No tempo de Jesus havia uma
gama imensa de leis, isto é, mais de setecentas, para orientar o povo a
respeito do que podia e daquilo que não podia ser feito por um judeu ortodoxo.
Mais de quatrocentas eram negativas e as demais eram positivas. Notem a
predominância do negativo e proibitivo. Claro que havia os que punham em prática todas
elas, pelos menos ao pé da letra, e eram chamados de ortodoxos, mas a maioria
do povo observava algumas e ignoravam as demais, como acontece em todas as
civilizações.
Como judeu Jesus nasceu e
cresceu nesse ambiente permeado por essa gama de normas e orientações de vida. Porém,
Ele não se deixou enredar por elas não. Ele foi crescendo em idade, sabedoria e
graça diante de Deus e diante dos homens. Pouco a pouco foi apresentando a lei
que ele estava disposto à por em prática. Para concretizá-la mostrou a
disposição de relativizar a toda lei ou orientação judaica que não favorecia a
sua realização.
Desde muito jovem estava no
templo discutindo com os escribas e fariseu a respeito da lei que o seu Pai
queria que os judeus e todos os demais povos pusessem em prática. Podemos
imaginar os embates que surgiram entre ele e aqueles doutores, que sabiam tudo
e mais um pouquinho das leis judaicas. Conheciam a lei pela lei, mas muitos
deles ignoravam o Espírito da Lei, que teve o berço em Moisés.
Em torno dos seus 30 anos,
após ser batizado por João Batista, Jesus iniciou a vida pública e logo foi
revelando qual lei o Pai queria que pusesse em prática. Em primeiro lugar ele
se encarnou numa pessoa humana para assinalar que o centro do mundo era o homem
e não as normas e leis. No dia-a-dia foi revelando que o amor às pessoas era a
lei que o Pai lhe havia confiado realizar. Por conta disso, não possuía uma
agenda, mas sim, as necessidades dos seus irmãos e irmãs ao seu redor.
Na prática, estava sempre
disposto a atender as necessidades dos que o rodeavam e mesmo dos que estavam
distantes, quando alguém o suplicava, como no caso do servo do centurião
romano. Para fazer bem às pessoas não havia hora, dia ou noite, sábado ou
domingo. Foi mostrando que a pessoa está acima da lei, que a lei deve estar a
serviço da pessoa e não o contrário. A lei é ferramenta para o amor à pessoa,
uma vez que Deus não precisa do nosso amor. Ele é autossuficiente e não
necessita das nossas orações. Nós precisamos nos conectar a Ele para recebermos
a ceiva amorosa, como o ramo a recebe do tronco, que nos possibilita fazer leis
que ajudem a melhor amar a pessoas, particularmente as mais necessitadas.
Portanto, queridos leitores,
a lei que Jesus estava disposto a por em prática era o amor às pessoas. Amor
esse que o levava a ter atitudes duras com os judeus que colocavam a lei acima
do bem das pessoas. Não tinha dúvida de infringir a lei judaica do sábado que
não permitia curar pessoas naquele dia, mas permitia tirar um boi que caia na
cisterna (cf. Lc 14,1-6). Jesus fazia curas, expulsava demônios, multiplicava
pães, acalmava tempestades, ressuscitava mortos e fazia toda sorte de bem em
qualquer dia da semana, revelando que a lei que agrada ao Pai era o amor
serviçal e libertador direcionado aos seus filhos e filhas.
Queridos leitores! Peçamos a
graça de assimilar bem essa verdade revelada por Jesus no decorrer de toda a
sua vida. Graça essa acolhida por S. Paulo, particularmente na estrada de
Damasco, e incentivada na carta aos Filipenses quando a eles escreveu dizendo: “E isto eu peço a Deus: que o vosso amor
cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernir o que
é melhor” (Fip. 1,9s). Por outro lado, não tenhamos medo de por em cheque
todas as leis e normas que dificultam esse amor serviçal e libertador dos
nossos irmãos e das nossas irmãs.
Pe. Arlindo Toneta - MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança - Pinhais - PR
Pe. Arlindo Toneta - MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança - Pinhais - PR