terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CONSTRUIR CASAS PARA DEUS OU ABRIR PORTAS?


 Muitas pessoas se propõem a construir capelas e templos para Deus. Quanta gente que encontrei, sobretudo, em Minas Gerais, que tinha orgulho de ter edificado uma capela na sua fazenda. Por conta de uma promessa, ou para ter a proteção de algum santo sobre o seu rebanho e demais propriedades. Nisso tudo, nada de mal, revela a alma religiosa do nosso povo.
Mesmo na minha comunidade paroquial, sei do empenho de inúmeras pessoas e empresários para edificar a Matriz. Festas e mais festas, rifas e mais rifas, doações, mutirões sem conta já aconteceram em vista da edificação de um templo para Deus. Em tudo isso não vemos nada de mal. Vemos a doação generosa da comunidade, o empreendedorismo de algumas pessoas e o espírito religioso da comunidade.
Porém, a pergunta continua de pé. Qual é a motivação que nos leva a edificar casas para Deus? É para aproximá-lo da comunidade ou para colocá-lo à distância a fim de que não nos questione nos nossos relacionamentos comerciais e humanos? É para que seja o coração da nossa comunidade ou para que fique relegado ao dia do Senhor, ou seja ao domingo?
A Palavra de Deus do quarto domingo do Advento, leva-nos a refletir um pouco mais sobre isso. Em Samuel (2 Sm 7,1-16) encontramos o Rei Davi que se propõe a construir uma casa de cedro para Deus. A princípio é um gesto louvável, mas Deus, através do profeta Natã o leva a compreender algo mais importante do que construir um templo para Deus. Ele compreende que Deus não quer ser enclausurado em casas feitas pela mão do homem, mas é um Deus que caminha com o homem e participa das suas lutas e vitórias. Um Deus que lhe apraz caminhar com o seu povo e tudo o que existe foi feito por Deus. Entende que Deus preparou uma terra, uma casa, uma habitação para o homem viver em paz.
A melhor resposta para as nossas perguntas foi dada por Maria. Em Lc 1,26-38) Maria é visitada por Gabriel, isto é, pelo Arcanjo do Senhor, a fim de comunicar a ela qual era o projeto de Deus a seu respeito. Meio confusa Maria interroga o grande anjo para certificar-se da vontade de Deus. Uma vez esclarecida ela responde colocando-se a serviço desse projeto divino. Ela coloca o templo do seu corpo à disposição de Deus. Ela abriu a porta do seu coração para acolher e abrigar o Filho de Deus. A princípio não edifica um templo para Deus, mas coloca o templo do seu corpo, que o recebeu de Deus, a serviço dele.
Neste tempo em que se aproxima o Natal do Senhor, a Palavra de Deus, quer nos ensinar que mais importante do que construir templos para Deus é abrir a porta do nosso coração para que Deus habite nele. Mais importante do que construir Igreja de cedro ou alvenaria é abrir a porta das nossas casas para que Deus habite nelas e ilumine a todos os que nelas habitam. Mais importante do que pintar Igreja e investir em alfaias é abrir-se para Deus a fim de acolhê-lo em nós, no nosso casamento, nas nossas empresas, nas nossas cidades e assim, cheios do Deus da Paz celebrar com toda a dignidade a festa de mais um Natal.
Não que construir uma Igreja não seja importante, mas precisamos estar atentos para que ela não seja uma prisão para Deus a fim de que ele fique longe de nós e dos nossos negócios. Não podemos mais ter uma vida esquizofrênica, isto é, enclausurar a Deus numa casa de pedra e nós caminharmos com nossa ganância e egoísmo na construção de mais uma babilônia na família e na sociedade em geral. Conforme a literatura de cordel, Natal é Deus com nois e nois com Deus.

Portanto, caro leitor, peçamos a graça de termos sempre a atitude de Maria, isto é, estarmos sempre à escuta de Deus a fim de acolher o seu projeto natalino. Como em Maria, Deus quer encontrar abrigo em nosso coração. Tiremos todo o egoísmo e autossuficiência que nos fecha para Deus e para os irmãos. Que a consciência de que somos templos dele nos leve prioritariamente a entregar a chave do nosso coração em suas mãos, a fim de que ele entre em nós e conosco caminhe! Em comunhão com Ele, podemos também, edificar templos como sinais visíveis da sua presença entre nós, onde a comunidade se reúne para louvá-lo. 




Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

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