quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O LUGAR DA EVANGELIZAÇÃO


Ao falarmos em Evangelização surge também a pergunta: por onde começar essa evangelização? Comumente imaginamos que a evangelização deve acontecer, sobretudo, nos púlpitos das nossas igrejas e capelas. Claro que isso se deve a uma prática que aconteceu por anos e anos e até por milênios na nossa Igreja. Por conta disso, ainda hoje, permanece a ideia que a evangelização é tarefa do padre e das lideranças da Igreja no recinto da Igreja.
Olhando um pouco para a prática de Jesus somos obrigados a rever esse modo de pensar e agir. Onde podemos encontrar essa evangelização prática de Jesus? Claro que não podemos ficar com a literatura romanceada e comercial, tipo O Código Da Vinci de Dan Brown. Felizmente o Espírito Santo inspirou homens que nos deixaram os Evangelhos que retratam com segurança a prática de Jesus.
Partindo do Evangelho, vemos em inúmeros textos que Jesus não evangelizava apenas nas sinagogas dos judeus. Vejamos apenas alguns exemplos: O Bom Samaritano - Lc 10,29ss -; O Sermão da Montanha - Mt 5 – 7 -; A Multiplicação dos Pães – Mc 8,1ss; etc. Aliás, segundo os relatos reportados nos quatro evangelhos, Jesus evangelizou muito pouco nesses lugares. A sua evangelização acontecia durante a sua caminhada. O mesmo aproveitava as diversas ocasiões que a vida lhe oferecia para isso. Senão vejamos o episódio do Evangelho de hoje.
Jesus foi convidado por um fariseu para jantar na sua casa. Destacamos inicialmente que Jesus aceitava ir à casa dos pobres e dos ricos, dos que se julgavam puros e os que eram considerados impuros e dignos do inferno. Ele não fazia distinção de pessoas. A todos procurava acolher e evangelizar.
Antes do jantar era costume dos judeus, cumpridores da lei, lavar as mãos e se purificar. Aconteceu que Jesus se colocou à mesa sem esses procedimentos purificatórios. Diante disso o anfitrião o interrogou por que não se havia purificado. Diante da oportunidade que a vida lhe oferece Jesus aproveita para evangelizar ao fariseu e a todos os convidados que lá estavam (cf Lc 11,37-41).
Caríssimos irmãos e irmãs! Eis aí uma dica preciosa para a Nova Evangelização, da qual  tanto se fala nos dias hoje. Precisamos aproveitar de todas as oportunidades que a vida nos oferece. Ela pode acontecer em qualquer lugar, desde que o Espírito de Deus nos conduza. Jesus conduzido pelo Espírito Santo aproveitou de todas as oportunidades para evangelizar, isto é, fazer bem a todos. Num jantar, num passeio, numa caminhada, sobre as ondas do mar, na casa de Pedro, no cume de uma montanha ou na planície, Jesus revelava a todos o amor do Pai.

Quem deve evangelizar? Apenas os padres e as lideranças da Igreja? Esses certamente devem fazê-lo, mas não só eles. Todos os cristãos que experimentaram o amor de Jesus podem e devem empenhar-se na permanente missão de evangelizar a todos e em qualquer lugar. Se assim acontecer, em breve a alegria do Evangelho aparecerá estampada no rosto de muitos irmãos nossos que andam mergulhados no egoísmo e na ganância. Em breve os nossos jovens que surgem das baladas embriagados e drogados experimentarão a verdadeira liberdade e alegria do Evangelho de Jesus. 




