Em tempo de obesidade de
mais de 50% da população brasileira, inclusive nas favelas, falar em jejum pode
ser uma ideia interessante do ponto de vista daqueles que desejam recuperar a
sua forma atlética. Abster-se de alguns alimentos com forte teor nutricional e
limitar a ingestão de comida em alguns dias da semana é uma boa medida para
manter a própria saúde e, até mesmo, para recuperá-la.
No Evangelho aparecem
algumas pessoas questionam a Jesus: Eles
disseram-lhe: “Os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam com
frequência e fazem orações, mas os teus discípulos comem e bebem”. Jesus,
então, lhes disse: “Podeis obrigar os convidados do casamento a jejuar,
enquanto o noivo está com eles? Mas dias virão em que o noivo será tirado do
meio deles. Então, naqueles dias, eles jejuarão” (Lc 5,33-35).
Notem que eles
questionam por que os discípulos de Jesus não faziam jejum de comida e bebida,
enquanto que os de João Batista e dos fariseus faziam-no rigorosamente, por
imposição legal. Diante disso, Jesus afirma que os seus discípulos estavam
vivendo um tempo novo, isto é, um tempo de núpcias e de festa. Estavam
alegrando-se com a presença do esposo, prometido no Antigo Testamento, que era
Ele mesmo. Diante disso, como exigir que alguém se abstenha de comer, beber e
alegrar-se? Os seus discípulos não estão mais no tempo da tristeza e do jejum
de comida e bebida, esperando o esposo. Eles estão com o esposo, portanto no
tempo da festa, da comida, da bebida e da alegria permanentes.
Os discípulos de
Jesus aceitaram o convite do esposo e já estão desfrutando dos verdadeiros
prazeres messiânicos. Eles aceitaram a nova aliança proposta por Jesus, que lhe
dá o direito de viver a vida com alegria e festa, sem maiores jejuns
alimentares.
Jesus
contou-lhes ainda duas parábolas: “Ninguém
tira retalho de roupa nova para fazer remendo em roupa velha; senão vai rasgar
a roupa nova, e o retalho novo não combinará com a roupa velha. Ninguém coloca
vinho novo em odres velhos; porque, senão, o vinho novo arrebenta os odres
velhos e se derrama; e os odres se perdem. Vinho novo deve ser colocado em
odres novos. E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo; porque diz:
o velho é melhor.” (Lc 5,36-39).
Com as duas
parábolas: do retalho novo em roupa velha e do vinho novo e odres velhos, Jesus
denuncia a prática dos fariseus que costuravam alguns panos novos (jejum e
orações) em cima da sua vida velha e viciada no roubo e na hipocrisia. Jesus
afirma que estamos em novo tempo. Tempo de roupa nova (vida nova), tempo de
barris novos para conter vinho novo da alegria da Nova Aliança com o esposo,
que é Ele mesmo.
Com essas
parábolas Jesus não apenas denunciava a vida errada que muitos do seu tempo
levavam e procuravam maquiar com algumas ações boas. Mais do que isso, Ele
estava lançando um forte convite à conversão e mudança de vida. Convidava a
todos para a alegria e a festa da Nova Aliança trazida por Ele e não apenas um
grupinho de privilegiados.
Queridos irmãos!
Essa Palavra de Jesus não era apenas para os contemporâneos de Jesus, mas é
para mim e para você, que estamos lendo, meditando e rezando. Ela nos convida a
superar a mania de colocar pequenos remendos novos em nossa vida velha,
egoísta, gananciosa, mais preocupada em observar se os outros fazem ou não jejum,
se rezam etc. etc. Ela nos convida a sermos pessoas novas, odres novos, para
receber o vinho novo da alegria verdadeira trazido por Jesus.
Eu não posso
mais continuar a fazer jejuns de alguma comida e de alguma bebida em alguns momentos
e continuar embriagando-me com o vinho do egoísmo, da preguiça, da inveja, do
julgamento, da condenação, do prazer egoísta, da mentira e da vaidade. Agrada a
Deus que eu seja uma pessoa nova para acolher a Nova Aliança trazida pelo seu
Filho Jesus. Agrada a Deus que eu viva constantemente a alegria da Nova Aliança
com o meu Esposo Jesus, que deseja estar sempre comigo. Agrada a Deus que me
abstenha dos meus interesses humanos e egoístas e me torne administrador dos
mistérios do amor de Deus, conforme nos orienta S. Paulo na carta aos coríntios
(Cor 4,1).
O coração do
marido se alegra quando a esposa faz jejum de toda a fofoca, de toda a inveja,
de todo o ressentimento, do comodismo e da preguiça e se torna zelosa e
cuidadora da Igreja Doméstica, isto é, da família. O coração de Jesus se alegra
quando eu e você, meu querido irmão (ã) nos revestimos da beleza do nosso
esposo Jesus e como odres novos carregamos o vinho da alegria, trazido por Ele,
para que a nossa vida seja um convite à alegria permanente, que se plenificará
no banquete do Paraíso.
Dentro desse
novo jeito de viver cabe também o jejum de comida e bebida não apenas por
vaidade pessoal ou por imposição legal, mas por solidariedade amorosa com os
meus irmãos e irmãs que possuem bem menos do que eu. Cabe inclusive o jejum
como manifestação do zelo que tenho para com a Igreja de Jesus, que é o meu
corpo, para carregar o Vinho da Alegria com mais entusiasmo até os meus irmãos
e irmãs, começando em minha casa.
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