A tendência humana é fazer
bem aos que nos fazem bem e fazer mal aos que nos prejudicam. Quando alguém
começa falar mal de nós, geralmente descobrimos os seus defeitos e começamos
falar mal dele também. Diante de alguém que nos agride e prejudica,
impulsivamente tendemos a devolver-lhe o troco, buscando formas de prejudicá-lo
e agredi-lo também. Em suma, diante dos maus nos tornamos maus também.
Com esse jeito de reagir ao
mal, nós estamos alimentando o círculo vicioso da maldade e da guerra que
vitima milhões e milhões de seres humanos. Para certificar-nos disso, basta que
estudemos um pouco da história da humanidade e logo veremos rios de sangue
correndo pelos vales e montanhas do nosso planeta.
Cansado desse banho de
sangue sobre a terra, Deus enviou o seu Filho Jesus para ensinar-nos um novo
jeito de reagir ao mal. Um jeito que quebra as pernas à maldade e a condena ao
ostracismo. Ele nos ensina esse novo jeito dizendo: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os
que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma
bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa
levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não
peças que o devolva” (Lc 6, 27-30).
Através desse ensinamento
cristão podemos avaliar o quanto nós somos cristãos ou ainda reagimos como
pagãos. Certamente que o impulso humano permanece em nós e instintivamente
reagimos querendo o mal dos maus e o bem dos bons, mas Jesus está convidando a
todos nós evangelizarmos os nossos impulsos primários a fim de assumirmos a
nossa identidade cristã. Identidade esta que nos leva à firme decisão de fazer
bem a todos como o nosso Pai, que está no Céu.
Por que fazer o bem a todos,
se eles não merecem? Fazer o bem a todos em primeiro lugar porque somos filhos
de Deus e herdeiros do Céu. Fazer o bem porque o bem que penso, quero e faço,
me faz bom e revela que sou filho do Bom, isto é, de Deus e não do mal. Fazer o
bem aos que fazem mal porque eles ainda são carnais e não descobriram o quanto
é bom ser bom e fazer o bem. Fazer o bem porque diante da luz do bem, poderão
tomar consciência da sua maldade e feiura e serem atraídos para a beleza da
bondade.
Por que rezar por aqueles
que nos caluniam? Porque com isso, mostramos ao mundo que somos filhos de Deus
e não filhos da fofoca e da maldade. Ao rezarmos por aqueles que nos caluniam
estamos curando o nosso coração que pode estar machucado por conta da calúnia e
da fofoca. Mais uma vez gritaremos alto que somos filhos de Deus que procura
fazer bem a todos e não apenas aos bons. Se levarmos em conta a força
transformadora da oração fervorosa certamente nos empenharemos para rezar por
aqueles que mais necessitam, isto é, para os pecadores.
Por que oferecer a túnica
àquele que nos tira o manto? Para revelar ao mundo que o nosso bem verdadeiro
ninguém tira. O cristão que tem identidade forte é aquele que vendeu todos os
bens deste mundo para ficar com o Tesouro, que é Deus. Usa de todos os bens,
mas está desapegado e livre para seguir os passos do seu bem maior. Diante
dessa descoberta S. Francisco foi capaz de deixar o único manto nas mãos do pai
avarento e partir pelado com o Bem maior, isto é, com Deus.
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