Acredito piamente, que essa
afirmação de Jesus pode apontar a direção para o resgate da identidade de
muitos irmãos e irmãs, que se dizem cristãos, mas que ainda hoje não sabem bem
o que são. Muitos pensam que são bancos para receber e acumular dinheiro e
capitais, lutam e brigam o tempo todo em função disso. Outros entendem que são depósitos de
alimentos, pois o tempo todo pensam nele, trabalham e vivem para comer. Um
grupo sente-se como biblioteca fechada, cheia de saber e superioridade, com
pouca disponibilidade para ensinar.
Jesus afirma que veio do Céu,
isto é, de Deus, como pão. Veio como pão vivo para alimentar a todos os que querem
alimentar-se dele. Não é um pão que se impõe a ninguém, mas que está sempre
disponível a alimentar os que desejam desabrochar para a vida eterna. Está à
porta de cada um dos seus irmãos como pão vivo, disponível a entrar e alimentar
a quem quiser. Não entra para identificar pecados e condenar, mas para perdoar,
vivificar e animar quem o acolhe.
Na vida prática Jesus passou
no mundo verdadeiramente como pão vivo. Passou e alimentou a todos os que dele
se aproximaram. Aos doentes saciou a fome de saúde, aos tristes saciou a fome
de alegria, aos escravos saciou a fome de liberdade para amar, às mulheres e
crianças saciou a fome de acolhida, etc. O tempo todo esteve à disposição dos
famintos e procurou repartir-se com todos para saciar a fome mais profunda do
ser humano, isto é, de amar e ser amado.
Finalmente, deixou-se no
Sacramento da Eucaristia como pão vivo descido do Céu, para saciar a fome de Amor,
isto é, de Deus, de todos os homens e mulheres de boa vontade. Em cada Missa
continua a oferecer-se como pão da palavra, pão do perdão, pão da Eucaristia
para saciar a fome de Vida Eterna que existe, no fundo do coração, em cada ser
humano.
Em Jesus esconde-se a nossa
verdadeira identidade cristã. Também nós descemos do Céu, isto é, viemos de
Deus. Antes de assumirmos a carne humana, éramos um pensamento de Deus. Viemos
de Deus, à semelhança de Jesus, para também sermos pão para alimentar a vida
dos demais irmãos. No projeto do Criador não somos um depósito de coisas, de
comida, de bebida, de ouro ou prata, mas pão para alimentar a vida dos demais
irmãos. Claro que aqui não há nenhum desprezo pelas coisas e bens que nos
auxiliam a sermos mais pão para os demais.
A finalidade desta reflexão é
de chamar a atenção para a inversão do projeto divino que muitos e muitos
homens e mulheres fazem, ainda hoje, com a consequente perda de identidade cristã.
Em vez de assumirem a sua identidade de pão da vida, no seguimento de Jesus,
tornam-se pedras de tropeço que ferem e matam os irmãos. Tornam-se pão azedo e
duro que envenena a vida da família, dos vizinhos e da comunidade. Como
caramujos muitos católicos fecham-se privando a comunidade do pão do abraço, da
acolhida, do sorriso, etc.
Nenhum comentário:
Postar um comentário