terça-feira, 25 de novembro de 2014

SEREMOS JULGADOS PELO AMOR

Ao fazer o balanço das nossas atividades preocupam-nos os julgamentos. Por mais exatos que sejam os nossos balanços, nos mete medo o que os outros e, sobretudo os nossos patrões, irão pensar dos nossos resultados. As constantes cobranças para obter maiores resultados e a concorrência desleal nos deixam apreensivos imaginando que não seremos aprovados para ocupar o cargo na gestão do ano seguinte.
Os que conhecem bem as regras do mercado e as expectativas dos patrões, podem com alguma facilidade obter sucesso. Basta ter claro o seu objetivo e trabalhar com empenho e alegria e não tardarão alcançar o sucesso desejado. Se a pessoa conhece bem as exigências do mercado e do patrão, mas não se aplica, possuirá razões fortes para se apavorar diante dos relatórios que deverá apresentar a quem de direito.
No fim do Ano Litúrgico, a Palavra de Deus nos conduz a avaliar a nossa caminhada, como batizados. Somos colocados diante do Rei do Universo, Jesus Cristo, a fim de que avaliemos a missão que Ele nos confiou. É fundamental que a avaliemos como se fosse o último ano da nossa caminhada terrena, pois a natureza não nos garante que teremos mais um ano para completar a missão. A missão deve ser completada a cada dia, pois o amanhã não nos pertence.
Diante desse balanço, encontramos católicos que estão apavorados, porque ignoram ou conhecem muito mal o seu Patrão.  O concebem como um juiz severo sempre pronto a anotar as falhas e apresentar os castigos correspondentes a cada um, ou seja, a bênção ou a maldição, o Céu ou o Inferno. Ignoram que se trata de um Rei Misericordioso.
Se depender do nosso Patrão ninguém será desqualificado ou jogado no Inferno do isolamento e da solidão. Basta que leiamos com atenção a Boa Nova, onde o próprio Jesus afirma que não veio para condenar, mas para restaurar e salvar (Jo 3,17).  No texto do julgamento final aparece claro que o Pai do Céu preparou um lugar especial, “desde a fundação do mundo” (Mt 25,34) para cada filho. Um lugar para cada filho e cada filha no seu coração cheio de ternura. Em suma, enviou seu Filho Jesus para nos comunicar alto e bom som essa fundamental verdade de vida, que tem por objetivo encorajar-nos e não deixar-nos inseguros e apreensivos.
Cabe aqui uma palavra sobre Céu e sobre Inferno. Para aqueles que ainda estão na formação catequética infantil que veem o Céu como um jardim bonito, quero dizer que não se trata disso não. Trata-se do coração do próprio Deus. De Deus saímos e para Ele o nosso coração anseia retornar. “O nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Deus” (Sto. Agostinho).  Ao contrário, o inferno é o afastamento do Amor. É abandonar a Deus e por consequência os irmãos e as irmãs. É o isolamento total.
Onde começa o Céu e onde Começa o Inferno? Ele começa dentro de nós na medida em que vamos escolhendo um ou outro. Na medida em que escolhemos amar a Deus e aos irmãos o Céu começa a desabrochar em nós. Na medida em que escolhemos o egoísmo, ou seja, explorar a Deus e aos irmãos o inferno tem seu começo em nós.
Todos poderão saber se estamos caminhando para o Céu ou par o Inferno. Como assim? Pelas nossas atitudes saberão. Quando nós alimentamos os famintos, acolhemos os pecadores com misericórdia, envolvemos as crianças com ternura, visitamos os presos para promover a sua libertação, estivermos presentes junto aos que sofrem para consolá-los, acolhermos os sem eira e nem beira, enfim, quando acolhermos a todos com amor, vendo neles o rosto de Jesus, todos entenderão que estamos em comunhão com Deus e caminhando para o Céu.  
Por outro lado, se exploramos os demais, violentamos a esposa, traímos o marido e os filhos, enganamos o patrão ou os empregados, desprezamos os pequeninos, ignoramos o grito dos famintos, nos fazemos de cegos diante dos abandonados, enchemos o templo de Deus, que é o nosso corpo, de todos os vícios, todos saberão que estamos fechados para Deus e caminhando para o Inferno.  
Queridos leitores! Estamos no fim do Ano Litúrgico, tempo de apresentar o nosso balanço vital e não apenas empresarial. Se o balanço da empresa, por alguma razão, nos amedronta, o da vida nos encoraja, pois estamos diante de um Patrão misericordioso, que deseja dar-nos mil oportunidades para que empreguemos bem os nossos talentos. Ele não nos julga, mas apenas aparece cheio de bondade e amor dizendo: “Coloque-se diante de mim e julgue-se, pois eu não vim para julgar, mas para salvar e redimir” (Jo 3,17). Da escolha que você fizer dependerá o desabrochar do Céu ou do Inferno.
Que o Senhor nos encoraje a todos nós a direcionarmos a nossa vida para o Céu! Fim de ano é tempo de balanço e de conversão para todos, mas, sobretudo, para aqueles que propositalmente abriram as portas para o inferno. É tempo de fechar as portas para o mal e abri-las para Deus e para o amor aos irmãos. O Amor está dando mais uma chance, pois não deseja que ninguém vá para o inferno. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

