quarta-feira, 24 de setembro de 2014

DEUS CHAMA E ENVIA EM MISSÃO

            Fomos escolhidos para existir. Não nascemos por acaso ou por algum acidente biológico. Fomos chamados à vida por desígnio de Deus. Deus nos pensou, nos amou e chamou-nos à luz do dia. Enganamo-nos redondamente quando dizemos que não fomos amados. Pode ser que os nossos pais não o fizeram suficientemente, mas antes deles o nosso Criador pensou-nos, criou-nos e silenciosamente colocou-nos no ventre da nossa mãe. 
            Além do mais, fomos escolhidos pelo nome e não somos produção em série. Cada um de nós é único e tem uma missão a realizar no mundo. Ninguém nasceu apenas para atrapalhar os demais. Mesmo a criança especial tem a sua razão de ser e existir. Importa que a procuremos à luz de Deus e não da nossa comodidade e egoísmo.
            Jesus convocou os doze discípulos, isto é, os representantes das doze tribos de Israel e deu-lhe poder sobre todos os demônios e doenças. Poder de expulsar o mal e curar as doenças. Missão de anunciar o Reino de Deus curando enfermos e expulsando toda a sorte de males. Missão essa que não envolve muitos recursos materiais e financeiros, mas exige uma fé firme naquele que os chamou e os enviou para essa nobre e santa missão (cf Lc 9,1-6).
            Da mesma forma que Jesus chamou os doze ele chama a cada um de nós, seus irmãos e irmãs, para dar continuidade a essa missão de expulsar os demônios do mundo. Demônios que dividem e enfraquecem as pessoas e os bons projetos. Expulsar o mal para que o amor e a bondade desabrochem na família, nas comunidades, nas paróquias, nas empresas, nas políticas e no mundo todo. Um dos grandes demônios que atualmente vitima milhares de seres humanos e destrói inúmeras famílias é a droga. Fomos escolhidos e chamados para expulsá-la do nosso meio cultivando os valores evangélicos e hábitos saudáveis.
            Fomos escolhidos pelo nome e, portanto, com uma responsabilidade pessoal. Não podemos mais lavar as mãos e dizer que esse demônio e outros que estão por aí fazendo seus estragos são problemas do governo ou dos políticos. Você também foi chamado pelo nome como foram chamados Pedro, André, Tiago, João, Judas... para expulsar toda espécie de males. Se você não responder a esse chamado a sua missão ninguém realizará. Certamente faltará a sua contribuição no crescimento do Reino de Deus neste mundo. Sem a sua contribuição você perderá toda a autoridade quando estiver reclamando que as coisas estão de mal a pior. Quem dará crédito a uma árvore que não produz frutos?
            Não é válido alegar falta de recursos para isso como normalmente se faz. Como o evangelho afirma não necessitamos de dinheiro, nem de duas túnicas para realizar essa missão. Sem desprezar os recursos técnicos e financeiros, é fundamental confiar fortemente naquele que nos chama e nos capacita para essa missão. Aliás, não somos nós que a realizamos, mas é o seu amor que atua em nós que expulsa o mal e a doença e dilata o reino do amor e da bondade.
            Peçamos a graça de tomar consciência que fomos escolhidos e capacitados pelo Amor a fim de realizar no mundo uma missão de amor e bondade. Uma missão indelegável ou seja, que não podemos terceirizar.  Missão essa que expulsa os demônios da preguiça, da inveja, do ódio, da enganação, da mentira, dos vícios e toda sorte de males. Que expulsa mais com a alegria do amor do que com dinheiro e outros recursos técnicos.

           A boa notícia é que somos todos chamados e capacitados para sermos missionários de Deus a fim de alavancar a Nova Evangelização no mundo de hoje. 




Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR







terça-feira, 23 de setembro de 2014

OS FAMILIARES DE JESUS


Jesus estava sempre rodeado de muita gente devido o seu modo novo de falar e agir com autoridade, isto é, com exemplo de vida. Não era como os fariseus e escribas que falavam e exigiam do povo, mas não viviam o que ensinavam. No meio desse povo todo aparecem a mãe e os irmãos sanguíneos de Jesus procurando por ele, mas não puderam achegar-se a ele por causa da multidão que o cercava.

