terça-feira, 26 de maio de 2015

DEIXAR TUDO


Instintivamente o ser humano tende a apegar-se como estratégia de sobrevivência humana. Apega-se à mãe, aos familiares, à sua boneca, ao seu brinquedo, à sua namorada, à terra, aos bens e à própria vida. Quanto mais possui experimenta uma sensação de poder e felicidade. Sente-se o dono do seu pedaço. Psicologicamente isso é bom e gera segurança e autoestima.
Sem negar essa realidade humana, Jesus aparece e convida o seu irmão e a sua irmã a caminhar para águas mais profundas. Convida a confiar em Deus mais do que nas coisas e nos bens terrenos. Apresenta o desapego como o único caminho da liberdade. Quando nada e ninguém prende a pessoa, ela está livre para amar a Deus e as pessoas.
O apego gera a corrupção e tira a alegria e a esperança da vida, nos advertiu o Papa Francisco na homilia de ontem. O indivíduo que põe a sua segurança nos bens terrenos é capaz de ações torpes e desumanas para assegurar a posse dos mesmos e até de extorquir o irmão e a irmã.  Essas ações mesmas denunciam a pessoa e a tornam cada vez mais insegura e triste. Perde a liberdade além de prejudicar fortemente os seus irmãos. As posses e riquezas lhe roubam a alegria e o caminho para o Céu. O jovem rico, apesar do olhar bondoso de Jesus e do convite ao desapego ele ficou preso aos bens e foi embora triste ( cf Mc 10,17-27). Que pena! Possuem apenas dinheiro e bens que deixarão aqui para os filhos, netos e advogados disputarem, por ocasião da sua partida para a casa do Pai.

O desapego, em contra partida, vai libertando aquele grude natural e primário do ser humano, próprio da criança. Na medida em que a pessoa vai conhecendo o Evangelho de Jesus vai tomando consciência que a sua habitação final não é a terra, mas sim o coração de Deus. Para caminhar com mais liberdade para Deus será capaz de utilizar de todos os bens da terra, criaturas de Deus, sem, contudo, endeusa-los, ou seja, apegar-se a eles. Nenhum bem terreno a impedirá de ouvir a voz do seu amado. No desapego experimentará a liberdade de ir e vir, de amar e ser amado. 
Na liberdade, poderá responder com generosidade aos chamados de Deus.  Nada e ninguém a impedirá de ouvir a voz do seu amado. O menino Samuel ouviu o chamado do Senhor apesar da surdez do sacerdote Eli, que o mandava dormir. Ele responde: “Fala Senhor que teu servo te ouve" (cf 1 Sm 3). Maria ouviu o chamado do Senhor apesar de comprometida com José e respondeu: “Eis aqui a serva do Senhor” (cf Lc 1,26-38). Camilo de Lellis depois de contemplar o Crucifixo no hospital compreendeu que Deus o queria lá e deixou tudo para lá ficar a serviço dos enfermos.
Pedro, João, André, Tiago, Tadeu... ao ouvirem o chamado de Jesus deixaram redes, barcos, pai, mãe, irmãos, tudo e o seguiram. Deixaram a praia e corajosamente caminharam para as águas mais profundas do Amor de Deus e dos irmãos. Nessa opção preferencial para Jesus saborearam a liberdade e a alegria do Evangelho. Além disso, herdaram milhares de filhos, irmãos, pais, mães e ainda a certeza da vida eterna ( cf Mc 10,28-31).

Peçamos, caros leitores, a graça da libertação do apego infantil. Que o amor de Deus nos liberte de tudo e de todos para que possamos ouvir a sua voz! Mais do que isso, para que possamos seguir os seus apelos e assim construir uma história de amor e bondade, consagrando a nossa vida e os nossos bens para isso.   






Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR 

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