IAFFE - INSTITUTO ARQUIDIOCESANO DE FORMAÇÃO NA FÉ


O DOM DA PAZ

Convivendo com as pessoas notamos que em cada um existe um sonho de paz e tranquilidade. Entendemos que o Criador plantou essa semente no coração da sua criatura predileta. Por outro lado, notamos que muitos corações andam cheios de violência e angustia. Violência essa que aparece em forma de guerra familiar, comunitária, social, racial e até entre países.
Há pessoas e ideologias que defendem que a paz se garante com exércitos, com muitos equipamentos bélicos. Na verdade, o que conhecemos é que a violência gera violência e a guerra fomenta mais guerras. Nesse sentido os nossos jornais estão repletos de exemplos. Basta ler e refletir um bocadinho.  Quando fazemos uma leitura crítica, logo entendemos que a violência e a guerra são altamente lucrativas, em termos financeiros, para alguns egoístas e inescrupulosos.  Por isso, se busca tapar o sol com a peneira.
Há milênios, Jesus caminhava rumo a Jerusalém. Ao chegar à encosta, próxima da cidade, o Evangelho de Lucas (Lc 19,41-44) nos fala que ele chorou. Chorou não porque tivesse batido o dedão em alguma pedra, mas porque as lideranças judaicas matavam os profetas imaginando que com isso garantiriam a paz. Ele exclama sobre aquela cidade: “Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz!” Com isso sinaliza que a paz não brota da violência ou da morte dos que denunciam os erros e anunciam um novo jeito de viver, que é a missão específica dos profetas.
O que mesmo pode trazer a paz apontada por Jesus? Importa, inicialmente, que compreendamos que a paz apontada por Jesus é diferente da paz prometida pelo mundo, interesseiro e egoísta. Jesus ressuscitado ofereceu a paz aos seus discípulos reunidos no cenáculo, como primeiro dom. Vejo que é o primeiro presente oferecido à sua comunidade apostólica após a ressurreição. Entendo que a Paz é abrir o coração e a mente e acolher Jesus Cristo Ressuscitado com seu Projeto de Amor e Bondade. A paz tomou conta dos apóstolos reunidos e eles jogaram fora o medo, abriram as portas e saíram pelo mundo anunciando um mundo novo, de fraternidade e paz. 
Essa proposta não é apenas para um grupinho de católicos ou evangélicos, mas para todos os filhos e filhas de Deus. Noto que muitos resistem a Jesus e não o acolhem como centro e senhor das suas vidas, como nos diz o nosso querido papa Francisco. Muitos colocam o dinheiro, a terra, o ouro, a prata, o petróleo, a fama, a beleza física como centro das suas vidas e para conseguir isso chegam a passar por cima dos irmãos e das irmãs mais fracos. Chegam até a eliminar os profetas e outros que dificultam essa sua busca egoísta. Por conta disso, surgem as guerras e toda a sorte de males no mundo e nas relações humanas.
Queridos irmãos e irmãs! Como S. Lucas, continuo hoje vendo Jesus derramando copiosas lágrimas sobre as nossas cidades. Lágrimas essas que desejam lavar a cegueira de muitas lideranças que inescrupulosamente mandam eliminar os que sonham e lutam por um mundo de fraternidade e de paz. Uma torrente de lágrimas santas para lavar todo o egoísmo e desrespeito à vida humana, que existe, ainda hoje, no campo e nas cidades.
Portanto, queridos irmãos e irmãs a paz está ao alcance da humanidade toda, mas depende de nós abrirmos o coração e acolhê-la ou continuar com os nossos projetos egoístas, que levam à rivalidade e desencadeiam guerras familiares, políticas e até mundiais. 




