Reflexão do Arcebispo do Rio de
Janeiro, Cardeal Tempesta, por ocasião do Dia Mundial do Doente, em 11 de
fevereiro
Por Card. Dom Orani Tempesta, O.Cist.
RIO DE JANEIRO, 10 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org)
- A doença nos mostra o
quanto somos limitados. A busca da saúde e a preocupação com a dignidade da
assistência fazem parte de nossa faina e de nosso próprio instinto. Diante de
tantas circunstâncias e situações, a Pastoral dos Enfermos é uma presença da
Igreja em todos os âmbitos ligados a esta situação. É o anúncio de que Deus
está presente em nossa vida, de maneira especial nesse momento de fragilidade
em que aprendemos a trabalhar de um outro modo e a ser mais contemplativo, além
do esforço de arrancar o mal pela raiz. É o que celebramos na Unção dos
Enfermos. Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do
Senhor sofredor e glorificado, para que os alivie e salve. Exorta os mesmos a
que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo, e contribuam para o
bem do povo de Deus.
O Sacramento da Unção dos Enfermos, que podemos
receber mais de uma vez quando passamos por doenças graves que necessitam de
cuidados, é essa presença de fé e esperança nesse momento da vida. Costuma-se,
na celebração, o padre dar ao doente o Sacramento da Confissão, com o propósito
de o doente também arrepender-se de seus pecados e viver esse momento na graça
de Deus.
Um importante requisito para a realização do
Sacramento é a vontade do doente em querer recebê-lo. A família pode
aconselhá-lo, chamar o padre a casa dele e propor o Sacramento, mas sem impô-lo
ao doente. Recebido com fé, o Sacramento dará muitos frutos e graças.
Jesus sempre teve um grande carinho pelos doentes.
Quando os judeus os desprezavam, porque consideravam a doença um castigo de
Deus, Ele os acolhia com amor e os curava. “E passando, Jesus viu um cego de
nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe: Mestre, quem pecou, este ou seus
pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele nem seus pais, mas foi
para se manifestarem nele as obras de Deus” (Jo 9, 1-3). Jesus quis que aqueles
que o acompanhavam continuassem sua missão, por isso deu a seus discípulos o
dom da cura. “Então os discípulos partiram e pregaram para que as pessoas se
convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os
com óleo” (Mc 6, 12s). O Senhor ressuscita e renova este envio e confirma,
através de sinais realizados pela Igreja, ao invocar seu nome: "Quando
colocarem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados" (Mt 16, 18).
Para aprofundar este tema é que temos a
oportunidade de viver mais um Dia Mundial do Doente. Ele foi instituído por São
João Paulo II em 1992, e é celebrado, anualmente, em 11 de fevereiro, na
festividade de Nossa Senhora de Lourdes.Em nossa Arquidiocese, além da
celebração na Basílica de Lourdes, teremos missa especial em hospitais de cada
Vicariato com os agentes da pastoral, doentes, familiares, médicos, enfermeiros
e funcionários para aprofundar esta proximidade da Igreja junto àquele que
sofre.
Para reflexão desse dia, a Santa Sé divulgou, no
dia 30 de dezembro de2014, amensagem do Papa Francisco para esse XXIII Dia
Mundial do Doente.
O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do
livro de Jó: “Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (29,15). O
Papa Francisco encoraja a fazer esta meditação na perspectiva da “sapientia
cordis”, ou seja, da sabedoria do coração, e frisa que sabedoria do coração
significa servir o irmão. Com efeito, as palavras de Jó evidenciam o serviço
aos necessitados – insiste o Papa –, recordando aqui as pessoas que
permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda
para se lavar, vestir e alimentar.
Este serviço, especialmente quando se prolonga no
tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns
dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses ou até anos,
inclusive quando ela já não é capaz nem de agradecer. E, no entanto, que grande
caminho de santificação é este! – exclama o Papa. Em tais momentos, pode-se
contar, de modo particular, com a proximidade do Senhor, sendo, também, de
especial apoio a missão da Igreja – escreve o Papa –, que continua: sabedoria
do coração é sair de si para ir ao encontro do irmão.
Às vezes, o nosso mundo se esquece do valor
especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela
rapidez, pelo frenesi do fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da
gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por
detrás dessa atitude, há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do
Senhor que diz: “a Mim mesmo o fizestes”. Por isso, o Papa Francisco
recorda uma vez mais a “absoluta prioridade da ‘saída de si próprio’” para
se pôr ao serviço do irmão necessitado.
Na mensagem, o Papa Francisco fala das sabedorias:
1- Sabedoria do coração; 2- Sabedoria do coração é servir o irmão; 3- Sabedoria
do coração é estar com o irmão; 4- Sabedoria do coração é sair de si ao
encontro do irmão; 5- Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem
julgá-lo.
Ao concluir a mensagem, o Papa Francisco se remete
a Maria Santíssima, pois foi ela que acolheu em seu ventre a Sabedoria
Encarnada, que é Jesus Cristo, e depois recitou uma prece: “Ó Maria, Sede
da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam
deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria
experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira
sabedoria do coração”.
Temos um belo serviço de visita aos enfermos, que
vejo com alegria que cada vez melhor se organiza. Agradeço a Deus e a tantos
irmãos do clero que se desdobram em ser essa presença. Convido outros irmãos e
irmãs para que se associem nessa missão evangelizadora e importantíssima, seja
nas visitas aos hospitais, seja nas residências. Eu mesmo gostaria de ter mais
possibilidade de ter essa presença, e, quando consigo, agradeço a Deus, como
pude fazer algumas vezes durante a Trezena de São Sebastião.
Este é um convite que faço a todos os
arquidiocesanos, para que, neste Ano da Esperança Cristã, levemos a esperança
que é Cristo para os que estão nos leitos hospitalares, ou em suas residências
presos a uma cama, enfermos. Tenho visto muitos exemplos e sinais dessa
presença.
Que a luz divina do Cristo Ressuscitado brilhe nos
corações de todos os enfermos e nas suas famílias. Que Maria Santíssima,
Auxiliadora dos Cristãos, Mãe dos Enfermos e Consoladora dos Aflitos nos ensine
a aceitar o caminho do sofrimento guiado pela Palavra de Deus, que nos anima e
nos guia ao do Cristo Redentor!
Orani
João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Fonte: Visitar os Enfermos / ZENIT – O mundo visto
de Roma
http://www.zenit.org/pt/articles/visitar-os-enfermos?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch