terça-feira, 9 de setembro de 2014

A CORREÇÃO FRATERNA



Estamos num tempo em que temos medo de interferir na vida do outro e da outra para proceder algumas correções. Temos o caso da professora que chamou a atenção do aluno na busca de orientá-lo para que tivesse atitudes mais respeitosas na sala de aula. O resultado foi que o aluno a esfaqueou pelas costas enquanto estava escrevendo no quadro negro. O próprio governo interfere na família legislando que os pais não podem dar uma palmadinha para corrigir o filho. Será que é competência do governo ou da família legislar sobre isso? Os nossos presídios são ambientes de formação de bandidos e revoltados mais do que espaços de correção para a integração na sociedade. Além do mais o preso é remunerado, quase que fomentando o delito. Entendemos que essas coisas todas dificultam a correção em vez de favorecê-la.

Por outro lado, a Bíblia, que é a carta magna dos cristãos, nos orienta e incentiva para a responsabilidade e a corresponsabilidade para com a vida do nosso irmão e da nossa irmã. Essa responsabilidade implica na correção do outro quando observamos que ele anda nos caminhos da mentira e do erro. O profeta Ezequiel afirma que Deus vai pedir contas a nós do irmão que vimos errando e não o ajudamos na correção e mudança de vida (cf Ez33-7-9). No início da Bíblia o próprio Deus pede a Cain contas do seu irmão Abel, pois Ele nos criou um para cuidar do outro (cf. Gn 4,1-16).

Talvez importe pensar um pouco na forma como cuidamos e corrigimos. A experiência nos mostrou muitas loucuras nesses aspectos da vida. Vimos pais machucando os filhos com agressões, maridos batendo em esposas e vice-versa, casais esbravejando um com o outro em público, educadores gritando com educandos, etc. Tudo isso, podem ser atitudes com boas intenções, mas que não são boas atitudes na correção. Mais do que corrigir agravam a situação gerando revolta e desejo de vingança. Não é suficiente ter boas intenções e necessário ter atitude que favoreçam a correção fraterna e o crescimento para a liberdade responsável.

Normalmente uma criança ou um jovem quando é agredido ele pode pensar que os adultos agridem e batem porque são grandes e não porque amam. Com essas experiências pode cultivar a ideia que quando crescer ele também poderá bater nos mais fracos como fizeram com ele. Com isso, se cultiva um circulo vicioso agressivo, fomentador das pequenas e grandes guerras, muito pouco corretivo.

O Evangelho de Mateus ( Mt 18,15-17) apresenta dicas preciosas  na pedagogia da correção. Afirma que se alguém comete algum pecado contra nós devemos corrigi-lo inicialmente a sós. Aproveitar quando a pessoa está sozinha e jamais corrigi-la em público ou no meio do seu grupo de amigos. Além disso, importa muito também o momento e a forma de abordagem da pessoa errada. Normalmente não podemos tentar corrigir alguém no olho do furacão, isto é, quando as tensões estão à flor da pele. É sábio esperar o momento da calma e da serenidade. A forma de abordagem também pode ajudar, ou seja, não julgar, mas ajudar a pessoa a dar-se conta da sua falha à luz do amor. Procedendo assim, certamente os resultados da correção fraterna serão muito melhores.

Claro que há casos em que as pessoas erradas não admitem que estão no erro e se recusam a mudar de atitude. Diante disso, há o recurso da ajuda de mais pessoas cheias de autoridade, isto é, de amor, de serviço e bom comportamento que podem auxiliar no resgate daqueles que se obstinam no erro e no pecado. A força da comunidade é muito grande na recuperação da ovelha perdida.

Em suma, aquele que entende a palavra de S. Paulo aos cristãos de Roma: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei” (Rm 13,8) não se omite diante do erro de um irmão, ao contrário, faz de tudo para recuperá-lo, pois o amor exige isso. O marido que ama não se cansa de buscar a correção da sua esposa e a esposa amorosa é incansável na busca da santidade do marido. Os pais que vivem a única lei trazida por Jesus, que é o amor, corrigem os filhos e os auxiliam a trilharem o caminho que leva à verdade e à vida. O padre corrige a sua igreja e esta auxilia o mesmo na sua correção, sem mais necessidade das fofocas, danosas para todos. 





Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

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