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

terça-feira, 18 de novembro de 2014

IV EXPOCATEQUESE 2014


ZAQUEU PROCURAVA VER JESUS


É muito comum encontrar pessoas que procuram ver no horizonte alguma imagem que alguém aponta ou algum avião a jato que deixa seu rastro de fumaça. Nem toda a pessoa consegue ver por conta de alguma limitação visual. Um dia desses estava na casa do papai e o Renato me convidou para ver um ninho de quero-quero que havia na roça. Por conta dos ovos serem quase da cor da terra tive grande dificuldade de localizar o bendito ninho. Após ter deparado que estava próximo de uma pedra foi mais fácil visualizá-lo pela segunda vez.
Na cena que abre o capítulo dezenove do Evangelho de Lucas (Lc 19,1-10) nos deparamos com um baixinho querendo ver Jesus. A princípio não conseguia por conta da sua baixa estatura, mas, na verdade não era só por causa da estatura ou de algum problema visual. Diante disso, valeu-se da natureza e subiu numa árvore para resolver o seu problema. Lá de cima pode ver mais um homem, chamado Jesus, que caminhava no meio da multidão. Com seus olhos humanos não pode ver nada de tão diferente em Jesus.
Somente quando Jesus o encontrou com o seu olhar acolhedor pedindo para que descesse da árvore, pois queria se hospedar na sua casa, é que os seus olhos foram se abrindo e percebendo o amor de Deus que se dignava entrar na casa de um pecador. Mais do que depressa Zaqueu desceu e foi crescendo em confiança e alegria. Acolheu Jesus em sua casa e sentiu que ele era o amor em pessoa, que entrou para fazer festa e não para julgar e condenar (cf. Ap 3,20). Sentiu que Jesus não tinha nada, mas tinha tudo para amar a todos. Por isso, todos o procuram.  Por outro lado, sentiu que ele tinha tudo, mas era odiado por todos. Todos procuram fugir dele, pois cobrava impostos para Roma e aproveitava para tirar uma boa parcela para si. Profundamente tocado por esse amor que encheu a sua casa e a sua vida sentiu que o apego aos bens desse mundo o rebaixava diante de Deus e diante da comunidade. Nisso os seus olhos se abrem mais ainda e se dispõe a repartir com os pobres e devolver o quádruplo do que roubou para ficar com o maior bem, isto é, com Deus e com a comunidade.
Nessa caminhada, o modo de olhar de Zaqueu foi sendo purificado. Gradativamente os seus olhos foram se desligando das riquezas e dos bens para prestarem atenção as verdadeiras riquezas que engrandecem e dignificam a pessoa humana. Procurou ver Deus, mas não conseguia por conta do seu apego aos bens materiais. Algum percalço ou revés da vida o levou a procurar Jesus. Sentiu a ternura dele que o acolhia do jeito que era e a sua disposição de hospedar-se com ele. Profundamente tocado por esse amor divino relativizou os bens e priorizou o amor a Deus que, por sua vez, o vinculou ao amor dos irmãos e da comunidade.
Quantos e quantos de nós que somos pequenos, como Zaqueu, diante de Deus e diante da comunidade! Desviamo-nos do reto caminho e nos apegamos aos bens desse mundo, mesmo que resulte em prejuízo dos irmãos e da comunidade. Colocamos o nosso foco nos bens desse mundo e deixamos os valores eternos para quando ficarmos velhos. Não vamos mais à Igreja porque temos que trabalhar a fim de ganhar dinheiro. Não temos tempo para meditar a Palavra de Deus porque estamos muito empenhados em ficar ricos, como Zaqueu. Priorizamos o ter em detrimento do amor a Deus, à família e à comunidade. Nisto vamos ficando pequeno no amor, a tal ponto de não conseguirmos mais ver a Deus e nem as pessoas.
Entramos no poço do ter e o nosso olhar vai sendo reduzido apenas a isso. Não conseguimos mais ver as maravilhas de Deus e dos irmãos. Vamos a Deus apenas para pedir e aos irmãos para levar vantagens. Num acontecimento doloroso, como uma doença, ou amoroso, como o Encontro de Casais com Cristo (ECC), que nos toca de forma profunda, animamo-nos a sair desse poço, isto é, dessa prisão, para novamente apreciar as maravilhas de Deus e dos irmãos, ou seja, viver com dignidade e grandeza de coração.
Peçamos a graça de sermos libertos das nossas cegueiras e pequenez moral, social, familiar, comunitária ou religiosa. Que o amor acolhedor de Jesus nos leve a abandonar os nossos refúgios e as nossas falsas seguranças para ficar com ele e com seus irmãos, recuperando, assim, a nossa verdadeira estatura! 




