terça-feira, 30 de junho de 2015

AS TEMPESTADES

Na travessia dos mares da vida surgem grandes ondas e ventos fortes. Naturalmente o ser humano sentirá esses ventos e tempestades como elementos perigosos que põem em risco a sua vida. Certamente o sentimento medo, dispositivo protetor da vida, colocado pelo Criador em cada criatura, entrará em ação e levará essa vida ameaçada a se proteger de alguma forma.
Na Carta Magna dos seguidores de Cristo, ou seja, na Bíblia, encontramos passagens fabulosas sobre as tempestades da vida. Algumas são naturais e não temos o que fazer com elas a não ser enfrentá-las ou se refugiar delas quando for possível. Exemplo: os tornados americanos. Felizmente a tecnologia ajuda a prever esses fenômenos e em tempo a vida é protegida.
No livro do Gênesis (Gn 19,15-29) nos deparamos com a tempestade de fogo e enxofre sobre as cidades de Sodoma e Gomorra. Diante dessa tempestade provocada pelas relações desordenadas dos homens e mulheres, daquelas cidades, a família de Ló busca refúgio no Senhor. Felizmente o encontra e consegue, em parte, salvar-se.
Em Mateus (Mt 8,23-27) o evangelista narra a travessia do mar e a tempestade que põe em risco a vida dos discípulos e Jesus mesmo, que estava no barco dormindo. Eles acordam Jesus e pedem socorro. Este reclama da pouca fé deles e ordena ao vento e ao mar que se aquietem. A natureza lhe obedece e surge a calmaria.
A princípio parece mágica, mas Jesus não é um mágico. Jesus é o nosso Salvador. Ele veio apresentar aos homens e mulheres o poder da fé em Deus, que ordena as nossas relações com a natureza e entre nós e nos leva a enfrentar a vida com serenidade. Ele não veio suprimir as ondas e tempestades naturais da vida, mas veio ensinar o poder da fé, que acalma o coração e nos leva a encará-las com serenidade.
Além disso, ele veio ensinar que Ele está dentro do nosso barco, isto é, dentro da nossa vida. Claro que ele pode estar dormindo em muitos de nós. No desejo da autossuficiência podemos deixá-lo de lado e tentar conduzir a vida à nossa maneira. Podemos até tentar cortar atalhos indevidos, agredindo a natureza, e nisto nos deparar com grandes tempestades provocadas por nós mesmos. Algumas delas podem levar-nos à morte, como ocorreu em Sodoma e Gomorra, mas sempre que recorremos a Deus ele acorda e nos socorre indicando-nos o caminho da vida e da calmaria.

Portanto, caríssimos leitores, diante das tempestades naturais ou provocadas por nós, pelas nossas escolhas equivocadas, não temos outra saída se queremos que a paz e a calmaria envolvam a nossa vida e a da nossa comunidade. A saída é Jesus. Se ele está dormindo em algum canto do nosso barco, vamos acordá-lo e peçamos ajuda. Ele é a porta que conduz à vida. Importa, portanto, acreditar nele e botar o leme na sua mão. Com essa atitude, ele nos ajudará a fazer as melhores escolhas e logo a serenidade tomará conta de nós, da família e da comunidade.





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

JUNTAI TESOUROS NO CÉU

É muito comum encontrar pessoas correndo atrás de tesouros. Tesouros no Japão, tesouros nas serras peladas, tesouros que foram ocultados na segunda guerra mundial, tesouros e mais tesouros. Procurando para que? Muitos o fazem pelo prazer de ostentar riquezas, outros para poder aumentar o poder de consumo diário, outros simplesmente porque endeusaram as riquezas materiais e passam a viver em função delas. Para alcançar esses objetivos as pessoas correm, se estressam e competem sem dó e sem piedade dos demais.
No meio desse corre, corre, surge a Palavra de Deus com a sua preciosa orientação. Não que desaconselhe buscar os bens materiais, mas, mais do que estes, incentiva a buscar os bens do Céu. Buscar os bens materiais para poder viver com dignidade não contraria a Palavra de Deus, que afirma que cada um deve comer o pão com o suor do seu rosto. Além disso, Jesus ensina a ser rico para Deus, ou seja, a juntar tesouros no Céu.
O que é mesmo juntar tesouros no Céu? Jesus nos ensina a investir, sobretudo naquilo que se guarda para o Céu. O que é o Céu? O Céu é Deus, Deus é amor, portanto, nos ensina a investir no amor. Não no falso amor, isto é, no amor egoísta declarado por muitos homens e mulheres a terceiros. O egoísmo travestido de amor não é riqueza para o Céu, mas investimento para o inferno. Inferno este, que muitos e muitos jovens e adultos já estão vivendo nesta vida.
Jesus orienta os seus seguidores a serem ricos de amor. Quantos homens e mulheres se esforçam diariamente na busca desse tesouro! Felizmente eu encontro gente que não se cansa de buscar esse tesouro apesar das tentações. Pessoas que acreditam no amor não desistem desse tesouro mesmo que se saibam traídas pelos seus. Elas continuam investindo na bolsa do amor perdoando e envidando esforços para santificar aqueles que o Senhor lhe confiou.
Jesus afirma que o nosso coração está onde está o nosso tesouro. Diante dessa verdade surge uma pergunta: Onde está o nosso coração? Se ele está amarrado aos bens terrenos e passageiros, e pouco disponível para buscar os bens do Céu, nós estamos sendo maus gestores, segundo o Evangelho. Estamos cegos em relação aos bens eternos.  Estamos investindo prioritariamente naquilo que não nos garante um futuro pleno e feliz. Somos candidatos a encarrar a morte como uma grande inimiga que nos rouba os bens terrenos. A morte será a suprema derrota e não a tomada de posse do tesouro no Céu.

Diante disso tudo, precisamos tomar decisões, pois o Evangelho é uma boa notícia e não uma imposição. “Aquele que te criou sem você, não te salva sem você” afirmou Santo Agostinho.  Podemos investir nos bens passageiros e consequentemente criar o inferno dentro de nós e ao nosso redor, além disso, encarar a morte como nossa inimiga, pois ela nos conduz ao fracasso total. Por outro lado, podemos investir nos bens eternos e, desde já, começar a colher o Paraíso dentro de nós e no nosso entorno. Além dessas conquistas, podemos acolher a morte como nossa irmã querida que nos leva a tomar posse do tesouro no Céu, isto é, no coração de Deus.





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

segunda-feira, 15 de junho de 2015

NÃO ENFRENTEIS QUEM É MALVADO

Na cultura popular usa-se não levar desaforo para casa. Particularmente no Nordeste existe esse costume de enfrentar o outro, mesmo na ponta da faca. Normalmente acerta-se com o individuo na hora e na mesma proporção da agressão e até bem maior para mostrar quem manda naquele terreiro. Parecem os galos disputando as galinhas ou os leões as fêmeas, mesmo que os objetos da contenda sejam um tanto diversos. No Sul não é muito diferente, mas há pessoas que enfrentam o malvado excluindo-o da relação e cultivando animosidades a vida toda. A mídia, por sua vez, aparece dizendo que é preciso fazer justiça, ou seja, fazer o indivíduo que cometeu alguma atrocidade pagar na mesma moeda.
Nesse contexto surge o Evangelho de Marcos (5,38-42), ou seja, na contramão da historia cultural. Recomenda superar o costume milenar de olho por olho e dente por dente. Aliás, esse jeito já foi um avanço, pois antes disso era muito comum o indivíduo que se sentia lesado, lesar o adversário muito mais do que tinha sido prejudicado. Há dois mil anos, Jesus estava ensinando uma nova atitude diante dos adversários. Não enfrentá-los com as mesmas armas. Quem com ferro fere com ferro será ferido, diz o provérbio popular. Jesus está dizendo que os modos antigos de enfrentamento com as mesmas armas só trouxeram violência e não resolveram o problema da violência.
Avançando para águas mais profundas Jesus está dizendo que existe um método muito mais eficaz no combate contra a violência. Está ensinando a eliminar a raiz da violência e não mais continuar usando paliativos. Para extirpar a agressão e a violência do coração humano aponta o caminho do amor aos inimigos. Ensina a oferecer a outra face, ou seja, a não ser violento com os violentos. A ser manso e humilde diante dos agressores. A não reagir com as mesmas armas dos violentos. A rezar pelos inimigos. A fazer bem aos que fazem o mal. Diante dessa nova atitude evangélica os violentos se perguntarão: “O que faz com que esse indivíduo não reaja à minha violência”? “Qual a força nova que existe dentro dele que o torna um ser diferente? ”
Nisto surge o Evangelho, ou seja, a Boa Notícia, para o mundo dos violentos. A nova atitude revela o Evangelho que está sendo vivido e colocado em prática. Esse fermento novo possui um grande poder de fermentar a massa. Pena que a maioria dos católicos, ainda hoje, dá pouco crédito ao Evangelho. Muitos homens e mulheres batizados, e até sacerdotes, ainda acreditam demasiadamente no poder das armas da violência. Parece ignorarem o poder maravilhoso do Evangelho, que pode eliminar de vez a violência e a guerra do nosso meio. Por isso mesmo Jesus pediu e continua pedindo aos discípulos daquele tempo e aos de hoje para não comprem qualquer fermento, mas sim o dele, ou seja, da misericórdia, da bondade e da não violência.
Alegramo-nos profundamente com os 32 casais que estiveram fazendo o Encontro de Casais com Cristo neste último fim de semana (12-14/06/15). Pudemos notar que estavam interessados no novo jeito de se relacionar ensinado por Jesus. Pudemos ver inúmeras lágrimas rolarem dos seus rostos diante do jeito bondoso e misericordioso de Jesus. Nas confissões e conversas em particular ouvimos com frequência que de agora em diante buscarão relacionar-se de um jeito novo, isto é, com o jeito de Jesus.