Na ótica da pastoral familiar é bom que o filho seja tão apreciado pelo povo que a mãe biológica tenha dificuldade para se aproximar dele. Imaginem os filhos que permanecem em casa e não se desgrudam da saia da mãe. Normalmente não se realizam e acabam dando trabalho para os pais. São filhos mimados e despreparados até para assumir uma família com competência e responsabilidade.

Jesus não se amarra à família biológica a tal ponto de dificultar a sua missão universal. Aos 12 anos ele fica no templo, ouvindo e discutindo com os doutrores da lei, sem que os seus pais soubessem disso. Após três dias de procura o encontram e o questionam: “Por que você fez isso conosco?” Ele respondeu prontamente: “Não sabíeis que devo ficar na casa do meu Pai?” (cf Lc 2,41-50).  Desde muito jovem ele vai dando sinais que a família biológica não é dona do filho, mas é apenas educadora do filho para o verdadeiro Pai, isto é, Deus e para a família definitiva.

Pena que muitos pais desconhecendo essa verdade se apossam do filho a tal ponto que dificultam a sua missão, assim como familiares de Jesus queriam fazer. Diante dessa tentativa de apanhar Jesus para leva-lo para casa, por parte dos seus, ele aproveita a oportunidade e aponta para a sua nova família com a qual está definitivamente comprometido. Nada e ninguém o impedirá de zelar das suas novas mães, irmãs e irmãos, nem mesmo a família biológica.

Queridos pais eis aqui uma orientação importante. Os filhos são uma dádiva de Deus para serem educados para Ele e a serviço dos irmãos e das irmãs. Importa que os pais assumam essa missão de apontar a casa do Pai e o seu ensinamento a fim de que estes possam se tornar mães, irmãs e irmãos de Jesus.   Uma vez adotada essa pedagogia importa confiar no filho para que ele assuma a sua missão que o Pai do Céu lhe confiou. Ao assumi-la ele vai edificando a sua nova família cristã e não apenas a biológica.

Peçamos a graça de sermos mães, irmãos e irmãs de Jesus colocando em prática, com alegria, a Palavra do Pai e assim, não mais tomaremos as pessoas como propriedade nossas, mas as acolheremos como presentes de Deus, que nos auxiliam a viver e conviver, preparando-nos assim, para o banquete do Céu.




Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

terça-feira, 16 de setembro de 2014

JOVEM LEVANTA-TE!


     
O nosso Brasil continua dormindo, deitado em berço esplendido. Quantos jovens e adultos deitados! Alguns dormindo, outros entorpecidos pelas drogas e vícios, outros ainda mortos sem perspectivas no presente e muito menos para o futuro. Quantos desses já estão na fila da morte e estão sendo conduzidos para o cemitério seguidos por multidões de parentes e familiares chorando e lamentando a morte precoce! Enquanto isso os malandros e vulgo espertos dançam e rolam na politica e na ladroeira levando vantagem sobre os mortos e anestesiados, tipo urubus na carniça.
      A Palavra de Deus nos ensina que Deus mandou o seu Filho Jesus para encontrar com todos esses. Não para julgá-los e condená-los, mas para abrir um caminho novo. Um caminho de vida e esperança no meio desse deserto brasileiro. Observemos atentamente o episódio do evangelho de Lucas (Lc 7,11-17) que fala da ressurreição do filho da viúva de Nain e tenhamos coragem de trazer essa mensagem para a nossa realidade, uma vez que a Palavra de Deus é viva e não apenas fato histórico, pontual.
      Naquele tempo vemos uma multidão correndo atrás da morte lamentando e chorando de um lado. Do outro vemos Jesus, fonte de vida, com uma multidão correndo atrás dele pulando de alegria. No momento em que Jesus encontra aquele funeral tudo é transformado. A corrente da vida toca no caixão e a vida é restaurada e ressuscitada. Aquela multidão de chorões é transformada e somada com a da alegria. O jovem levanta-se e a festa da vida vai tomando conta de todos fazendo ver que quando se acolhe o Evangelho os que estão deitados se colocam novamente de pé e a morte cede lugar à vida para a alegria das mães e dos filhos.
      Queridos irmãos e irmãs! Tenhamos coragem de olhar para as nossas escolas e fazer uma radiografia. A seguir olhemos para as nossas instituições de saúde. Olhemos também para as nossas Igrejas católicas e não católicas. Olhemos para os nossos meios de comunicação. Olhemos para o cenário político e para os gestores dos bens públicos. Olhemos para as repartições públicas de onde se tirou Jesus em nome do Estado laico. É a vida ou a morte que conduz aquelas multidões? A seguir olhemos para a proposta do Evangelho de Jesus.
      Depois desse exercício temos que nos posicionar de um lado ou do outro. Não podemos mais ficar em cima do muro olhando a caravana que passa. É fundamental tomar uma decisão. Espera-se que um católico e seguidor de Jesus caminhe com ele no dia a dia e não apenas na Igreja, um dia por semana. Jesus acompanhado com todos os seus seguidores, esperamos que com você também, quer entrar nas escolas e tocar os jovens, os professores, os diretores e ressuscitá-los para que a vida e a alegria sejam as suas bandeiras e não mais a violência e a morte.  
    Jesus quer entrar nas repartições púbicas e políticas, pois muitas foram transformadas em caixões de roubalheira e morte, para tocar nelas e nos seus mentores, a fim de que a vida e a alegria retornem aqueles corações e ambientes. O nosso querido Papa Francisco, sintonizado com o projeto de Jesus, encoraja a todos os católicos a entrar nesses ambientes para junto com Jesus restaurar esses setores degradados em espaços de vida e de alegria.
      Jesus continua caminhando com os seus seguidores e deseja entrar na sua e nossa Igreja a fim de colocar de pé todos aqueles que estão cansados, viciados, desanimados e conduzidos pela morte ao cemitério. Jesus ordena à morte que pare a fim de que a vida e a alegria tomem conta e conduzam a Igreja caminhante. A missão de Jesus e dos seus seguidores não para e, por conta disso, somos convidados pela Arquidiocese de Curitiba a assumirmos as Missões Permanentes. Missões essas que não visam outra coisa senão expulsar o desânimo, o egoísmo, o indiferentismo e a morte a fim de que a vida e alegria tomem conta de toda a nossa cidade.
    Peçamos a Nossa Senhora da Boa Esperança que nos mostre a única e verdadeira esperança, que é Jesus caminhando no meio de nós a fim de que todos os homens e mulheres tenham vida e a tenham em abundancia.  







Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

QUEBRAR O CIRCULO VICIOSO



A tendência humana é fazer bem aos que nos fazem bem e fazer mal aos que nos prejudicam. Quando alguém começa falar mal de nós, geralmente descobrimos os seus defeitos e começamos falar mal dele também. Diante de alguém que nos agride e prejudica, impulsivamente tendemos a devolver-lhe o troco, buscando formas de prejudicá-lo e agredi-lo também. Em suma, diante dos maus nos tornamos maus também.

Com esse jeito de reagir ao mal, nós estamos alimentando o círculo vicioso da maldade e da guerra que vitima milhões e milhões de seres humanos. Para certificar-nos disso, basta que estudemos um pouco da história da humanidade e logo veremos rios de sangue correndo pelos vales e montanhas do nosso planeta.

Cansado desse banho de sangue sobre a terra, Deus enviou o seu Filho Jesus para ensinar-nos um novo jeito de reagir ao mal. Um jeito que quebra as pernas à maldade e a condena ao ostracismo. Ele nos ensina esse novo jeito dizendo: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva” (Lc 6, 27-30).

Através desse ensinamento cristão podemos avaliar o quanto nós somos cristãos ou ainda reagimos como pagãos. Certamente que o impulso humano permanece em nós e instintivamente reagimos querendo o mal dos maus e o bem dos bons, mas Jesus está convidando a todos nós evangelizarmos os nossos impulsos primários a fim de assumirmos a nossa identidade cristã. Identidade esta que nos leva à firme decisão de fazer bem a todos como o nosso Pai, que está no Céu.

Por que fazer o bem a todos, se eles não merecem? Fazer o bem a todos em primeiro lugar porque somos filhos de Deus e herdeiros do Céu. Fazer o bem porque o bem que penso, quero e faço, me faz bom e revela que sou filho do Bom, isto é, de Deus e não do mal. Fazer o bem aos que fazem mal porque eles ainda são carnais e não descobriram o quanto é bom ser bom e fazer o bem. Fazer o bem porque diante da luz do bem, poderão tomar consciência da sua maldade e feiura e serem atraídos para a beleza da bondade.