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

ELE NOS CONFIOU OS SEUS BENS



Quando alguém é escolhido para cuidar dos bens de uma pessoa portadora de grandes fortunas, normalmente, ele se sente privilegiado, por ter sido escolhido para essa função. Ele pensa que foi escolhido porque é o mais capaz para essa função. Consequentemente sente-se digno de confiança e um privilegiado.
A parábola dos talentos (Mt 25,14-30) fala de um patrão que confiou os seus bens a três pessoas a fim que que os administrassem enquanto ele estava viajando. No retorno ele cobraria os frutos dos seus administradores. A cada um confiou talentos segundo a sua capacidade administrativa. Aconteceu que os dois primeiros saíram e aplicaram os dons e o terceiro o enterrou.
Ao retornar o patrão mandou chamar os encarregados dos seus bens. Os dois primeiros vieram alegres e felizes comunicando que os bens confiados por ele foram multiplicados e o terceiro cheio de tristeza informou o patrão que por medo havia enterrado o talento. Os dois primeiros se alegraram com o seu Senhor e a eles lhe foi confiado muito mais e o terceiro entristeceu-se e perdeu até mesmo o talento que tinha recebido.
Queridos leitores! Quem são esses três personagens? Somos nós. Inicialmente, podemos e devemos entender que fomos escolhidos por Ele, no meio de milhões de possibilidades. Não foram os nossos pais que nos escolheram. Ele nos escolheu e capacitou para administrarmos os seus bens. A cada um confiou talentos para que os façamos crescer e multiplicar-se. A cada um confiou os talentos que pode administrar bem. Não foi exagerado com uns e tacanho com outros, como muitos imaginam. Confiou a cada um segundo as suas capacidades, nem mais nem menos. Portanto, foi muito justo com todos.
Quais são esses bens que nos foram confiados? Certamente que não são ouro ou prata ou ainda papel moeda. Esses são apenas ferramentas que podemos utilizar para administrar melhor os verdadeiros bens do Senhor. O Evangelho da Alegria nos apresenta o homem e a mulher vivos, como a glória do Senhor, conforme pensava Santo Irineu. Para vivificar os irmãos o Criador nos confiou capacidades, ou seja, talentos. Talentos para cuidar dos doentes, talentos para amparar as crianças, talentos para zelar dos jovens e adolescentes, eloquência para comunicar o seu Evangelho.
Ao jovem esposo encheu de talentos e qualidades para santificar a sua esposa, à esposa cumulou de ternura para envolver o seu amado e conduzi-lo à vida plena em Deus. Aos pais deu diversas capacidades para educar os filhos no bem, na verdade e na justiça e assim ajudá-los a expulsar a preguiça e o egoísmo e desabrocharem para a felicidade eterna.
Nos sacerdotes e religiosos fez cair chuva de graças e bênçãos para administrá-las em favor de todo o povo de Deus. O povo sedento vem buscar uma palavra, um conselho, uma orientação, uma bênção, um afago, um abraço e um sorriso. O religioso e sacerdote que são bons administradores estão sempre prontos para isso, pois sabem que esses bens são do Senhor e devem ser repartidos com todos. Ao serem repartidos eles se multiplicam por dois, por dez, por cem.
Os pais, os sacerdotes, os religiosos, os catequistas e os jovens sábios, entendem que além de possuírem dons e talentos diversos, eles próprios são um presente do Céu para dar-se aos demais irmãos. Reconhecem que tudo e todos são presentes que procedem do Pai das Luzes. Nada é nosso. Tudo é de Deus a serviço do maior bem de Deus, que é o homem e a mulher santificados, ou seja, vivos.
Queridos irmãos! Sintam a confiança que o Patrão depositou em nós. Em cada um de nós e não apenas nos padres, bispos e Papa. Ele nos fez ricos dos bens do Céu para colocá-los a serviço da promoção e santificação do outro e da outra. Não podemos mais por medo ou covardia enterrar os talentos e qualidades que a nós confiou, sob pena, de mergulharmos na tristeza e no inferno já em vida.

