Instintivamente o ser humano
tende a apegar-se como estratégia de sobrevivência humana. Apega-se à mãe, aos
familiares, à sua boneca, ao seu brinquedo, à sua namorada, à terra, aos bens e
à própria vida. Quanto mais possui experimenta uma sensação de poder e
felicidade. Sente-se o dono do seu pedaço. Psicologicamente isso é bom e gera
segurança e autoestima.
Sem negar essa realidade
humana, Jesus aparece e convida o seu irmão e a sua irmã a caminhar para águas
mais profundas. Convida a confiar em Deus mais do que nas coisas e nos bens
terrenos. Apresenta o desapego como o único caminho da liberdade. Quando nada e
ninguém prende a pessoa, ela está livre para amar a Deus e as pessoas.
O
apego gera a corrupção e tira a alegria e a esperança da vida,
nos advertiu o Papa Francisco na homilia de ontem. O indivíduo que põe a sua
segurança nos bens terrenos é capaz de ações torpes e desumanas para assegurar
a posse dos mesmos e até de extorquir o irmão e a irmã. Essas ações mesmas denunciam a pessoa e a
tornam cada vez mais insegura e triste. Perde a liberdade além de prejudicar
fortemente os seus irmãos. As posses e riquezas lhe roubam a alegria e o
caminho para o Céu. O jovem rico, apesar do olhar bondoso de Jesus e do convite
ao desapego ele ficou preso aos bens e foi embora triste ( cf Mc 10,17-27). Que
pena! Possuem apenas dinheiro e bens que deixarão aqui para os filhos, netos e
advogados disputarem, por ocasião da sua partida para a casa do Pai.
O
desapego, em contra partida, vai libertando aquele grude natural e
primário do ser humano, próprio da criança. Na medida em que a pessoa vai conhecendo
o Evangelho de Jesus vai tomando consciência que a sua habitação final não é a
terra, mas sim o coração de Deus. Para caminhar com mais liberdade para Deus
será capaz de utilizar de todos os bens da terra, criaturas de Deus, sem, contudo,
endeusa-los, ou seja, apegar-se a eles. Nenhum bem terreno a impedirá de ouvir
a voz do seu amado. No desapego experimentará a liberdade de ir e vir, de amar
e ser amado.
Na
liberdade, poderá responder com generosidade aos chamados de Deus. Nada e ninguém a impedirá de ouvir a voz do
seu amado. O menino Samuel ouviu o chamado do Senhor apesar da surdez do
sacerdote Eli, que o mandava dormir. Ele responde: “Fala Senhor que teu servo
te ouve" (cf 1 Sm 3). Maria ouviu o chamado do Senhor apesar de
comprometida com José e respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor” (cf Lc
1,26-38). Camilo de Lellis depois de contemplar o Crucifixo no hospital
compreendeu que Deus o queria lá e deixou tudo para lá ficar a serviço dos
enfermos.
Pedro, João, André, Tiago,
Tadeu... ao ouvirem o chamado de Jesus deixaram redes, barcos, pai, mãe,
irmãos, tudo e o seguiram. Deixaram a praia e corajosamente caminharam para as
águas mais profundas do Amor de Deus e dos irmãos. Nessa opção preferencial
para Jesus saborearam a liberdade e a alegria do Evangelho. Além disso,
herdaram milhares de filhos, irmãos, pais, mães e ainda a certeza da vida
eterna ( cf Mc 10,28-31).
Peçamos, caros leitores, a
graça da libertação do apego infantil. Que o amor de Deus nos liberte de tudo e
de todos para que possamos ouvir a sua voz! Mais do que isso, para que possamos
seguir os seus apelos e assim construir uma história de amor e bondade,
consagrando a nossa vida e os nossos bens para isso.
Pe. Arlindo Toneta - MI
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