nossa volta vemos muitas ovelhas sem pastor. Por isso mesmo, o apelo dos nossos bispos para que saiamos ao encontro delas. Saiamos com o coração cheio de amor e bondade para escutar, acolher e atrair para a comunidade a tantos que ainda não sabem do seu valor e, por isso mesmo, se vendem aos apelos do mundo a qualquer preço. 






Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança


Pinhais - PR 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

EU QUERO IR PARA O CÉU

Desde muito cedo as crianças aprendem dos pais e dos catequistas que o Céu é um lugar muito bom onde não há mais lutas, brigas, doenças, inveja e maldades. No céu há entendimento e todos ajudam a todos. Ninguém discute para ocupar o melhor lugar, pois cada um está no melhor lugar e plenamente feliz.
Tanto é verdade que é assim, que um dia eu estava dando uma palestra numa sala de aula em Cruzília (MG) e perguntei aos jovens quem queria ir para o Céu. A sala numa só voz respondeu afirmativamente erguendo as mãos. Provocativamente perguntei quem queria ir naquele momento, todos abaixaram a mão. Diante disso surgiram perguntas na minha cabeça: Por que eles não querem partir para o Céu se é tão bom? Quais são os medos que existem?
Normalmente, o medo da morte e as dúvidas a respeito do julgamento que haverá, torna a pessoa medrosa e apegada a esta vida, apesar das suas inúmeras dificuldades. Ouvindo um pouco mais parece que não falta a convicção de que o céu é bom, apesar da maior parte das pessoas não saberem bem o que é o céu e como será esse julgamento para entrar nele ou não.
A respeito do que é o Céu, a maioria das pessoas pararam na formação catequética primária, onde foi ensinado que o céu é um lugar maravilhoso e cheio de harmonia e paz. Esse lugar fica lá em cima, mas não sabem bem onde fica. E nesse caminho as dúvidas vão acumulando. Por isso, cabe aqui avançar um pouco para águas mais profundas.
O que é o Céu? O Céu não é um lugar, mas o próprio coração de Deus. “De Deus nós viemos e para Deus nós estamos voltando. O nosso coração fica inquieto enquanto não repousa em Deus” afirmou Santo Agostinho. O próprio Jesus afirmou que iria para o Céu a fim de preparar um “lugar” no coração de Deus e depois viria nos buscar para que estivéssemos lá onde ele estava (cf Jo 14,1-6).
Onde começa o Céu ou o Inferno? O céu ou o inferno começam aqui na terra. Na medida em que nos aproximamos de Deus e vivemos em comunhão com Ele e com os nossos irmãos, produzindo obras de bondade, edificamos o Céu. Por outro lado, quando nos afastamos d’Ele e dos irmãos, produzindo maldade, estamos nos preparando para o inferno.  Importa queridos irmãos que desejamos ir para o Céu, preparar-nos diariamente para ele escolhendo viver em comunhão com Deus e com os irmãos, na família e na comunidade. Na hora da nossa morte tomaremos essa decisão definitivamente.
A morte é o fim de tudo ou o começo da plenitude? Diante da morte alguns duvidam que vão ressuscitar e que, portanto, serão aniquilados pela morte. Na verdade Jesus afirma com todas as letras: “Esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu e eu o ressuscite no último dia” (Jo 6,39). A maior prova disso é a própria ressurreição de Jesus testemunhada por Maria Madalena, pelos apóstolos e inúmeras pessoas que o contemplaram após a sua vitória sobre o pecado e a morte.