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

O GRANDE SINAL


Na vida das pessoas os sinais sempre foram importantes. Sinais de acolhida, sinais de recursa, sinais de entendimento, sinais de dúvida, sinais de aprovação e desaprovação. Os homens e as mulheres primitivos deixaram os seus sinais nas cavernas e grutas. Os nossos grafiteiros e pichadores deixam os seus nas paredes dos nossos prédios e nos muros. Muitos de nós os entendemos como poluição visual, mas para eles são sinais que comunicam algo importante.
Deus também sempre se comunicou por sinais. Na beleza da criação vemos sinais fortes do seu autor. Na força das ondas e no murmúrio da brisa leve temos sinais da força amorosa do nosso Deus. No cântico afinado dos pássaros, na harmonia das cores, no perfume das flores temos sinais do amor de Deus por nós, seus filhos e filhas. Na grande capacidade de amar de uma mãe amorosa nos damos conta do poder de Deus, isto é, do amor sem limites.
Percorrendo a Palavra de Deus os sinais do amor de Deus são escritos em prosa e versos. Nos salmos, nos cânticos, nos hinos e nas lamentações os sinais da ternura de Deus pelo seu povo são inúmeros. Os Profetas e os Salmistas são sinais encarnados do zelo de Deus pelo seu povo. Finalmente João Batista anunciou a vinda do Grande Sinal. Ele mesmo o prepara com jejuns e o batismo de penitência.
Eis que o grande sinal é indicado pela estrela de Belém. Uma grande luz brilhou nas trevas, conforme preanunciou o profeta Isaías. Os magos o reconhecem e lhe prestam culto. Porém a maioria o ignora e continua procurando pequenos sinais.  O Evangelho mostra multidões junto ao Grande Sinal pedindo a ele que faça pequenos sinais para que possam crer. Aí está a grande cegueira humana. Não reconhecer a Jesus como o maior Sinal do Amor de Deus para com todos os seus filhos e filhas.
Queridos irmãos e irmãs! Nós católicos não podemos mais cair nesse erro. Correndo atrás de pequenos sinais, na lua, nas estrelas, nas imagens que choram etc., quando o Grande Sinal está conosco. Ele mesmo prometeu que estaria conosco todos os dias até o fim do mundo (cf. Mt 28,20). Se verdadeiramente somos pessoas crescidas na fé, nós tomamos posse do maior sinal do Amor de Deus em Jesus de Nazaré e paramos de correr atrás de sinaizinhos para satisfazer a nossa incredulidade.
De fato, Jesus de Nazaré, é o maior sinal do Amor de Deus. Ele é a pérola preciosa por excelência, pela qual vale a pena vender todas as demais. Ele é o Sacramento do Pai, do qual decorrem e tomam sentido todos os demais sinais. Quem fez experiência concreta desse amor infinito não corre mais atrás de pequenos sinais, mas procura saciar a sede da sua alma, bebendo água pura desse poço de graça, alegria e paz.

A nossa querida Mãe Maria, surge indicando para os casais e para as famílias esse Grande Milagre, isto é, Jesus de Nazaré. Ela sempre apareceu indicando o seu filho Jesus. Nas Bodas de Caná, pede que façam a vontade do seu Filho. Uma vez colocada em prática e a alegria volta àquele casamento. Em Aparecida aparece negra para recordar que o seu Filho veio trazer vida para todos, inclusive para os negros.




