segunda-feira, 15 de junho de 2015

NÃO ENFRENTEIS QUEM É MALVADO

Na cultura popular usa-se não levar desaforo para casa. Particularmente no Nordeste existe esse costume de enfrentar o outro, mesmo na ponta da faca. Normalmente acerta-se com o individuo na hora e na mesma proporção da agressão e até bem maior para mostrar quem manda naquele terreiro. Parecem os galos disputando as galinhas ou os leões as fêmeas, mesmo que os objetos da contenda sejam um tanto diversos. No Sul não é muito diferente, mas há pessoas que enfrentam o malvado excluindo-o da relação e cultivando animosidades a vida toda. A mídia, por sua vez, aparece dizendo que é preciso fazer justiça, ou seja, fazer o indivíduo que cometeu alguma atrocidade pagar na mesma moeda.
Nesse contexto surge o Evangelho de Marcos (5,38-42), ou seja, na contramão da historia cultural. Recomenda superar o costume milenar de olho por olho e dente por dente. Aliás, esse jeito já foi um avanço, pois antes disso era muito comum o indivíduo que se sentia lesado, lesar o adversário muito mais do que tinha sido prejudicado. Há dois mil anos, Jesus estava ensinando uma nova atitude diante dos adversários. Não enfrentá-los com as mesmas armas. Quem com ferro fere com ferro será ferido, diz o provérbio popular. Jesus está dizendo que os modos antigos de enfrentamento com as mesmas armas só trouxeram violência e não resolveram o problema da violência.
Avançando para águas mais profundas Jesus está dizendo que existe um método muito mais eficaz no combate contra a violência. Está ensinando a eliminar a raiz da violência e não mais continuar usando paliativos. Para extirpar a agressão e a violência do coração humano aponta o caminho do amor aos inimigos. Ensina a oferecer a outra face, ou seja, a não ser violento com os violentos. A ser manso e humilde diante dos agressores. A não reagir com as mesmas armas dos violentos. A rezar pelos inimigos. A fazer bem aos que fazem o mal. Diante dessa nova atitude evangélica os violentos se perguntarão: “O que faz com que esse indivíduo não reaja à minha violência”? “Qual a força nova que existe dentro dele que o torna um ser diferente? ”
Nisto surge o Evangelho, ou seja, a Boa Notícia, para o mundo dos violentos. A nova atitude revela o Evangelho que está sendo vivido e colocado em prática. Esse fermento novo possui um grande poder de fermentar a massa. Pena que a maioria dos católicos, ainda hoje, dá pouco crédito ao Evangelho. Muitos homens e mulheres batizados, e até sacerdotes, ainda acreditam demasiadamente no poder das armas da violência. Parece ignorarem o poder maravilhoso do Evangelho, que pode eliminar de vez a violência e a guerra do nosso meio. Por isso mesmo Jesus pediu e continua pedindo aos discípulos daquele tempo e aos de hoje para não comprem qualquer fermento, mas sim o dele, ou seja, da misericórdia, da bondade e da não violência.
Alegramo-nos profundamente com os 32 casais que estiveram fazendo o Encontro de Casais com Cristo neste último fim de semana (12-14/06/15). Pudemos notar que estavam interessados no novo jeito de se relacionar ensinado por Jesus. Pudemos ver inúmeras lágrimas rolarem dos seus rostos diante do jeito bondoso e misericordioso de Jesus. Nas confissões e conversas em particular ouvimos com frequência que de agora em diante buscarão relacionar-se de um jeito novo, isto é, com o jeito de Jesus.

Peçamos a Deus o Espírito Santo para que nos leve a entender que a violência só poderá trazer violência. Mais do que entender, que já é um passo importante, peçamos a vontade firme de não mais enfrentar os inimigos com as suas armas, mas com as novas armas utilizadas por Jesus. Armas essas da mansidão e da bondade. Armas de misericórdia e perdão a todos, especialmente aos inimigos. Armas da disposição firme de carregar as misérias e fraquezas do outro, a fim de destruí-la no amor e na bondade, para que todos possam participar do banquete da vida. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

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