Também, não podemos contemporizar a aplicação dos talentos, imaginando que quando ficarmos velhos faremos isso ou aquilo. Não temos o amanhã, mas temos o hoje, o aqui e o agora para fazer bem. Há uma perversa ideia em voga por aí, ou seja, enquanto se é jovem a vida é para o divertimento, mesmo que à custa dos outros. A vida, jovem ou há mais tempo jovem, ela é para a promoção da vida dos irmãos.  Não somos donos do nosso futuro. O futuro a Deus pertence. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O REINO DE DEUS ESTÁ ENTRE VÓS

Para que nós não percamos tempo correndo atrás de miragens, Jesus, no Evangelho de Lucas (Lc 17,20-25), aponta onde está o Reino de Deus. Comumente as pessoas dão ouvidos a muitos profetas, mal informados, que afirmam que o Reino de Deus está aqui ou está lá mais adiante. Afirmam que está nessa igreja, que está naquela última que acaba de ser criada. Com isso, vemos multidões que correm para os santuários de Roma, de Israel, da América Latina, que correm de uma Igreja para outra a fim de encontrar o Reino. Alguns retornam desiludidos e outros mais fortes na fé. Na verdade, Jesus afirma categoricamente que o Reino de Deus está no meio de nós.

Claro que podemos fazer peregrinações para esses lugares onde as manifestações de fé aparecem com muita força e vigor. Claro que precisamos distinguir, pois há lugar e lugares. Porém isso não é necessidade fundamental de quem quer viver com dignidade o cristianismo. A minha querida mãe, dona Maria, nunca visitou um desses lugares famosos. Ela, porém, fez da sua paróquia e da sua casa santuários. Santuários onde Deus e o seu reino de paz, justiça e bondade estavam muito presentes.

Aliás, esse é o grande desafio da nova e velha evangelização. Que o Reino de Deus ultrapasse as paredes dos nossos santuários e chegue a todas as casas de família e a todos os corações. Jesus Ressuscitado, o Reino de Deus por excelência, está à porta de cada irmão e irmã (Ap 3,20). Se alguém abrir Ele e o Pai entrarão e instalarão o seu Reino de amor, bondade e alegria.

Portanto, queridos leitores, o Reino de Deus não está lá em cima e nem lá em baixo, mas está entre nós, muito perto de cada um de nós. Ele está batendo à porta da nossa vida. Ele pode entrar em nós e nos recriar para uma vida nova. Uma vida cheia de amor e bondade. Amor e bondade que denotam que o Reino de Deus está dentro de nós, ou seja, no santuário mais querido de Deus. Uma vez que o Reino é acolhido e frutifica em nós, normalmente paramos de correr para cá e para lá. Não damos mais ouvidos a qualquer fala, mas auscultamos o nosso interior para descobrir e viver a vontade do Pai.

