Jesus
e seus amigos estavam diante do templo de Jerusalém e alguns deles admiravam a
bela construção com seus diversos detalhes ornamentais. Vendo isso, Jesus
profetizou que viriam tempos que tudo aquilo cairia por terra e não ficaria
pedra sobre pedra. Tudo seria destruído. Diante disso, perguntaram quando
aconteceria isso. A resposta de Jesus não é direta e nem muito clara ( cf Lc
21,5-11 ). O que sabemos é que historicamente o templo foi destruído no
ano 70 da Era Cristã, por Tito e suas tropas romanas.
Mas
tenho a impressão que o ensinamento maior de Jesus não está no anúncio da
destruição dos templos de pedras, de madeira ou de tijolos, mas sim em outros
templos, sobre os quais Jesus dedicou a maior atenção, na sua estada terrena.
Referimo-nos aos templos do corpo humano. Templos esses enfeitados com adornos,
piercing, tatuagens, silicones, anéis e outras joias. Enfeitados, segundo uns,
sujados e “enfeiados” segundo outros.
Em
suma, nota-se, particularmente no nosso tempo, certo culto à beleza do corpo humano.
Culto à beleza externa do corpo, por um lado, e uma pobreza interna por outro.
Pobreza de valores, de respeito pelo outro, de amor a Deus e ao próximo.
Pobreza essa que pode manifestar-se de diversas formas, tais como: bebedeiras,
orgias, ganância, medo exagerado, insegurança, inveja, ciúme, rompimentos
matrimoniais e outras.
Neste
tempo que estamos encerrando o Ano Litúrgico, a Liturgia da Palavra nos orienta
para que tomemos consciência da fugacidade da beleza dos templos de pedras e,
sobretudo, dos templos de carne e ossos, que somos cada um de nós. Como
aconteceu com o templo de Jerusalém que não ficou pedra sobre pedra, assim
acontecerá com o templo do nosso corpo que não ficará célula sobre célula, mas
retornaremos ao pó de onde fomos tirados.
Ontem
pela manhã fui atender um senhor que há alguns dias havia “perdido” a esposa.
Quando cheguei, ele me aguardava na rua um tanto choroso. Auxiliou-me a
estacionar o carro e me convidou a entrar na bela casa, porém, com ares de
deserta. Não havia uma alma viva, tudo era silêncio. Muitas coisas, mais
coisas, mais objetos. Conduziu-me a uma sala onde pude ouvir, ouvir e ouvir.
Depois de uma hora, mais ou menos, propus a bênção da residência que aceitou
com muito agrado. Iniciamos a bênção diante de um pote cheio de cinzas que ele
olhava fixamente dizendo: “Veja padre o que sobrou da minha esposa! ”.
Sendo
assim, queridos leitores, Jesus continua falando para todos nós da importância
fundamental de investir na beleza interna do nosso templo. Não nos manda
descuidar do nosso corpo ou desprezá-lo, mas cuidar dele priorizando aquilo que
dura para a vida eterna, ou seja, a beleza interna. Beleza essa que os pais
podem cultivar no coração dos filhos desde a tenra idade. Educando-os para a
sensibilidade, o respeito, a partilha, o perdão, a honestidade, a verdade, a
alegria, a bondade e o amor a Deus e aos outros. Se nós queremos famílias
melhores, políticos mais honestos, sacerdotes mais acolhedores, não podemos
cair na armadilha do mundo pós-moderno que investe no consumo, na beleza fugaz
e relega para mais tarde ou deixa para os filhos escolherem os valores
religiosos e morais que desejam viver.