Estando Jesus em oração disse:
“Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique...
e dê a vida eterna a todos aqueles que lhe confiaste” (Jo 17,1-2). Chegou a
hora de partir desse mundo para a casa do Pai. Parece que Jesus está um tanto
ansioso para retornar ao Pai. Sabe que esse retorno se dará através de uma
traição, de um julgamento iniquo e a consequente condenação à morte, mas não
foge da cruz. Não se omite de dar a vida em resgate dos irmãos e irmãs. No meio
de um grande sofrimento humano, aceita esse cálice para manifestar o imenso
amor do Pai e resgatar os seus irmãos.
Nesta oração sacerdotal, que
envolve todo o capítulo 17 do Evangelho de João, Jesus vai mostrando onde está
o seu coração. Ele revela onde está o seu tesouro. Não está no ouro ou na prata.
Não está no vínculo familiar com a mãe ou nos irmãos e também não está na
própria vida. Não deixa margem para dúvidas.
O seu tesouro está no Pai e na missão a ele confiada. De onde brotam essas
duas certezas?
Ao percorremos os evangelhos
logo nos damos conta que Jesus estava em constante
sintonia com o Pai. Em João 4 ele afirma que o seu alimento é fazer a
vontade do Pai (cf Jo 4,34). Quando ele ensina os discípulos a rezar ele começa
dizendo: “Pai nosso”. Na ressurreição de Lázaro ele reza: “Pai, sei que sempre
me ouves” (Jo 11,42). Na oração sacerdotal, objeto da nossa reflexão ele diz:
“Eu e o Pai somos um” (Jo 17,22), além de invocá-lo seis vezes. Isso apenas
para acenar para alguns exemplos dos muitos que são citados pelos evangelhos.
Fica bem claro que a sua vida girava em torno do Pai.
Nenhuma ocupação com as coisas do mundo lhe tirou esse foco. Estava
constantemente ligado no Pai. Nele encontrava a sua força para agir, para
ensinar, para curar, e também para enfrentar as cruzes que foram pontilhando a
sua caminhada, até a derradeira cruz do calvário. Com esse centro firmemente
consolidado não se apavora diante da morte, mas confia no Pai que o glorificará
junto a si.
Olhando um pouco para nós,
seus irmãos, não sentimos essa firmeza diante da hora, ou seja, da hora de
passar deste mundo para o Pai. Parece que não desenvolvemos laços de intimidade
com o Pai e consequentemente essa hora apavora a muitos cristãos. Sempre que
possível evitamos o assunto. Parece que nos falta a confiança no Pai cultivada
e vivida por Jesus de Nazaré.
A sua oração não é um louvor
alienante e sem compromisso, mas nela resplandece o seu amor pelos homens e
pelas mulheres. A sua oração revela o carinho que tinha pelos seus implorando
ao Pai que os preservasse do mal e os conduzisse à glória junto com eles.
Aliás, a sua vida prática confirma a sua oração comprometida com os seus
irmãos. Em vida tudo fez para livrar as pessoas do mal e do pecado. Chegou ao
extremo de dar a sua vida e todo o seu sangue para manifestar às pessoas de boa
vontade a capacidade de amor do Pai. Por amor ao Pai e às pessoas não fugiu do
sofrimento e da cruz, mas os enfrentou corajosamente, certo que o amor teria a
última palavra.
Queridos leitores! Na oração
sacerdotal, Jesus revela que o amor ao Pai e o amor aos irmãos fazem parte da
sua cruz redentora. Ao mesmo tempo ensina a nós seus seguidores que o caminho
da missão permanente passa por esses dois eixos centrais da vida cristã. Sem o
amor a Deus não haverá o compromisso com os irmãos. O interesse pelas pessoas,
sem vínculo com o Pai, pode ser manipulação em vista de interesses pessoais.
Pe. Arlindo Toneta - MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança - Pinhais - PR
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