Peçamos a graça de não correr em vão. Peçamos que Maria nos mostre Jesus, o Reino de Deus por excelência, que deseja frutificar em nós, nas nossas famílias e nas nossas comunidades. Peçamos a graça de abrir as portas da nossa mente e coração para que tome posse da nossa vida e assim assuma a sua direção conduzindo-nos para o Céu. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ENQUANTO CAMINHAVAM FICARAM CURADOS

O ser humano tem uma tendência a querer a cura imediatamente. Por outro lado, notamos que este mesmo indivíduo gradativamente e insistentemente vai abrindo as portas para as doenças. Por exemplo, o câncer de pulmão normalmente é provocado pelo fumo que durante anos e anos foi prejudicando aquele órgão vital. Uma vez que o fumante detecta a doença corre e pede a Deus uma cura imediata. Claro que para Deus nada é impossível, mas será esse mesmo o seu projeto de vida para a pessoa humana. Outro exemplo é o que ocorre com aquele que bebe exageradamente. Sabe que a bebida até certo ponto é boa para a saúde, mas uma vez que é ingerida em excesso ela afeta o fígado outro órgão vital.  Apesar de todas as orientações de amigos, médicos e até de inimigos o beberrão continua até que surja uma cirrose hepática. Diante dele espera um milagre instantâneo do Senhor Jesus. É assim mesmo ou o Senhor tem outra orientação?

No Evangelho de Lucas encontramos dez leprosos que vêm ao encontro de Jesus e estes imploram misericórdia a Ele (cf. Lc 17,11-19). Vejamos que Jesus não faz nenhum milagre imediato, mas envia os doentes aos sacerdotes, que eram os encarregados de dar atestado de saúde naquele tempo. O texto diz que enquanto caminhavam ficaram curados. Pois é, fiquemos um pouco aqui refletindo sobre o significado do enquanto caminhavam.
Como vocês mesmos podem notar, a cura se dá na caminhada e não num toque de mágica, como se Jesus fosse um mágico. Ele não é um mágico, mas aquele que veio libertar o homem e a mulher acorrentados pelos vícios, pecados e doenças. Ele está à porta e bate, se alguém lhe abre o coração, certamente acontecerão mudanças e as mesmas não tardarão. Haverá mais vida, mais alegria, mais saúde e paz verdadeira. Pouco a pouco o mal e a doença cederão lugar para a saúde e a alegria.
Queridos leitores! Todos nós sabemos que a maioria das doenças, Sobretudo, a lepra, viceja no meio da sujeira. Como sair curados de grande parte das delas? Pedir um milagre a Jesus! Claro que é possível, mas será que é esse mesmo o plano de Deus? Eu acredito muito no Evangelho de hoje, ou seja, que a cura acontece na caminhada. Acontece na medida em que a pessoa se põe a caminho da superação do seu vício. Na medida em que o doente escuta a voz de Jesus que pede para caminhar, isto é, abandonar os vícios e outros maus hábitos. Quando a pessoa se dá conta percebe que está melhor, que está livre das garras da droga, da bebida, da preguiça, etc. Eis milagres ordinários, que Jesus quer operar na vida de todos nós.
A lepra e a tuberculose encontram ambiente fértil no meio da sujeira. Eu mesmo tive a oportunidade de trabalhar em Macapá (AP) e visitar algumas casas onde a lepra estava presente. Pude notar que a falta de higiene era grande. Na medida em que os Agentes de Saúde visitavam as casas e orientavam a respeito disso a doença foi sendo expulsa da região. Portanto, queridos leitores, Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina que é preciso colocar-se a caminho. Escutar a sua voz e caminhar rumo a um maior cuidado de si mesmo. Nós somos o templo de Deus e por conta disso, importa que o templo seja cuidado, alimentado e higienizado e não abandonado no meio da sujeira.

