terça-feira, 11 de novembro de 2014

VARRER A CASA


Eis uma tarefa que me leva para a casa dos meus pais. Quando meninos, apesar de 16 irmãos, todos tínhamos tarefas a cumprir. Alguns davam pasto para os bovinos, outros alimentavam os porcos, um terceiro grupo cuidava das vacas, tirava leite, e os demais tinham a incumbência de varrer a casa. Muitas vezes a preguiça amarrava e varredores e estes escondiam a sujeira nos cantos ou em baixo do tapete. Quando a supervisora descobria a malandragem imaginem o que acontecia! Tinham que retirar toda a sujeira escondida na casa e mandá-la para o seu devido lugar, ou seja, para fora. Com isso, a casa ficava limpa e a saúde morava nela, para o bem estar de toda a família.
No Evangelho de João 2,13-22 encontramos Jesus que entra no templo de Jerusalém e força as pessoas a tirar de lá tudo aquilo que não convém à saúde daquela casa. Expulsa a todos os que exploram os demais com a venda superfaturada de bois, ovelhas e pombas. Derruba as mesas dos cambistas e pede que as retirem de lá. Finaliza dizendo: “Não façais da casa de meu pai uma casa de comercio!” ou um covil de ladrões e exploradores da boa fé dos demais.
Através desse episódio narrado por João, Jesus quer nos conduzir para águas mais profundas. Não fica apenas nos questionamentos que podemos nos fazer acerca do comércio dentro das nossas Igrejas. Logicamente devemos nos perguntar a respeito disso e, mais do que isso, devemos corrigir eventuais distorções comerciais que lá ocorrem. Porém, Jesus está aprofundando o seu ensinamento e atingindo a nossa vida pessoal para que, como consequência, possa resplandecer nas nossas Igrejas, nas nossas empresas e também nas nossas Câmaras e Senados.
Quando afirma: “Destruam esse templo e em três dias eu o levantarei” ele está falando do templo do seu corpo. Jesus está falando do templo de cada um de nós. Ele está dizendo que é necessário fazer a limpeza do nosso templo e não apenas das construções de pedras, alvenaria ou madeira. Claro que devemos manter limpo e livre do comércio explorador as nossas igrejas, mas, mais do que isso, é nossa tarefa primeira, manter livre disso o nosso corpo que, a partir de Jesus, surge como o novo templo de Deus.
O profeta Ezequiel 47,1-12 descreve a visão onde ele vê o templo do qual saia água que corria para o deserto rumo ao mar morto.  Por onde passavam essas águas que brotavam do templo surgia vida, frutos e saúde. O Profeta, por antecipação, viu Jesus, o novo templo, do seu lado aberto brotou água e sangue, que trouxe vida nova para todos os que se abrem, como o deserto, para acolhê-lo.  “Eu vim para que todos tenham vida ou saúde em abundância” (Jo 10,10).
Queridos leitores! São Paulo na carta aos cristãos de Corinto afirma que os batizados são santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora neles (cf. 1 Cor 3,16). Portanto, caros irmãos, importa avançar para águas mais profundas. É fundamental entender que nós, os batizados, somos pedras vivas do templo do Senhor. Cada cristão é um templozinho do Senhor. Não importa se criança, jovem ou idoso. O mais importante é compreender-nos como templos do Senhor e, portanto, com obrigação de estarmos limpos, para que Ele, conosco habite com dignidade.
Não é mais tempo de varrer a sujeira por debaixo do tapete ou escondê-la nos cantos da nossa vida. Ele é luz que tudo conhece e tudo vê. Portanto, para quem quer ser cristão de verdade não dá mais para ocultar a sujeira do nosso egoísmo e exploração dos demais. Ele mesmo a denuncia e nos convida diariamente à conversão, isto é, a varrer a nossa vida com a vassoura do amor a fim de que rios de água viva possam brotar de nós.

No fim de mais um Ano Litúrgico, importa que cada um de nós faça um exame de consciência, para dar-nos conta dos frutos que crescem em nós e à nossa volta. É sábio dar-se conta se crescem árvores venenosas ou se crescem árvores cujos frutos e folhas dão vida e saúde à família e a todos os que de nós se alimentam, de alguma forma. Se por ventura notarmos que envenenamos e adoecemos os demais, não desesperemos. Convidemos Jesus para entrar em nós e varrer a nossa vida com a vassoura da sua misericórdia. Não tardarão a brotar vida e saúde nas nossas relações. Se, por outro lado, notarmos que de nós brotam vida e saúde, saibamos que estamos ligados à fonte da vida, que é Jesus, e passemos a louvá-lo sempre mais, pois ele faz maravilhas com o barro que se deixa moldar por Ele.  




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

Nenhum comentário:

Postar um comentário