Por que rezar por aqueles que nos caluniam? Porque com isso, mostramos ao mundo que somos filhos de Deus e não filhos da fofoca e da maldade. Ao rezarmos por aqueles que nos caluniam estamos curando o nosso coração que pode estar machucado por conta da calúnia e da fofoca. Mais uma vez gritaremos alto que somos filhos de Deus que procura fazer bem a todos e não apenas aos bons. Se levarmos em conta a força transformadora da oração fervorosa certamente nos empenharemos para rezar por aqueles que mais necessitam, isto é, para os pecadores.

Por que oferecer a túnica àquele que nos tira o manto? Para revelar ao mundo que o nosso bem verdadeiro ninguém tira. O cristão que tem identidade forte é aquele que vendeu todos os bens deste mundo para ficar com o Tesouro, que é Deus. Usa de todos os bens, mas está desapegado e livre para seguir os passos do seu bem maior. Diante dessa descoberta S. Francisco foi capaz de deixar o único manto nas mãos do pai avarento e partir pelado com o Bem maior, isto é, com Deus.


Queridos irmãos e irmãs, eis um conjunto de atitudes fortes de Jesus e dos seus seguidores que rompem o círculo vicioso da violência e revelam a identidade dos verdadeiros cristãos. 





Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

A ALEGRIA DO EVANGELHO



Normalmente o ser humano e toda a criação se alegram quando conquistam espaços, amizades, dinheiro, autoestima e se entristecem quando perdem o respeito, amigos, poder, saúde e outras coisas mais. Essa é uma marca particular do ser humano na ótica da psicologia e da antropologia.

O Evangelho chega para por em cheque esse modo natural e humano de reagir aos fatos e acontecimento que nos envolvem. Particularmente as Bem-aventuranças nos convidam a dar um salto de qualidade à reação primária. Ensina-nos a vislumbrar ganhos superiores e com isso, poder enfrentar as perdas e perseguições, por causa de Jesus, com alegria. “Bem-aventurados (felizes) sereis quando os homens vos odiarem vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu” (Lc 6,23-24a).

Pessoalmente confesso que não é nada fácil reagir dessa forma. Lembro quanto sofrimento me envolveu por causa disso. Tinha necessidade da aprovação de todos, de elogios constantes, e outros ganhos mais por não conhecer bem o Evangelho e, sobretudo, por não viver o mesmo. Hoje consigo administrar bem melhor as perdas e os ganhos por causa do meu crescimento como cristão.

Temos necessidade de evangelizar toda a nossa natureza humana programada pela natureza a reagir alegrando-se com os ganhos imediatos e entristecer-se com as perdas. Essa mudança não a conseguimos instantaneamente, mas requer uma caminhada com Jesus para poder desabrochar na fé e na esperança. Sem essa experiência e visão nova, tendemos a achar que os que procedem assim são loucos ou uns bobos, incapazes de lutar pelos seus direitos.

Na verdade, esse modo novo de reagir diante dos insultos, perdas e perseguições por causa de Jesus, faz parte da verdadeira identidade cristã. Cristão de verdade, segundo o Evangelho, não é aquele que é batizado, que reza e até vai à missa, mas que reage de forma primária aos fatos, isto é, alegrando-se com os ganhos imediatos, mesmo que injustos, e entristecendo-se com as perdas. Cristão com maiúscula é aquele assume um novo jeito de reagir e se alegrar, manifestando assim a sua identidade cristã, essencial na nova evangelização proposta pelo nosso Papa e demais Bispos.

Cristão com identidade forte, isto é, que alegra, ilumina e aquece a comunidade, é aquele que aceita perder prestígio, poder e dinheiro por causa de Jesus Cristo. Cristão portador da verdadeira felicidade é aquele que perde “amigos” para defender a Jesus em cada idoso, nas crianças, nos doentes e em cada pessoa que necessita de ajuda. 




Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Festa Brega


A CORREÇÃO FRATERNA



Estamos num tempo em que temos medo de interferir na vida do outro e da outra para proceder algumas correções. Temos o caso da professora que chamou a atenção do aluno na busca de orientá-lo para que tivesse atitudes mais respeitosas na sala de aula. O resultado foi que o aluno a esfaqueou pelas costas enquanto estava escrevendo no quadro negro. O próprio governo interfere na família legislando que os pais não podem dar uma palmadinha para corrigir o filho. Será que é competência do governo ou da família legislar sobre isso? Os nossos presídios são ambientes de formação de bandidos e revoltados mais do que espaços de correção para a integração na sociedade. Além do mais o preso é remunerado, quase que fomentando o delito. Entendemos que essas coisas todas dificultam a correção em vez de favorecê-la.

