Há muito tempo os seres
humanos tendem a fazer confusões a respeito da importância das normas humanas,
conselhos evangélicos e mandamentos. Não é raro encontrarmos pessoas jogando no
lixo o amor evangélico para defender um preceito humano, que vale, mas que não
passa de uma norma humana. Um exemplo clássico é quando os filhos deixam de
amar os pais por conta de pequenas orientações disciplinares, próprias de cada
família, para manter a ordem e a unidade familiar.
Diante dessa confusão mental,
que levava o povo de Israel a correr o risco de se dissolver no meio de outros
povos com deuses e costumes diversos, Moisés se colocou diante de Deus para
obter dele as leis e normas necessárias para manter aquele povo na unidade com
Deus e com os irmãos. Para isso, permaneceu quarenta dias na montanha do Sinai,
diante de Deus, para obter dele os dez mandamentos da Lei de Deus. Mandamentos
esses que mantiveram o povo unido por milênios.
Na caminhada, porém, os
Doutores da Lei, os Escribas e Fariseus foram agregando uma série infindável de
orientações, normas, leis, preceitos, decretos a tal ponto que a vida daquele
povo foi ficando engessada, amarrada e triste. Alguns preceitos humanos, de
saúde, de higiene, descanso sabático, etc. foram sendo supervalorizados em
detrimento do amor e da bondade.
Diante disso aparecem os
seguidores de Jesus no Evangelho de Mateus (Mt 7,1-8.14-15.21-23) bagunçando
essa orientação, ou seja, comendo o pão sem ter lavado as mãos, conforme as
normas judaicas. Aliás, quem não as observasse era considerado impuro. Diante
disso, emerge a boa notícia de Jesus, isto é, o Evangelho.
Jesus mostra para esses
legalistas que aí reside uma confusão de normas humanas com os valores divinos.
Eles supervalorizam pequenas orientações humanas, e Jesus não nega o seu valor,
e, em contrapartida, negligenciam aquilo que é mais importante, isto é, o amor,
a misericórdia e a justiça. Eles chegam a pagar o dizimo até do tempero, mas
exploram as viúvas e os pobres e isto é faltar com a caridade, e desprezar a
Lei do Amor, que é única trazida por Jesus. A mesma (regra de ouro) sintetiza
os dez mandamentos da Lei de Deus, Herdada de Moisés e do seu povo, lá no Sinai
(cf Mt 7,12).
Trazendo para a nossa
realidade, podemos incorrer nas mesmas confusões, quando agredimos e
desrespeitamos as pessoas exigindo o cumprimento de normas humanas, etiquetas,
vestuários, conselhos evangélicos e passamos por cima daquilo que, segundo o
ensinamento de Jesus, é essencial, ou seja, o amor. Toda a vez que o amor ao
ser humano fica em segundo lugar, terceiro e até esquecido, nós estamos
enterrando o Evangelho da Libertação trazido por Jesus. Além disso, estamos
amarrando as pessoas com normas, leis e proibições que tornam a vida cristã sem
sabor, sem alegria e muitas vezes a azedam, pior que limão azedo, conforme fala
o nosso querido Papa, Francisco.
Para finalizar valho-me de uma
santa orientação do nosso irmão no ministério, Papa Francisco, quando diz: “Não
deixemos que nos roubem a alegria do Evangelho” e nos encham de normas e
proibições humanas que nos prendem e nos fragilizam na capacidade de amar.