Naturalmente quando desejamos
ver melhor subimos numa montanha, colina, prédio ou árvore. Dificilmente
entramos num buraco ou num vale profundo. Lá do alto o nosso olhar atinge o
horizonte, passeia pelos vales e planícies. Normalmente sentimo-nos poderosos e
por cima da carne seca, como diz um amigo meu de São Paulo.
Lendo e meditando o Evangelho de
Lucas encontramos a passagem do cobrador de impostos Zaqueu ( Lc 19,1-10 ).
Nela podemos ver Zaqueu subindo na árvore para poder ver melhor a Jesus que ia
passando pela sua cidade. Quando Jesus o vê empoleirado na árvore para realizar
o seu sonho de ver Jesus aparece a novidade do Evangelho, sobre a qual desejo
falar um pouco.
Em
primeiro lugar, é preciso desejar ver a Jesus. Aliás, esse desejo já está no nosso DNA. Uma
vez que essa decisão é real, a oportunidade aparece, pois Deus que é Amor,
sempre toma a iniciativa. Antes de nós existirmos Deus já pensou em nós. O
Filho de Deus vê a cada um de nós e procura valorizar-nos. A iniciativa é de Deus.
Ele nos vê primeiro e conhece a cada um de nós. Quem ama toma a iniciativa.
Jesus vê a Zaqueu que está em cima da árvore.
Em
Segundo lugar, Jesus pede para o cobrador de impostos, que
deseja vê-lo, que desça da árvore. O
significa mesmo descer da árvore? Encontramos outro texto do mesmo Evangelho
que vem em nosso socorro, ou seja, o do Bom Samaritano (Lc 10,29-37). Somente o
Samaritano que teve a coragem de descer do seu cavalo e postar-se junto ao
necessitado, comtemplou verdadeiramente o rosto de Jesus. O Sacerdote e o
Levita ficaram sobre seus cavalos e não viram o Mestre.
Os nossos cavalos e as nossas
árvores podem ser mecanismos de fuga do povo e não ferramentas que nos colocam
a serviço dele. Podem ser cavalos, árvores, títulos, cargos que ocupamos nas
empresas e comunidades. Se subirmos neles para nos afastar ou oprimir os demais,
seguramente eles cegam nossos olhos e impedem-nos de ver Jesus. Por isso, Jesus nos convida a descer dos
nossos postos para estar junto do povo para servi-lo, como ele mesmo fez
deixando a sua glória para assumir a nossa humanidade a fim de elevá-la.
Mas, para que isso realmente o
corra é preciso ter uma terceira atitude,
isto é, decisão firme de hospedar a
Jesus em nossa casa, ou seja, em nosso coração. Sem isso, os títulos e
cargos cegarão os nossos olhos. Zaqueu desceu e hospedou Jesus. Hospedou e se
tornou discípulo para ouvir o seu ensinamento. Uma vez convertido a Jesus ele
decidiu devolver quatro vezes mais o que tinha roubado e se colocar a serviço
dos necessitados, contemplando o rosto do Senhor em cada pessoa humana. De
opressor dos irmãos ele passa a ser servidor dos mesmos, seguindo os passos do
Mestre Jesus.
Queridos leitores! Peçamos a
graça de querer contemplar o rosto de Jesus. Para isso precisamos ouvir a voz
dele que nos pede para não nos empoleirar nos nossos postos e títulos, mas
descer para o meio do povo e usar deles para servir e promover os mais fracos e
necessitados.
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR
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