Depois de percorrer esses caminhos indicados por Jesus e pela sua Palavra não tardaremos a receber dos médicos e de outros encarregados disso, o atestado de boa saúde. Eis um milagre que nos envolve e nos chama à corresponsabilidade. Deus não quer fazer milagres sozinho, pois ele não é um milagreiro, mas quer a nossa participação. Ele é o caminho e uma vez que nos dispomos a segui-lo a nossa cura e libertação não tardarão. Podemos ser portadores de vícios e doenças graves, mas uma vez que o procuramos com sinceridade e disposição para seguir as suas orientações, certamente milagres maravilhosos acontecerão. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

terça-feira, 11 de novembro de 2014

VARRER A CASA


Eis uma tarefa que me leva para a casa dos meus pais. Quando meninos, apesar de 16 irmãos, todos tínhamos tarefas a cumprir. Alguns davam pasto para os bovinos, outros alimentavam os porcos, um terceiro grupo cuidava das vacas, tirava leite, e os demais tinham a incumbência de varrer a casa. Muitas vezes a preguiça amarrava e varredores e estes escondiam a sujeira nos cantos ou em baixo do tapete. Quando a supervisora descobria a malandragem imaginem o que acontecia! Tinham que retirar toda a sujeira escondida na casa e mandá-la para o seu devido lugar, ou seja, para fora. Com isso, a casa ficava limpa e a saúde morava nela, para o bem estar de toda a família.
No Evangelho de João 2,13-22 encontramos Jesus que entra no templo de Jerusalém e força as pessoas a tirar de lá tudo aquilo que não convém à saúde daquela casa. Expulsa a todos os que exploram os demais com a venda superfaturada de bois, ovelhas e pombas. Derruba as mesas dos cambistas e pede que as retirem de lá. Finaliza dizendo: “Não façais da casa de meu pai uma casa de comercio!” ou um covil de ladrões e exploradores da boa fé dos demais.
Através desse episódio narrado por João, Jesus quer nos conduzir para águas mais profundas. Não fica apenas nos questionamentos que podemos nos fazer acerca do comércio dentro das nossas Igrejas. Logicamente devemos nos perguntar a respeito disso e, mais do que isso, devemos corrigir eventuais distorções comerciais que lá ocorrem. Porém, Jesus está aprofundando o seu ensinamento e atingindo a nossa vida pessoal para que, como consequência, possa resplandecer nas nossas Igrejas, nas nossas empresas e também nas nossas Câmaras e Senados.
Quando afirma: “Destruam esse templo e em três dias eu o levantarei” ele está falando do templo do seu corpo. Jesus está falando do templo de cada um de nós. Ele está dizendo que é necessário fazer a limpeza do nosso templo e não apenas das construções de pedras, alvenaria ou madeira. Claro que devemos manter limpo e livre do comércio explorador as nossas igrejas, mas, mais do que isso, é nossa tarefa primeira, manter livre disso o nosso corpo que, a partir de Jesus, surge como o novo templo de Deus.
O profeta Ezequiel 47,1-12 descreve a visão onde ele vê o templo do qual saia água que corria para o deserto rumo ao mar morto.  Por onde passavam essas águas que brotavam do templo surgia vida, frutos e saúde. O Profeta, por antecipação, viu Jesus, o novo templo, do seu lado aberto brotou água e sangue, que trouxe vida nova para todos os que se abrem, como o deserto, para acolhê-lo.  “Eu vim para que todos tenham vida ou saúde em abundância” (Jo 10,10).
Queridos leitores! São Paulo na carta aos cristãos de Corinto afirma que os batizados são santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora neles (cf. 1 Cor 3,16). Portanto, caros irmãos, importa avançar para águas mais profundas. É fundamental entender que nós, os batizados, somos pedras vivas do templo do Senhor. Cada cristão é um templozinho do Senhor. Não importa se criança, jovem ou idoso. O mais importante é compreender-nos como templos do Senhor e, portanto, com obrigação de estarmos limpos, para que Ele, conosco habite com dignidade.
Não é mais tempo de varrer a sujeira por debaixo do tapete ou escondê-la nos cantos da nossa vida. Ele é luz que tudo conhece e tudo vê. Portanto, para quem quer ser cristão de verdade não dá mais para ocultar a sujeira do nosso egoísmo e exploração dos demais. Ele mesmo a denuncia e nos convida diariamente à conversão, isto é, a varrer a nossa vida com a vassoura do amor a fim de que rios de água viva possam brotar de nós.