Quando seremos julgados e por quem?  Na hora da nossa morte estaremos diante de Deus e nós mesmos nos julgaremos dignos de Deus ou indignos d’Ele. Deus não nos condenará, mas fará tudo para nos atrair ao seu coração. Não poupou o seu único filho para nos abrir as portas do Céu. Só nós poderemos decidir nos afastar d’Ele, ou seja, ir para o inferno, isto é, para longe de Deus. Portanto, queridos irmãos o Céu é um presente de Deus que deseja dar a todos os seus filhos e filhas. Deus, porém, respeita a liberdade de cada um de aceita-lo ou não. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança

Pinhais - PR 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

EDUCAR PARA A SANTIDADE

Jesus de Nazaré afirmou categoricamente que só Deus é bom, só Deus é santo. Nós todos, pela desobediência de nossos pais Adão e Eva, fomos contaminados pelo pecado original. Sendo assim, o ser humano não nasce santo, mas inclinado para o egoísmo. A criança é egocêntrica por natureza. Trata-se, a princípio, de uma questão de sobrevivência, pois ela surge com uma grande dependência de tudo e de todos. Quando não é atendida se vale até do grito e do choro para chamar a atenção e ser saciada nas suas necessidades básicas. Quando chega à sala, por exemplo, ela chama a atenção de todos porque necessita de atenção, afeto e carinho. Inicialmente não se trata de egoísmo, pois não é uma atitude plenamente consciente e, muito menos, carregada de maldade.
Na medida em que a criança vai crescendo os pais e os mestres vão ajudando esse pequenino a sair de si e ir ao encontro dos irmãos e dos colegas a fim de construir fraternidade, partilhando as coisas, o tempo e a si própria. Pouco a pouco, ela vai descobrindo que há mais alegria em ajudar do que em ter e acumular. Eis a raiz da santidade que existe em cada criança. Se cultivada a criança desabrocha para Deus e para o amor à comunidade, senão ela, muito provavelmente, crescerá no egoísmo.
Conscientes dessa realidade humana cabe aos pais, professores e catequistas, de modo particular, ajudar esse ser a desabrochar para os outros e descobrir a alegria de estabelecer relações de ajuda, movido pelo amor. Como nenhum ser humano é perfeito nisso, só resta aos ajudantes apontar o autor dessa perfeição, isto é, para Deus, que é o único Santo dos Santos, que tudo faz por amor.  Apontar para Deus que colocou o seu DNA em cada pessoa ao criá-la, a fim de que como filha possa viver em comunhão com ele e assim ser santificada.
Santo, portanto, é só Deus e nós seres humanos podemos participar da sua santidade. As raízes da santidade estão nas pessoas, mas se não cultivadas podem ser sufocadas pelo egoísmo, pelo pecado e pela frustração. Aos pais, professores e catequistas que já beberam no poço da santidade, que é Deus, cabe a tarefa de conectar sempre mais os seus com Deus a fim de que possam participar da sua santidade e assim produzir toda a sorte de frutos bons.
Para falar disso podem se valer de comparações. Por exemplo, da videira e dos seus galhos. Vejam os galhos da parreira que se mantêm unidos ao tronco, a seu tempo, produzem frutos suculentos, pois recebem a seiva do mesmo. Os que são cortados morrem por falta de seiva. Da mesma forma a pessoa que se une a Deus recebe dele a força amorosa que a leva a produzir frutos de santidade, que é o perdão, a partilha, a acolhida, o respeito e outros. Se a pessoa se afasta de Deus cresce o egoísmo e os seus frutos amargos logo aparecem para a sua tristeza e de toda a comunidade. Pelos frutos sabemos que uma árvore é boa e pelas obras que produz uma pessoa manifesta a santidade que circula em seu coração ou o seu egoísmo.
Se o mundo ainda está cheio de pessoas que produzem frutos desagradáveis, isto é, egoísmo, ódio, violência, pedofilia, brigas familiares, fofocas, abandono, assassinatos, e outros males, tudo isso revela que ainda são poucos os que se empenham na educação para a santidade. A abundância de egoístas e frustrados indica a omissão e a falta de educadores para a santidade.
Diante disso, nada adianta ficar aí lamentando o leite derramado. Peçamos a Deus, particularmente na festa de todos os Santos, a graça e a vontade firme de assumir a nossa missão de Discípulos Missionários de Jesus. Assumir para falar de Deus e educar o maior número possível de irmãos e irmãs para a santidade, pois essa é a vocação fundamental de cada ser humano, colocada por Deus no seu DNA. 






Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança


Pinhais - PR