quinta-feira, 26 de novembro de 2015

NÃO FICARÁ PEDRA SOBRE PEDRA


Jesus e seus amigos estavam diante do templo de Jerusalém e alguns deles admiravam a bela construção com seus diversos detalhes ornamentais. Vendo isso, Jesus profetizou que viriam tempos que tudo aquilo cairia por terra e não ficaria pedra sobre pedra. Tudo seria destruído. Diante disso, perguntaram quando aconteceria isso. A resposta de Jesus não é direta e nem muito clara ( cf Lc 21,5-11 ).  O que sabemos é que historicamente o templo foi destruído no ano 70 da Era Cristã, por Tito e suas tropas romanas.
Mas tenho a impressão que o ensinamento maior de Jesus não está no anúncio da destruição dos templos de pedras, de madeira ou de tijolos, mas sim em outros templos, sobre os quais Jesus dedicou a maior atenção, na sua estada terrena. Referimo-nos aos templos do corpo humano. Templos esses enfeitados com adornos, piercing, tatuagens, silicones, anéis e outras joias. Enfeitados, segundo uns, sujados e “enfeiados” segundo outros.
Em suma, nota-se, particularmente no nosso tempo, certo culto à beleza do corpo humano. Culto à beleza externa do corpo, por um lado, e uma pobreza interna por outro. Pobreza de valores, de respeito pelo outro, de amor a Deus e ao próximo. Pobreza essa que pode manifestar-se de diversas formas, tais como: bebedeiras, orgias, ganância, medo exagerado, insegurança, inveja, ciúme, rompimentos matrimoniais e outras.    
Neste tempo que estamos encerrando o Ano Litúrgico, a Liturgia da Palavra nos orienta para que tomemos consciência da fugacidade da beleza dos templos de pedras e, sobretudo, dos templos de carne e ossos, que somos cada um de nós. Como aconteceu com o templo de Jerusalém que não ficou pedra sobre pedra, assim acontecerá com o templo do nosso corpo que não ficará célula sobre célula, mas retornaremos ao pó de onde fomos tirados.
Ontem pela manhã fui atender um senhor que há alguns dias havia “perdido” a esposa. Quando cheguei, ele me aguardava na rua um tanto choroso. Auxiliou-me a estacionar o carro e me convidou a entrar na bela casa, porém, com ares de deserta. Não havia uma alma viva, tudo era silêncio. Muitas coisas, mais coisas, mais objetos. Conduziu-me a uma sala onde pude ouvir, ouvir e ouvir. Depois de uma hora, mais ou menos, propus a bênção da residência que aceitou com muito agrado. Iniciamos a bênção diante de um pote cheio de cinzas que ele olhava fixamente dizendo: “Veja padre o que sobrou da minha esposa! ”.

Sendo assim, queridos leitores, Jesus continua falando para todos nós da importância fundamental de investir na beleza interna do nosso templo. Não nos manda descuidar do nosso corpo ou desprezá-lo, mas cuidar dele priorizando aquilo que dura para a vida eterna, ou seja, a beleza interna. Beleza essa que os pais podem cultivar no coração dos filhos desde a tenra idade. Educando-os para a sensibilidade, o respeito, a partilha, o perdão, a honestidade, a verdade, a alegria, a bondade e o amor a Deus e aos outros.  Se nós queremos famílias melhores, políticos mais honestos, sacerdotes mais acolhedores, não podemos cair na armadilha do mundo pós-moderno que investe no consumo, na beleza fugaz e relega para mais tarde ou deixa para os filhos escolherem os valores religiosos e morais que desejam viver.






Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Boa Esperança
Pinhais - PR 


Nenhum comentário:

Postar um comentário