É muito comum encontrar
pessoas que procuram ver no horizonte alguma imagem que alguém aponta ou algum
avião a jato que deixa seu rastro de fumaça. Nem toda a pessoa consegue ver por
conta de alguma limitação visual. Um dia desses estava na casa do papai e o
Renato me convidou para ver um ninho de quero-quero que havia na roça. Por
conta dos ovos serem quase da cor da terra tive grande dificuldade de localizar
o bendito ninho. Após ter deparado que estava próximo de uma pedra foi mais
fácil visualizá-lo pela segunda vez.
Na cena que abre o capítulo
dezenove do Evangelho de Lucas (Lc 19,1-10) nos deparamos com um baixinho
querendo ver Jesus. A princípio não conseguia por conta da sua baixa estatura,
mas, na verdade não era só por causa da estatura ou de algum problema visual.
Diante disso, valeu-se da natureza e subiu numa árvore para resolver o seu
problema. Lá de cima pode ver mais um homem, chamado Jesus, que caminhava no
meio da multidão. Com seus olhos humanos não pode ver nada de tão diferente em
Jesus.
Somente quando Jesus o
encontrou com o seu olhar acolhedor pedindo para que descesse da árvore, pois
queria se hospedar na sua casa, é que os seus olhos foram se abrindo e
percebendo o amor de Deus que se dignava entrar na casa de um pecador. Mais do
que depressa Zaqueu desceu e foi crescendo em confiança e alegria. Acolheu
Jesus em sua casa e sentiu que ele era o amor em pessoa, que entrou para fazer
festa e não para julgar e condenar (cf. Ap 3,20). Sentiu que Jesus não tinha nada,
mas tinha tudo para amar a todos. Por isso, todos o procuram. Por outro lado, sentiu que ele tinha tudo, mas
era odiado por todos. Todos procuram fugir dele, pois cobrava impostos para
Roma e aproveitava para tirar uma boa parcela para si. Profundamente tocado por
esse amor que encheu a sua casa e a sua vida sentiu que o apego aos bens desse
mundo o rebaixava diante de Deus e diante da comunidade. Nisso os seus olhos se
abrem mais ainda e se dispõe a repartir com os pobres e devolver o quádruplo do
que roubou para ficar com o maior bem, isto é, com Deus e com a comunidade.
Nessa caminhada, o modo de olhar
de Zaqueu foi sendo purificado. Gradativamente os seus olhos foram se
desligando das riquezas e dos bens para prestarem atenção as verdadeiras riquezas
que engrandecem e dignificam a pessoa humana. Procurou ver Deus, mas não
conseguia por conta do seu apego aos bens materiais. Algum percalço ou revés da
vida o levou a procurar Jesus. Sentiu a ternura dele que o acolhia do jeito que
era e a sua disposição de hospedar-se com ele. Profundamente tocado por esse
amor divino relativizou os bens e priorizou o amor a Deus que, por sua vez, o
vinculou ao amor dos irmãos e da comunidade.
Quantos e quantos de nós que
somos pequenos, como Zaqueu, diante de Deus e diante da comunidade!
Desviamo-nos do reto caminho e nos apegamos aos bens desse mundo, mesmo que
resulte em prejuízo dos irmãos e da comunidade. Colocamos o nosso foco nos bens
desse mundo e deixamos os valores eternos para quando ficarmos velhos. Não vamos
mais à Igreja porque temos que trabalhar a fim de ganhar dinheiro. Não temos
tempo para meditar a Palavra de Deus porque estamos muito empenhados em ficar
ricos, como Zaqueu. Priorizamos o ter em detrimento do amor a Deus, à família e
à comunidade. Nisto vamos ficando pequeno no amor, a tal ponto de não
conseguirmos mais ver a Deus e nem as pessoas.
Entramos no poço do ter e o
nosso olhar vai sendo reduzido apenas a isso. Não conseguimos mais ver as
maravilhas de Deus e dos irmãos. Vamos a Deus apenas para pedir e aos irmãos
para levar vantagens. Num acontecimento doloroso, como uma doença, ou amoroso,
como o Encontro de Casais com Cristo (ECC), que nos toca de forma profunda,
animamo-nos a sair desse poço, isto é, dessa prisão, para novamente apreciar as
maravilhas de Deus e dos irmãos, ou seja, viver com dignidade e grandeza de
coração.
Peçamos a graça de sermos
libertos das nossas cegueiras e pequenez moral, social, familiar, comunitária
ou religiosa. Que o amor acolhedor de Jesus nos leve a abandonar os nossos
refúgios e as nossas falsas seguranças para ficar com ele e com seus irmãos,
recuperando, assim, a nossa verdadeira estatura!
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