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

SENHOR ENSINA-NOS A REZAR


No tempo de Jesus havia muitos deuses e muitos modos de orar. Os fariseus faziam suas orações em praça pública, outros ofereciam sacrifícios para agradar aos deuses e atrair sobre si e sobre os seus a proteção. João Batista ensinou os seus seguidores a rezar e a fazer diversos tipos de penitências preparando assim a vinda do Messias.
Com a chegada de Jesus algo novo vai surgindo. Jesus tem um modo pessoal de rezar. Costuma ir à sinagoga, mas não sabemos se rezava salmos, como faziam os judeus.  Ele se dirige ao Pai chamando-o de Abá, isto é, papai. Portanto, com uma grande intimidade. Ele não é adepto de sacrifícios e penitências à maneira dos escribas e fariseus. Ele também não é de muitas palavras, pois afirma que o Pai sabe de antemão o que o seu filho e filha necessitam.
Os seus seguidores, mais do que ele reza, estão atentos aos seus atos que decorrem da sua nova forma de rezar. Entusiasmados com os frutos da sua oração eles se aproximam e pedem que os ensine a rezar do jeito que ele reza. Não estão interessados numa oração formal e vazia, mas numa forma de rezar que transforma a maneira de viver o dia a dia. Diante disso, Jesus os ensina a rezar o Pai Nosso.
Adianto dizendo que o Pai Nosso não foi e não é uma oração formal, como podemos pensar.  Ela é uma oração que envolve um novo modo de viver. É uma oração que leva a uma ação concreta que chamou a atenção dos discípulos de Jesus. Em suma, ela é um plano de vida nova diante de Deus e diante dos irmãos.
Para certificar-nos do que estou falando, meditemos a primeira parte, isto é, Pai Nosso. Quando dizemos Pai Nosso estamos reconhecendo que temos um Pai que nos deu origem e, portanto, lhe devemos obediência e respeito. Não podemos esquecê-lo e muito menos menosprezá-lo como se não tivéssemos origem. Quem despreza as raízes cedo ou tarde acaba tombando como a árvore sem raízes.  Jesus se dirigia ao Pai como Abá, ou seja, papai. Com isso revela uma grande intimidade com o Pai e não uma relação formal e distante. Certamente ele ensinou os seus e a nós que o seguimos mais tarde a buscarmos essa intimidade de filhos e filhas com o Pai.
 Além disso, ao dizermos Pai nosso, estamos dizendo que o Pai é nosso e não meu. Estamos dizendo que o Pai é de todos os homens e de todas as mulheres do planeta e não apenas dos católicos, ou dos evangélicos. Estamos dizendo que o Pai ama a todos os seus filhos e filhas e não apenas os que vão à missa ou sorriem para nós. O Pai faz cair a chuva sobre todos. O Pai manda o sol para todas as peles e não apenas para algumas que nós julgamos especiais. Com isso, entendemos que somos todos irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai. Se for assim, somos todos da mesma família e um responsável pelo outro, pois ele é nosso irmão.
Como filhos do mesmo Pai e membros da mesma família somos todos amados pelo Pai e chamados a fazer o mesmo com nossa origem e com os nossos irmãos e irmãs. Aliás, não podemos dizer que amamos a Deus se não amarmos os nossos irmãos, nos ensina São Tiago.  Não podemos mais isolar-nos no egoísmo dizendo que os outros se danem.
 Somos responsáveis pelo nosso irmão que passa fome. Por isso, Jesus ensina-nos a pedir o pão nosso e não apenas o pão meu, como fazem os egoístas. Lembro-me de uma senhora pobre de Pinhais – PR, que ia fazer mercado e comprava pacotes pequenos juntos com pacotes grandes de arroz. Na minha visão de economista questionei-a por que gastava mais com os pacotes pequenos se podia comprar apenas pacotes grandes? Ela me respondeu que estava fazendo isso pensando nos pobres que iriam pedir na sua casa. Claro que isso me fez pensar na oração que transforma a vida, que Jesus nos ensina hoje.
Além do pão material, não podemos mais negar o pão do perdão, se rezamos como Jesus rezava. Somos chamados a dar o pão da misericórdia e perdão a todos os nossos irmãos e irmãs que nos ofendem na caminhada da vida, pois o nosso Pai não se cansa de nos perdoar e nos acolher no banquete da vida. 