No fim de mais um Ano Litúrgico, importa que cada um de nós faça um exame de consciência, para dar-nos conta dos frutos que crescem em nós e à nossa volta. É sábio dar-se conta se crescem árvores venenosas ou se crescem árvores cujos frutos e folhas dão vida e saúde à família e a todos os que de nós se alimentam, de alguma forma. Se por ventura notarmos que envenenamos e adoecemos os demais, não desesperemos. Convidemos Jesus para entrar em nós e varrer a nossa vida com a vassoura da sua misericórdia. Não tardarão a brotar vida e saúde nas nossas relações. Se, por outro lado, notarmos que de nós brotam vida e saúde, saibamos que estamos ligados à fonte da vida, que é Jesus, e passemos a louvá-lo sempre mais, pois ele faz maravilhas com o barro que se deixa moldar por Ele.  




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

SER ESPERTOS


      Hoje se fala que o mundo é dos espertos. Em parte, eu concordo com essa ideia, mas por outro lado tenho reparos a fazer. Acredito que a esperteza é uma qualidade que Jesus está destacando no Evangelho de Lucas 16,1-8. Nesse episódio, vemos Jesus elogiando a esperteza do administrador que tomou decisões radicais sem se importar se aquilo que estava fazendo era lícito ou não. Não estava preocupado se estava ou não lesando o seu patrão, mas estava empenhado em garantir o seu futuro.
Não me parece que Jesus esteja aprovando a malandragem do administrador. Uma coisa é a esperteza, outra coisa é a malandragem. Em momento algum Jesus aprova a falcatrua do administrador prejudicando fortemente o seu patrão, mas destaca e elogia a esperteza dele que habilmente administra em causa própria.
Com isso, Jesus está desafiando os seus discípulos missionários a serem tão ou mais espertos do que aquele administrador desonesto e imoral. Aquele administrador tinha o peso da consciência suja que podia estar contra ele e bloqueando a sua criatividade, mesmo assim foi muito hábil. Os discípulos de Jesus, que pressupomos administram em favor do Reino de Deus, não possuem o bloqueio da consciência, pois ela está livre para com toda a criatividade tomar as melhores decisões diante das oportunidades da vida quotidiana.
Em outras palavras, Jesus está dizendo para os seus seguidores, que um mundo mais justo e mais fraterno está à disposição de todos os que usarem da esperteza do administrador desonesto para edificá-lo. Ao contrário da esperteza desonesta, em causa própria, Jesus está dizendo que existe uma esperteza evangélica fantástica que pode edificar um mundo melhor, sem guerras e violências.
Ele está motivando a todos nós batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo a usar de toda a criatividade e esperteza para enriquecer a sua Igreja, patrimônio espiritual. Enriquecer atraindo os verdadeiros tesouros para ela. Quem são os tesouros? Certamente que não são ouro, prata ou trigo, mas os filhos e as filhas de Deus. Por isso, esse evangelho visa motivar a todos os discípulos de Jesus a trabalhar com grande esperteza a fim de atrair o maior número de pessoas para Deus.
Além disso, está motivando a todos nós a sermos bons administradores dos tesouros do Patrão, isto é, dos filhos e das filhas de Deus, que já integram as nossas comunidades. Indiretamente está desaprovando a desonestidade dos administradores que agem em proveito próprio e não em favor do bem comum. Desaprova o uso das pessoas, tesouros de Deus, em causa própria.

Peçamos a graça de sermos administradores honestos e criativos e, assim, enriquecer sempre mais a Igreja de Jesus Cristo com os tesouros do Céu, isto é, nossos irmãos e nossas irmãs. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR