terça-feira, 4 de agosto de 2015

A FOME DO SER HUMANO



Basta colocar-se diante da pessoa humana e logo nos damos conta das suas inúmeras fomes. Fome de comida, fome de dignidade e liberdade, fome de ter, fome de prazer, fome de poder, fome de ser respeitado, aceito, perdoado, compreendido, etc., etc. Poderíamos enumerar bem mais fomes que o rei da criação possui e, parece que não são saciadas facilmente. Mas, qual é a fome fundamental dessa criatura?

Ao entrar no Livro do Êxodo, objeto da primeira leitura deste 18.º domingo do tempo comum, nos deparamos com um povo faminto. Inicialmente faminto de liberdade, pois estava sob a escravidão de outro povo, isto é, dos Egípcios (cf Ex 3). Uma vez saciada a sua fome de liberdade, encontramos o mesmo povo reclamando contra Moisés, seu libertador, por falta de comida para encher seu estômago (cf. Ex 16). Mais tarde encontraremos o mesmo povo reclamando por falta de água. 
Ouvindo o povo de hoje, parece que a ladainha continua; apesar de produzirmos muito mais alimento do que era produzido no tempo de Moisés. Há muita gente passando fome e reclamando. Inúmeras comunidades humanas reclamam comida. Muitas periferias gritam por comida, por água, por respeito, por dignidade, por liberdade, por esperança. Quem vai saciar a fome desse rei da criação?
Todos os prazeres da terra não encheram o coração faminto do filho e da filha de Deus. Todos os poderes, igualmente não conseguiram. A corrida desenfreada em busca de riqueza fez muitos e muitos ricos, mesmo que à custa de muitos empobrecidos. Lamentavelmente constatamos, porém, que o coração dos ricos não está em paz, porque só possuem riquezas materiais. Os três maiores ídolos da terra não foram suficientes para saciar a fome do ser humano. Ao contrário, criaram inúmeros famintos por conta da concentração de riquezas e de pão nas mãos de uns em detrimento dos demais. Quem vai saciar essa fome abrasadora do homem e da mulher?
A engenharia genética ajudou muito na melhoria e na produção de alimentos, que certamente alimentam todas as bocas da terra, se fossem repartidos com equidade. O que falta não são os alimentos que saciam o estômago. Falta o pão do céu indicado na primeira leitura e confirmado pelo Evangelho (Jo 6,24,35).
O coração do homem foi feito por Deus e para Deus e, por isso mesmo, só será saciado quando se abrir para Deus e se alimentar dele. O coração do homem anda faminto enquanto não repousa em Deus. Só o amor que é Deus poderá saciar a fome maior do seu filho e da sua filha. Não adianta comer todos os prazeres da terra, pois eles não encheram o coração da samaritana (cf Jo 4). Quando ela bebeu a água que é Jesus, a sua sede se estancou e dela correram rios de amor e de bondade para partilhar com seus irmãos. Enquanto a mulher não se alimenta de Deus, todos os maridos da terra não saciarão o seu coração faminto de amor. Enquanto os homens não abrirem o coração para Deus, continuarão correndo atrás de mulheres e de sexo, mas, continuarão carentes e escravos dos prazeres passageiros.
Uma vez que o homem se alimenta do pão do Céu, que é Jesus e a sua vontade, ele é recriado. Ele se reveste de Deus e se torna um homem ou uma mulher novo. Saciado na sua fome mais profunda, isto é, de Deus, ele será capaz da partilha. Não precisará acumular para dezenas e dezenas de anos, como procedem os que não confiam na providencia divina. Trabalharão pelo pão nosso de cada dia e viverão a alegria do serviço e da partilha.

Em suma, uma vez saciado o nosso coração do amor que é Deus, todas as demais fomes serão facilmente saciadas com a partilha e o respeito. Por isso, pedimos essa graça para todos os filhos de Deus. Que os seus corações, que possuem fechaduras por dentro, sejam abertos para o Criador a fim de que os sacie na sua fome mais profunda!  Assim seja! 



Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR 

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