Observando a realidade da vida
nós víamos o papai colocando um cabresto na mula e após isso ele conseguia
conduzi-la para onde ele queria, sem maiores dificuldades. Nessa mesma direção
alguns pensam a religião como um cabresto que é colocado nas pessoas para
melhor manipulá-las, segundo os seus interesses.
Se por um lado existam
segmentos religiosos que pensam e agem desse modo, a religião proposta pela
Bíblia católica não é assim não. Senão, vejamos alguns exemplos retirados da
Liturgia da Palavra do décimo primeiro domingo do tempo comum.
Na primeira leitura (Js
24,1-2.15-18), Josué propõe ao povo escolher a quem quer servir. Apresenta as
diversas possibilidades e as pessoas devidamente esclarecidas optam para servir
ao Senhor que as acompanha na caminhada, orientando-as e auxiliando-as sem
mentiras e enganações. Portanto, na liberdade escolhem o seu Deus e aceitam
vivenciar as suas orientações porque são verdades libertadoras e não apenas
freios para subjuga-los.
No evangelho (Jo 6,60-69)
diante das exigências do seu seguimento, Jesus deixa os seus discípulos livres
para segui-lo ou para abandoná-lo. Diante disso, alguns partiram para outros
caminhos, porque procuravam uma religião fácil, mesmo que mentirosa e
enganadora. Pedro, porém, movido pelo Espírito de Deus toma a palavra e afirma
que só Jesus tinha palavras de vida eterna. Por isso mesmo, na liberdade, se
dispõe a segui-lo onde quer que vá porque Jesus e suas palavras traziam
liberdade e vida eterna para ele e não apenas consolação momentânea.
Portanto, queridos irmãos, a religião proposta por Jesus não tem o objetivo de manipular ninguém, mas é o
caminho da libertação que torna as pessoas livres para os valores eternos que
se encarnam, particularmente, na acolhida e cuidado amorosos dos irmãos,
especialmente dos mais necessitados. Por
isso, mesmo a verdadeira religião não se restringe a encantamento, louvação,
roda de amigos, mas conduz à acolhida do órfão, da viúva, dos doentes, do fraco
e do indigente.
Além disso, a verdadeira
religião não edifica uma Igreja voltada para si mesma, mas voltada para fora.
Uma Igreja que sai de si mesma e vai ao encontro do outro que está nas
periferias da vida. De modo especial, investe na formação de pessoas livres e
corajosas para sair de si mesmas e irem ao encontro dos doentes, dos idosos,
dos indefesos, dos presos, dos sem dignidade, para acolhê-los e envolvê-los de
cuidados.
A religião proposta por Jesus
conduz as pessoas para a missão. Uma vez que as pessoas experimentam a Jesus e
a consistência da sua Palavra elas renascem para uma vida nova. Vida esta, não
mais voltada para si e para interesses egoístas, para a religião das
facilidades, mas sempre para os outros, apesar das dificuldades. Nesse sentido,
o marido será capaz de viver para a esposa e a esposa para o seu marido por
amor, isto é, na escolha livre e não por imposição coercitiva. O marido será
capaz de considerar a esposa sempre mais digna do que a si mesmo e, portanto,
servi-la como se estivesse servindo o próprio Cristo e, por sua vez, a esposa
será capaz de fazer o mesmo com o esposo (cf Ef 5,21-32).
Em suma, a religião de Jesus
não é um cabresto para dominar e conduzir homem e mulheres. Ela é o caminho
verdadeiro que conduz as pessoas à libertação do egoísmo e as habilita para
Amar a Deus, que as acompanha pelas estradas da vida, e aos irmãos de
caminhada, especialmente os mais fracos e necessitados.
Pe. Arlindo Toneta - MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR
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