Olhando ao nosso redor vemos
inúmeros irmãos e irmãs que se sentem excluídos e marginalizados. Excluídos por
preconceitos raciais e religiosos temos um grande número. Excluídos porque são
tidos como anormais e, por isso mesmo, não se enquadram nos esquemas da
normalidade cultural. Rejeitados pelos pais porque vieram sem ser planejados. Excluídos
por conta da insegurança dos líderes eclesiais que têm medo de perder o seu
lugar nos grupos da Igreja. Quanta dor e sofrimento por causa da exclusão!
Quantas lágrimas rolam do rosto dos nossos irmãos por sentirem-se fora da
comunidade, das famílias e da Igreja! Eis uma realidade dura e desafiadora para
todos nós que nos dizemos seguidores de Jesus.
Diante disso queremos jogar um
pouco de luz e esperança para todos. Essa luz vamos encontrá-la, inicialmente,
no profeta Jeremias (Jr 31,7-9) onde o Senhor afirma pela boca do seu
mensageiro: “ Exulta de alegria meu povo ... Eu os reunirei desde as
extremidades da terra. Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre
preces, como um pai acolhedor ...”. Que linda promessa de Deus! Deus não apenas
promete, mas realiza as suas promessas, a seu tempo.
Tanto é verdade que Deus
enviou o seu filho Jesus para concretizar essa promessa e outras mais. Uma
amostra dessa realização podemos ver no Evangelho de Marcos (Mc 10,46-52) onde
ele ouve o grito do excluído da comunidade. Trata-se do cego Bartimeu, filho de
Timeu, que era cego e mendigo e estava sentado à beira do caminho. Vivia das
esmolas de alguns transeuntes que julgavam estar fazendo caridade. Quando pedia
ajuda a alguém importante que por lá passava para sair daquela situação era
calado dizendo: “fica quieto no seu canto e não incomode”.
Para confirmar isso, notem o
que aconteceu quando ele ouviu dizer que Jesus estava passando por lá. Ele se
pôs a gritar pedindo ajuda e o texto do Evangelho afirma que “muitos o
repreendiam para que se calasse” (Lc 10,48a). Não fosse a insistência dele,
apesar da comunidade, talvez tivesse permanecido na mendicância a vida toda.
Mas ele gritou mais forte e Jesus o ouviu e mandou chamá-lo. Ao ouvir que Jesus
o chamava e queria acolhê-lo deu um pulo de alegria e foi até Jesus. Este o
acolheu e o curou para que seguisse no caminho e não mais permanecesse na
marginalidade e na mendicância.
O texto afirma que após essa
acolhida e cura o jovem abriu os olhos e viu o verdadeiro caminho que é Jesus e
seguiu as suas pegadas alegremente. Eis, queridos irmãos e irmãs o projeto de
Deus! Projeto esse que não deseja que nenhum dos seus filhos seja excluído e
marginalizado e tenha que viver como mendigo. Em sã consciência ninguém quer
viver como mendigo, ou seja, das migalhas que caem das mesas dos demais, mas
todos buscam o seu lugar na sociedade e na comunidade eclesial. Na verdade,
esse lugar existe, e ninguém pode ocupar o lugar do outro.
Jesus veio ensinar que todos somos
filhos de Deus e podemos entrar no caminho, que é Ele mesmo, para recuperar a
nossa dignidade de filhos e filhas. Ele veio para revelar o Caminho, que é Ele
mesmo, e nós seus discípulos missionários devemos facilitar esse encontro com
Jesus e não dificultá-lo, marginalizando a muitos.
Como fazer isso na prática
quotidiana? Inicialmente, ver a pessoa humana como filho e filha de Deus, portanto
como o valor maior da criação. Consequentemente estar sempre pronto para
acolhê-la como um presente de Deus e atendê-la nas suas necessidades
fundamentais de filho e filha de Deus. Manter as portas do nosso coração e das
nossas igrejas sempre abertas para acolher a todos sem exclusões. Entender que
ninguém tira o lugar de ninguém na comunidade, mas cada um ocupa o seu lugar,
assim como os tijolos entram na construção ocupando o seu lugar. Aliás, cada um
chega na comunidade para enriquecer a todos e a cada um. Portanto, sem medo e
sem julgamentos, facilitar e ajudar a todos a assumirem esse lugar, sendo assim
construtores da comunidade e não mais demolidores, com a nossa insegurança e
inveja, que lamentavelmente, ainda infestam as nossas comunidades.
Pároco da Paróquia Nossa Sra. da Boa Esperança
Pinhais - PR
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