Eis o grande problema que
envolve as nossas famílias. Normalmente perdoamos uma ou duas vezes e, a seguir,
recusamo-nos à misericórdia. Guardamos dentro de nós o veneno do ódio e da
mágoa por anos e anos. Exigimos que outro seja perfeito ou que ele se afaste de
nós. Claro que o outro não é perfeito e por conta disso as separações
familiares são inúmeras. Quanta dor e sofrimento por conta disso!
Os judeus ortodoxos tinham o
hábito de perdoar sete vezes e depois excluir o outro e a outra da sua relação
familiar. Por isso mesmo, São Pedro perguntou a Jesus se era suficiente perdoar
o irmão que pecava contra ele sete vezes. Ao que Jesus respondeu que era
importante perdoar setenta vezes sete, ou seja, sempre. Em outras palavras,
Jesus está ensinando os seus seguidores a guardar apenas o amor, que sempre
perdoa, porque no amor verdadeiro não há lugar para o não perdão.
Deus como Pai amoroso possui um coração
misericordioso, ou seja, capaz de cobrir as nossas misérias e pecados, o tempo
todo. Para Deus o pecado e as nossas limitações não são problemas, mas
oportunidades para manifestar o seu amor que entra para santificar e suprir as
nossas limitações. Onde abunda o pecado, superabunda a Graça. “Deus jamais
se cansa de nos perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir perdão” afirma o
nosso bispo de Roma, isto é, o Papa Francisco.
Diante das
quedas frequentes, muitas pessoas e casais desanimam e não mais têm coragem de
pedir perdão a Deus imaginando que ele está triste e se recusa a continuar
perdoando. Na verdade, estão transferindo para Deus os próprios sentimentos e
canseiras. Pensam Deus à sua imagem e não conhecem o verdadeiro Deus, que é
cheio de misericórdia. A grande alegria de Deus consiste em carregar nos ombros
a ovelha ferida e levá-la para casa para fazer festa. Ele não a encontra para
um julgamento e uma condenação como muitos de nós faz, mas para um banquete
festivo onde todo o Céu se alegra (cf. Lc 15, 4-7).
Nós cansamos
de perdoar, sobretudo quando achamos que somos melhores do que os demais.
Vejamos o caso específico do filho mais velho, na parábola do Filho Pródigo,
que se julgava bonzinho por ter observado as normas da casa e, por isso mesmo,
queria excluir o irmão da família. Nem mais o admitia como irmão. Ao contrário,
o Pai cheio de misericórdia, envolve os dois filhos na bondade e no perdão,
pois ambos precisam dele (Lc 15,11-32). Nessa parábola Jesus quer nos auxiliar
a sermos à semelhança de Deus Pai, isto é, cheios de misericórdia e não mais de
julgamentos, condenações e exclusões.
Em outro
texto do Evangelho de João (Jo 8, 1-11) notamos um grupo, dos que se julgavam
santos e puros, conduzindo até Jesus uma mulher pega em adultério com a
intenção de que fosse apedrejada, conforme falava a lei de Moisés. Diante de
Jesus, os condenadores e a mulher reconheceram que todos eram pecadores e com isso
mudaram de atitude. Ninguém teve coragem de condenar, pois todos entenderam que
também eram pecadores. O único santo, que era Jesus, não ousou condenar, mas a
todos cobriu com a sua misericórdia. Ele atirou sobre a mulher a pedra do
perdão que vivifica o pecador.
Diante dessas
nossas canseiras no capítulo do perdão queremos pedir que Jesus nos dê um
coração misericordioso à semelhança dele. Um coração que acredite na força
transformadora do amor misericordioso, pois o perdão traz alegria onde a mágoa
produziu tristeza, além de curar as feridas. Que Ele nos agracie com uma mente
decidida a perdoar sempre, pois todos nós somos pecadores e também necessitamos
do perdão de Deus e dos irmãos!
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR
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