Por outro lado, a Bíblia, que é a carta magna dos cristãos, nos orienta e incentiva para a responsabilidade e a corresponsabilidade para com a vida do nosso irmão e da nossa irmã. Essa responsabilidade implica na correção do outro quando observamos que ele anda nos caminhos da mentira e do erro. O profeta Ezequiel afirma que Deus vai pedir contas a nós do irmão que vimos errando e não o ajudamos na correção e mudança de vida (cf Ez33-7-9). No início da Bíblia o próprio Deus pede a Cain contas do seu irmão Abel, pois Ele nos criou um para cuidar do outro (cf. Gn 4,1-16).

Talvez importe pensar um pouco na forma como cuidamos e corrigimos. A experiência nos mostrou muitas loucuras nesses aspectos da vida. Vimos pais machucando os filhos com agressões, maridos batendo em esposas e vice-versa, casais esbravejando um com o outro em público, educadores gritando com educandos, etc. Tudo isso, podem ser atitudes com boas intenções, mas que não são boas atitudes na correção. Mais do que corrigir agravam a situação gerando revolta e desejo de vingança. Não é suficiente ter boas intenções e necessário ter atitude que favoreçam a correção fraterna e o crescimento para a liberdade responsável.

Normalmente uma criança ou um jovem quando é agredido ele pode pensar que os adultos agridem e batem porque são grandes e não porque amam. Com essas experiências pode cultivar a ideia que quando crescer ele também poderá bater nos mais fracos como fizeram com ele. Com isso, se cultiva um circulo vicioso agressivo, fomentador das pequenas e grandes guerras, muito pouco corretivo.

O Evangelho de Mateus ( Mt 18,15-17) apresenta dicas preciosas  na pedagogia da correção. Afirma que se alguém comete algum pecado contra nós devemos corrigi-lo inicialmente a sós. Aproveitar quando a pessoa está sozinha e jamais corrigi-la em público ou no meio do seu grupo de amigos. Além disso, importa muito também o momento e a forma de abordagem da pessoa errada. Normalmente não podemos tentar corrigir alguém no olho do furacão, isto é, quando as tensões estão à flor da pele. É sábio esperar o momento da calma e da serenidade. A forma de abordagem também pode ajudar, ou seja, não julgar, mas ajudar a pessoa a dar-se conta da sua falha à luz do amor. Procedendo assim, certamente os resultados da correção fraterna serão muito melhores.

Claro que há casos em que as pessoas erradas não admitem que estão no erro e se recusam a mudar de atitude. Diante disso, há o recurso da ajuda de mais pessoas cheias de autoridade, isto é, de amor, de serviço e bom comportamento que podem auxiliar no resgate daqueles que se obstinam no erro e no pecado. A força da comunidade é muito grande na recuperação da ovelha perdida.

Em suma, aquele que entende a palavra de S. Paulo aos cristãos de Roma: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei” (Rm 13,8) não se omite diante do erro de um irmão, ao contrário, faz de tudo para recuperá-lo, pois o amor exige isso. O marido que ama não se cansa de buscar a correção da sua esposa e a esposa amorosa é incansável na busca da santidade do marido. Os pais que vivem a única lei trazida por Jesus, que é o amor, corrigem os filhos e os auxiliam a trilharem o caminho que leva à verdade e à vida. O padre corrige a sua igreja e esta auxilia o mesmo na sua correção, sem mais necessidade das fofocas, danosas para todos. 





Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O JEJUM QUE AGRADA A DEUS



Em tempo de obesidade de mais de 50% da população brasileira, inclusive nas favelas, falar em jejum pode ser uma ideia interessante do ponto de vista daqueles que desejam recuperar a sua forma atlética. Abster-se de alguns alimentos com forte teor nutricional e limitar a ingestão de comida em alguns dias da semana é uma boa medida para manter a própria saúde e, até mesmo, para recuperá-la.

No Evangelho aparecem algumas pessoas questionam a Jesus: Eles disseram-lhe: “Os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam com frequência e fazem orações, mas os teus discípulos comem e bebem”. Jesus, então, lhes disse: “Podeis obrigar os convidados do casamento a jejuar, enquanto o noivo está com eles? Mas dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, naqueles dias, eles jejuarão” (Lc 5,33-35).

