quarta-feira, 5 de agosto de 2015

AS MIGALHAS QUE CAEM DAS MESAS

Em tempos idos os cachorrinhos comiam as migalhas que caiam das mesas de seus donos ou que alguém, mais afeiçoado com os bichinhos, repartia com eles. Essa era a dura realidade dos animais, mesmo nas casas das pessoas mais abastadas.
Uma mulher cananeia, que conhecia essa realidade dos animais, se aproximou de Jesus suplicando que a atendesse à semelhança dos cachorrinhos, ou seja, contentando-se com um pouquinho da atenção de Jesus. Não estava pedindo nenhuma audiência particular, ou um lugar de destaque ao seu lado, como fez a mãe dos discípulos Tiago e João, mas apenas uma migalha do seu tempo e da sua atenção em benefício da filha, atormentada pelo mal. Diante da sua humildade e perseverança, Jesus a atende destacando a sua grande fé (cf Mt 15,21-28). Jesus não lhe deu apenas migalhas, mas a atendeu como filha amada de Deus.
Hoje a realidade dos cachorros melhorou muito. Basta olhar em volta e logo os encontramos sendo carregados no colo por belas damas, passeando pelos jardins e avenidas. Frequentemente nos deparamos com festas de aniversário com direito a bolos e outras tira-gostos para esses amigos do homem, dos idosos e das crianças. Que bom que a vida para eles melhorou muito!
Em contrapartida, vemos inúmeros irmãos e irmãs atormentados pelo mal do abandono e do descaso suplicando migalhas do nosso tempo e do nosso amor. Quantos idosos e quantas crianças que gostariam que partilhássemos um pouco do nosso tempo e da nossa vida com elas! Por conta das nossas correrias as empurramos para os asilos, e outros cantos onde ficam à espera das migalhas que, de tempos em tempo, caem das nossas agendas e mesas da vida.
Nada contra os animais, tudo a favor do rei dos animais, sendo que muitos estão sendo alimentados com os restos do nosso amor. Jesus está dizendo que ele é o pão do Céu, que veio para acolher a todos na sua mesa. Deseja que todos possam alimentar-se, não apenas dos restos, mas até à saciedade, a fim de que todos tenham saúde e vida em abundância.
Fazemos votos que essa semente do Evangelho caia na terra do coração de cada batizado e assim consigamos dar continuidade à construção de uma sociedade justa e fraterna. Peçamos a graça de compreender o imenso valor que está envolvido no acolhimento carinhoso de um irmão e de uma irmã, sobretudo dos menos favorecidos.  

Uma vez cientes dessa verdade, que em cada pessoa, não importando a sua condição, acolhemos o próprio Jesus de Nazaré, consigamos superar a mania de dar apenas migalhas do nosso tempo e da nossa vida. Que à semelhança do Mestre possamos dar o melhor do nosso tempo, do nosso amor, do nosso trabalho, sobretudo, aos que se sentem abandonados e recebendo apenas as migalhas! Que possamos iniciar pelas nossas casas, onde, muitas vezes, as esposas, os maridos, os filhos, as sogras e os avós imploram as migalhas do nosso tempo!


Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR 

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