Pe. Arlindo Toneta  -  Pároco 

Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A VIRTUDE SERVIDORA

         Dentro da nossa realidade aparentemente sempre mais egoísta, na festa de Nossa Senhora do Rosário, Maria de Nazaré surge como aquela que apresenta o melhor da beleza da mulher, isto é, a sua capacidade de escutar e servir a Deus e à comunidade. Essa beleza, que não conta muito para o ibope da nossa mídia é, na verdade, a que faz resplandecer a verdadeira face de Deus na carne humana. Beleza permanente e que, ao contrário da fugaz beleza estética, se eterniza no Céu.  
            Maria é a rainha dessa beleza fantástica que encantou a Deus e encanta a milhões de membros da Igreja do seu filho Jesus de Nazaré. Por isso mesmo, ela foi coroada como rainha do Céu e da terra. Coroa essa que não foi usurpada, mas confeccionada por ela pela sua constante disposição de estar à escuta de Deus e das necessidades do seu povo.  Não mediu esforços e nem sacrifícios. Não ficou estática diante da possibilidade das pessoas ou do marido não a entenderem. Priorizou sempre a vontade de Deus e a necessidade da comunidade.
            No Evangelho (Lc 1,26-38) ela, como toda a pessoa humana, apresenta a Deus as suas dificuldades de entender o projeto divino, mas nem por isso se recusa a aderir ao mesmo. Mesmo sem saber o que a aguardava, em termos de alegrias e sofrimentos, uma vez certa de que aquela era a vontade de Deus, Maria dá o seu Sim generoso e permanente. Não dá um sim condicionado e temporário, como muitos de hoje fazemos. Sim até a primeira dificuldade. Sim até que haja dinheiro na conta. Sim até que você me dê prazer. Maria surge como a mulher que diz Sim a Deus, animada pela virtude de servir com prazer e com todas as dores que viriam. Ela não coloca em primeiro lugar o prazer, mas a vontade de Deus.
            Por isso, ela é a rainha servidora, modelo de todas as mulheres que desejam entrar para a Igreja, para a família e a sociedade como servidoras. A sua beleza continua a resplandecer no Céu e a influenciar os seus filhos e filhas adotivos, que são todos os homens e mulheres de boa vontade, conforme cantaram os anjos sobre a manjedoura de Belém.
        Diante da Igreja nascente, amedrontada pela morte de Jesus, Maria reúne os apóstolos e seguidores do seu filho no cenáculo e os anima a pedir o Espírito Santo, que revelaria toda a verdade (cf At 1,12-14). Com Pentecostes, a Igreja, como fermento, vai se espalhando pela massa da humanidade, levedando milhares de homens e mulheres com a virtude do amor servidor manifestado, por excelência, por Jesus e pela sua Mãe Maria.
            Em 1531 em Guadalupe, 1571 na Batalha de Lepanto, 1717 em Aparecida, Maria continua a servir os seus filhos e filhas. A mãe servidora continua protegendo os seus filhos, mesmo depois da sua passagem pela terra. Não é porque já está na plenitude de Deus que sessa a virtude servidora, mas ao contrario, se intensifica mais ainda. No amor de Deus se estende a todos os seus filhos e filhas ao mesmo tempo.

           Queridas mulheres e caros irmãos! Eis uma dica para a nova evangelização. Não podemos mais evangelizar apenas com palavras, que seguramente são importantes. A virtude servidora de Maria nos ensina que a disposição de escutar a Deus e servi-lo em cada irmão alavanca a Nova Evangelização, e nos leva a superar a tristeza e inebriar-nos da alegria do Evangelho.




Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

A VINHA DO SENHOR

          Qual é mesmo a vinha do Senhor, da qual o Evangelho de hoje (Mt 21,33-43) está falando? Trata-se por acaso de uvas niágara ou bordeau? Certamente que Jesus não era vinhateiro e nem enólogo e, por isso mesmo, não estava ensinando a respeito de arrendamento de uvas para vinhos finos. Estava partindo da realidade das vinhas, muito conhecida na região e na época, para ensinar a respeito da Vinha de Deus.
            Queridos irmãos e irmãs, qual é a vinha do Senhor? Nós somos parte viva da vinha do Senhor, assim como o povo de Israel, daquele tempo era a vinha especial do Senhor Deus. Vinha que o Senhor havia cuidado de modo especial livrando-a de inúmeros inimigos e por isso mesmo esperava muitos frutos de gratidão, amor e bondade. Na verdade, produziu muitas uvas azedas, ou seja, perseguiram os profetas, venderam a José, mataram a uns e expulsaram a outros. Finalmente mataram o Filho Jesus para tomar posse integral da herança.
            Queridos leitores! Em nossos dias o povo de Deus é a vinha do Senhor. Cada um de nós fazemos parte dessa vinha plantada aqui e agora por Deus. Plantada com imenso amor para que produzamos toda sorte de frutos de amor e bondade. Frutos esses que se destinam a alimentar os irmãos e irmãs que de nós se aproximam com fome e sede. Deus continua enviando para junto de nós muitas pessoas para receber o dizimo, a caridade, o sorriso, o abraço, o perdão, a compreensão, a ternura, o cuidado a esperança e outros frutos bons. Como os acolhemos? O que estão encontrando em nós, vinha do Senhor?
        Quantas esposas procuram junto aos seus maridos aconchego, ternura e misericórdia, mas só encontram julgamentos, palavrões e descaso! Quantos maridos machucados pelas suas quedas que não encontram compreensão e perdão junto àquelas que juraram fidelidade até a morte! Quantos filhos que chegam junto ao pai e encontram apenas azedume e broncas! Quantas filhas que recebem das mães filmes de violência, bens materiais, mas não recebem um abraço de ternura e de estimulo positivo! Quantos professores que apenas passam conteúdos programáticos desprovidos de amor e bondade! Quantos sacerdotes que dão ao povo a lei e as normas secas da Igreja, mas descuidam da acolhida misericordiosa e repleta de bondade!
            Com a sua Palavra Jesus está dizendo que Deus espera de nós, sua vinha, muitos frutos. A glória de Deus é que produzais muitos frutos bons. Não que Deus, em si, necessite deles, pois Deus é pleno e não necessita nada de ninguém. Quem precisa são os filhos de Deus. Deus considera feito a ele tudo o que fazemos aos demais irmãos. Os irmãos não querem frutos azedos, que azedem e matam a vida, mas frutos de acolhida, de misericórdia, de gratidão, de partilha, de serviço gratuito, de perseverança e de alegria evangélica. A alegria de Deus é que produzamos muitos frutos de amor e bondade em favor dos irmãos e das irmãs.
            Queridos irmãos! Peçamos a graça de sermos a vinha do Senhor, que jamais afasta as suas raízes do Deus revelado por Jesus de Nazaré, e assim possamos produzir bons frutos, que alimentam, vivificam e alegram a vida de todos os irmãos e irmãs que se achegam a nós. 





Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A LIBERDADE

          Eis um valor que nós prezamos muito e brigamos quando alguém nos priva dele. A revolução francesa a colocou como um dos pés do tripé que sustenta a sociedade: Fraternidade, igualdade e liberdade. Os jovens, particularmente os jovens, reclamam muito dos pais quando lhes parece que são privados dela. Nota-se em cada ser humano um anseio de liberdade. Na verdade a liberdade existe ou é apenas um sonho plantado pelo criador em cada ser humano?
            A Palavra de Deus (Lc 9,57-62) nos apresenta algumas pessoas desejosas de seguir Jesus, mas este logo apresenta a realidade das criaturas. Estas, normalmente, são apegadas a famílias, casas, terras, pessoas, lugares, status, carros, títulos, tocas, ninhos, etc. Apegos estes que dificultam o seguimento radical de Jesus. Jesus, por outro lado, é totalmente livre. Livre da sua família, livre de bens materiais, livre de esposa e até de residência. Ele é totalmente livre para viver o amor do Pai junto aos mais necessitados.
         Os que desejam segui-lo, em primeiro lugar, necessitam dar-se conta da sua realidade humana de criaturas apegadas. Tomar consciência que esses apegos dificultam a verdadeira liberdade para o seguimento do Mestre, que é totalmente livre para amar e ser amado. Sem negar essa realidade humana, pedir a Deus a graça da libertação. Libertação essa que não se dá num piscar de olhos, mas que dura a vida inteira, num processo que requer esforço pessoal e confiança naquele que efetivamente pode nos libertar.
            Jesus está dizendo para os que desejam segui-lo na radicalidade que necessitam desapegar-se dos seus ninhos de conforto, isto é, das suas famílias, dos seus amigos, dos seus bens para serem mais livres, à sua semelhança. Serem livres não para dizer que não possuem compromisso com ninguém, como pensam e fazem os libertinos, que procuram levar vantagens sobre todos.  Ao contrário, desapegar-se o máximo para assumir o compromisso de amar a todos e a qualquer momento como Jesus fazia. Eis a proposta de Jesus a todos os que querem ser discípulos missionários dele.
            Portanto, queridos irmãos e irmãs, a liberdade, proposta por Jesus, não combina com a liberdade com a qual muitos jovens e adultos sonham, ou seja, de fazer o que querem, mesmo que resulte em prejuízo de si e dos irmãos. A liberdade que brota do Evangelho é um esforço constante para desapegar-se de pessoas, de bens, de lugares, de ideias, de títulos, enfim de tudo o que nos torna menos livres para amar como Jesus amou. 
               Queridos pais e demais educadores! Eis uma tarefa inadiável. Eis uma missão importante para iniciar o mês das missões. Missão essa de evangelizar o nosso modo de pensar e de agir em primeiro lugar. Deixar que o Evangelho nos recrie e assim podermos, com mais liberdade, viver a alegria de servir no amor e com amor.  Em segundo lugar, urge que iniciemos o processo de educar os filhos, os alunos e os catequizandos para a verdadeira liberdade e assim estes possam descobrir, quanto antes, a alegria de tudo fazer na liberdade amorosa. 





Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR

DIANTE DA RECUSA

            Muitas e muitas vezes não somos acolhidos por pessoas, por instituições e até por comunidades eclesiais. Acontece isso porque somos de outra cor, porque somos pobres, porque somos mulheres, porque somos portadores de alguma deficiência ou por alguma outra razão. O fato é que as portas se fecham para nós. Diante dessas portas que se fecham como reagimos? Em primeiro lugar não nos sentimos bem diante disso. As nossas faces normalmente ficam vermelhas expressando toda a nossa raiva. Muitas vezes partimos para o revide com impropérios e desejos de vingança.
           No dia em que a Igreja celebra o patrono dos biblistas, isto é, São Jerônimo, a liturgia nos apresenta no Evangelho de Lucas um episódio de rejeição. O Evangelista narra que Jesus está indo para Jerusalém e enviou alguns discípulos à sua frente para preparar pousada. Eles entraram numa aldeia de samaritanos e estes não quiseram recebe-los, pois faziam menção que estavam indo para Jerusalém e os samaritanos não se davam bem com os habitantes de Jerusalém. Por essa razão fecharam as portas para Jesus e para a sua turma. (cf. Lc 9,51-56).
            Observemos a reação dos discípulos, que certamente estavam indignados com o não acolhimento da sua proposta. Perguntaram a Jesus: “Senhor, queres que ordenemos desça fogo do céu para consumi-los?” Notem a costumeira reação humana diante da falta de acolhida por parte dos demais. Os olhos ficam cegos de raiva e tentam destruir os obstáculos a ferro e a fogo.
        Diante dessa natureza humana Jesus lança a semente do evangelho dando a entender que é um direito dos demais não recebê-lo e aos seus seguidores. Devem ter as suas razões para agir dessa maneira. Importa não nivelar-se a eles, partindo para o revide, mas respeitar a sua decisão, mesmo que equivocada. Essa é a forma de reagir de Deus diante das recusas humanas. Essa deveria ser a forma cristã de reagir diante do mau acolhimento de algum irmão ou irmã. Essa forma respeitosa de acolher o seu fechamento, pode ser a chave para fazê-los rever o seu posicionamento e apressar a conversão.
            Além disso, Jesus aponta para os seus as demais possibilidades que estão à sua frente. Não é porque uma porta se fecha que a caminhada missionária para. Anima-os a ir em frente para outro povoado onde provavelmente encontrarão acolhida. Portanto, não é o fechamento de alguém que nos paralisa na caminhada rumo à Jerusalém Celeste, para onde estamos indo. É fundamental, para o seguidor de Jesus, caminhar para Deus apesar dos outros.
            Caríssimos irmãos! Peçamos a graça de acolher esse novo modo de reagir diante da falta de acolhida que podemos encontrar na nossa caminhada rumo ao Céu. Modo esse que manifestará ao mundo que somos evangelizados e colocamos em prática a vontade do Pai. 




Pe. Arlindo Toneta -  Pároco 
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança – Pinhais - PR