Notem que eles questionam por que os discípulos de Jesus não faziam jejum de comida e bebida, enquanto que os de João Batista e dos fariseus faziam-no rigorosamente, por imposição legal. Diante disso, Jesus afirma que os seus discípulos estavam vivendo um tempo novo, isto é, um tempo de núpcias e de festa. Estavam alegrando-se com a presença do esposo, prometido no Antigo Testamento, que era Ele mesmo. Diante disso, como exigir que alguém se abstenha de comer, beber e alegrar-se? Os seus discípulos não estão mais no tempo da tristeza e do jejum de comida e bebida, esperando o esposo. Eles estão com o esposo, portanto no tempo da festa, da comida, da bebida e da alegria permanentes.

Os discípulos de Jesus aceitaram o convite do esposo e já estão desfrutando dos verdadeiros prazeres messiânicos. Eles aceitaram a nova aliança proposta por Jesus, que lhe dá o direito de viver a vida com alegria e festa, sem maiores jejuns alimentares.

Jesus contou-lhes ainda duas parábolas: “Ninguém tira retalho de roupa nova para fazer remendo em roupa velha; senão vai rasgar a roupa nova, e o retalho novo não combinará com a roupa velha. Ninguém coloca vinho novo em odres velhos; porque, senão, o vinho novo arrebenta os odres velhos e se derrama; e os odres se perdem. Vinho novo deve ser colocado em odres novos. E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo; porque diz: o velho é melhor.” (Lc 5,36-39).

Com as duas parábolas: do retalho novo em roupa velha e do vinho novo e odres velhos, Jesus denuncia a prática dos fariseus que costuravam alguns panos novos (jejum e orações) em cima da sua vida velha e viciada no roubo e na hipocrisia. Jesus afirma que estamos em novo tempo. Tempo de roupa nova (vida nova), tempo de barris novos para conter vinho novo da alegria da Nova Aliança com o esposo, que é Ele mesmo.
Com essas parábolas Jesus não apenas denunciava a vida errada que muitos do seu tempo levavam e procuravam maquiar com algumas ações boas. Mais do que isso, Ele estava lançando um forte convite à conversão e mudança de vida. Convidava a todos para a alegria e a festa da Nova Aliança trazida por Ele e não apenas um grupinho de privilegiados.

Queridos irmãos! Essa Palavra de Jesus não era apenas para os contemporâneos de Jesus, mas é para mim e para você, que estamos lendo, meditando e rezando. Ela nos convida a superar a mania de colocar pequenos remendos novos em nossa vida velha, egoísta, gananciosa, mais preocupada em observar se os outros fazem ou não jejum, se rezam etc. etc. Ela nos convida a sermos pessoas novas, odres novos, para receber o vinho novo da alegria verdadeira trazido por Jesus.

Eu não posso mais continuar a fazer jejuns de alguma comida e de alguma bebida em alguns momentos e continuar embriagando-me com o vinho do egoísmo, da preguiça, da inveja, do julgamento, da condenação, do prazer egoísta, da mentira e da vaidade. Agrada a Deus que eu seja uma pessoa nova para acolher a Nova Aliança trazida pelo seu Filho Jesus. Agrada a Deus que eu viva constantemente a alegria da Nova Aliança com o meu Esposo Jesus, que deseja estar sempre comigo. Agrada a Deus que me abstenha dos meus interesses humanos e egoístas e me torne administrador dos mistérios do amor de Deus, conforme nos orienta S. Paulo na carta aos coríntios (Cor 4,1).

O coração do marido se alegra quando a esposa faz jejum de toda a fofoca, de toda a inveja, de todo o ressentimento, do comodismo e da preguiça e se torna zelosa e cuidadora da Igreja Doméstica, isto é, da família. O coração de Jesus se alegra quando eu e você, meu querido irmão (ã) nos revestimos da beleza do nosso esposo Jesus e como odres novos carregamos o vinho da alegria, trazido por Ele, para que a nossa vida seja um convite à alegria permanente, que se plenificará no banquete do Paraíso.


Dentro desse novo jeito de viver cabe também o jejum de comida e bebida não apenas por vaidade pessoal ou por imposição legal, mas por solidariedade amorosa com os meus irmãos e irmãs que possuem bem menos do que eu. Cabe inclusive o jejum como manifestação do zelo que tenho para com a Igreja de Jesus, que é o meu corpo, para carregar o Vinho da Alegria com mais entusiasmo até os meus irmãos e irmãs, começando em minha casa. 




Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR