Em tempos idos os cachorrinhos
comiam as migalhas que caiam das mesas de seus donos ou que alguém, mais
afeiçoado com os bichinhos, repartia com eles. Essa era a dura realidade dos
animais, mesmo nas casas das pessoas mais abastadas.
Uma mulher cananeia, que
conhecia essa realidade dos animais, se aproximou de Jesus suplicando que a
atendesse à semelhança dos cachorrinhos, ou seja, contentando-se com um
pouquinho da atenção de Jesus. Não estava pedindo nenhuma audiência particular,
ou um lugar de destaque ao seu lado, como fez a mãe dos discípulos Tiago e
João, mas apenas uma migalha do seu tempo e da sua atenção em benefício da
filha, atormentada pelo mal. Diante da sua humildade e perseverança, Jesus a
atende destacando a sua grande fé (cf Mt 15,21-28). Jesus não lhe deu apenas
migalhas, mas a atendeu como filha amada de Deus.
Hoje a realidade dos cachorros
melhorou muito. Basta olhar em volta e logo os encontramos sendo carregados no
colo por belas damas, passeando pelos jardins e avenidas. Frequentemente nos
deparamos com festas de aniversário com direito a bolos e outras tira-gostos
para esses amigos do homem, dos idosos e das crianças. Que bom que a vida para
eles melhorou muito!
Em contrapartida, vemos
inúmeros irmãos e irmãs atormentados pelo mal do abandono e do descaso suplicando
migalhas do nosso tempo e do nosso amor. Quantos idosos e quantas crianças que
gostariam que partilhássemos um pouco do nosso tempo e da nossa vida com elas!
Por conta das nossas correrias as empurramos para os asilos, e outros cantos
onde ficam à espera das migalhas que, de tempos em tempo, caem das nossas
agendas e mesas da vida.
Nada contra os animais, tudo a
favor do rei dos animais, sendo que muitos estão sendo alimentados com os restos
do nosso amor. Jesus está dizendo que ele é o pão do Céu, que veio para acolher
a todos na sua mesa. Deseja que todos possam alimentar-se, não apenas dos
restos, mas até à saciedade, a fim de que todos tenham saúde e vida em
abundância.
Fazemos votos que essa semente
do Evangelho caia na terra do coração de cada batizado e assim consigamos dar
continuidade à construção de uma sociedade justa e fraterna. Peçamos a graça de
compreender o imenso valor que está envolvido no acolhimento carinhoso de um
irmão e de uma irmã, sobretudo dos menos favorecidos.
Uma vez cientes dessa verdade,
que em cada pessoa, não importando a sua condição, acolhemos o próprio Jesus de
Nazaré, consigamos superar a mania de dar apenas migalhas do nosso tempo e da
nossa vida. Que à semelhança do Mestre possamos dar o melhor do nosso tempo, do
nosso amor, do nosso trabalho, sobretudo, aos que se sentem abandonados e
recebendo apenas as migalhas! Que possamos iniciar pelas nossas casas, onde,
muitas vezes, as esposas, os maridos, os filhos, as sogras e os avós imploram
as migalhas do nosso tempo!
Pe. Arlindo Toneta - MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR
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