Peçamos a Deus o Espírito Santo para que nos leve a entender que a violência só poderá trazer violência. Mais do que entender, que já é um passo importante, peçamos a vontade firme de não mais enfrentar os inimigos com as suas armas, mas com as novas armas utilizadas por Jesus. Armas essas da mansidão e da bondade. Armas de misericórdia e perdão a todos, especialmente aos inimigos. Armas da disposição firme de carregar as misérias e fraquezas do outro, a fim de destruí-la no amor e na bondade, para que todos possam participar do banquete da vida. 





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A NOVA ALIANÇA

Costumes - Em algumas tribos Africanas há o costume de selar uma aliança quando um grupo deve enfrentar juntos uma situação difícil. Quando, por exemplo, saem para uma caçada que envolve grandes riscos o grupo se encontra num dia marcado e conversa longamente sobre os riscos e promete permanecer sempre unido, aconteça o que for. As pessoas prometem não desertar, não trair e, sobretudo, defender um ao outro e até dar a vida em favor do outro, mantendo-se assim na unidade. Normalmente essas alianças são seladas com algum gesto ou sinal visível.
Esse costume tem raízes bem antigas. Basta que observemos os nossos irmãos israelitas, que são a raiz do cristianismo. Normalmente usavam o sangue de algum animal oferecido em sacrifício. Duas pessoas que queriam fazer um juramento de fidelidade tocavam com as mãos o sangue das vítimas e, desse modo, tornavam-se irmãos, em cujas veias, corria o mesmo sangue (cf. Fernando Armellini in Celebrando a Palavra - Ano B , pg. 215 . Ed. Ave Maria).
Antigo Testamento - A leitura de Ex 24,3-8 está dentro desse contexto cultural. Moisés passa ao povo as condições dessa aliança e o povo está disposto a cumpri-las. O povo aceita os mandamentos do Senhor e está disposto a manter-se unido a Ele. Diante disso Moisés constrói o altar com doze blocos de pedra. O altar representa Deus e as pedras, as doze tribos de Israel. Quando Moisés derrama o sangue das vítimas sobre o altar e as pedras, simboliza a unidade do povo com Deus. Claro que essa aliança foi rompida inúmeras vezes dado a sua fragilidade, pois o selo provinha de fora e não do coração.
Novo Testamento - Diante dessa aliança frágil surge a festa de Corpus Christi, como manifestação pública do apreço e do valor da nova aliança de Deus com o seu povo. Aliança essa, não mais selada com o sangue de cordeiros e bois, ou seja, com o selo externo, mas com o sangue de Jesus, o Filho de Deus. Desse modo, nas veias do povo correrá o sangue de Deus e no sangue de Deus correrá o sangue do povo. Portanto, uma aliança de verdade e de vida para todos os que a acolherem.
Vemos Jesus, o Filho querido de Deus, ensinando os seus as exigências da nova aliança durante três anos. Uma vez que estavam dispostos a viver essa aliança nova os vemos celebrando a última ceia (Mc 14,12-26), na qual, Jesus deu o seu corpo e o seu sangue, por antecipação ao calvário, a fim de selar essa nova e eterna aliança. Os discípulos alimentaram-se de um Deus que assumiu a carne e o sangue humanos. Naquela ceia derradeira foi selada a Nova e Eterna aliança onde Deus se dá inteiramente aos homens e os homens alimentam-se de Deus. Nessa unidade divina e humana surge a nova família de Deus. Surge a Igreja, cuja cabeça é Cristo e os seus seguidores os membros vivos de Cristo.
Pastoralmente - Quem se alimenta dignamente desse pão do Céu vai crescendo sempre mais em Deus. Poderá chegar à santidade Paulina e assim poder dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Poderá ter os mesmos sentimentos do Filho de Deus, como afirma um autor italiano chamado Cencini. Poderá, acima de tudo, reproduzir as ações de Jesus de Nazaré aqui e agora. 
Os que se alimentam indignamente podem comer a própria condenação. Não por causa do Alimento Eucarístico, mas por conta da sua dureza de coração que não permitem ao Amor Divino circular nas suas veias. Comem a Jesus para trai-lo logo a seguir, como fez Judas Iscariotes. Não são fieis à aliança que aparentemente estão celebrando na comunidade. Traem Jesus e a sua comunidade.

Oração - Peçamos queridos irmãos e irmãs, a graça de poder selar uma aliança verdadeira com Jesus. Que o Seu corpo e o Seu sangue que recebemos na Eucaristia sejam alimento, que nos une à sua comunidade eclesial!  Que cada um de nós possa sentir-se comprometido com os demais membros da comunidade! Que jamais cedamos à tentação de abandonar a comunidade diante das criticas e dificuldades que surgem! Que não abandonemos os irmãos e as irmãs que estão correndo perigos de vida! Que incorporemos os mesmos sentimentos, pensamentos e atitudes de Jesus e, assim, sejamos capazes de dar a vida uns aos outros, à maneira de Jesus!





Pe. Arlindo Toneta  -  MI
Pároco da Paróquia N. Sra. da Boa Esperança  - Pinhais - PR