O
mundo tem sede de concentração de bens nas mãos de alguns, mesmo que à custa do
empobrecimento de muitos. O mundo capitalista insiste em apresentar os ricos de
bens terrenos como modelos a serem imitados. Na verdade, a experiência humana,
mostra que para viver bem não necessitamos de muitos bens. Ao contrário, muitos
bens podem trazer muitos problemas, tais como insegurança em mantê-los, medo de
sequestros, dor de consciência, etc, etc. Ciente disto, Mahatma Gandhi, afirmou
que a verdadeira civilização é a da simplicidade.
Meditando
a Liturgia da Palavra, desse tempo de Páscoa, chama-nos a atenção a maneira de
viver da primeira comunidade cristã, isto é, dos seguidores de Jesus
Ressuscitado. Contrariando a tendência do mundo concentrador de bens temporais,
eles repartiam tudo entre si. “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só
alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre
eles era posto em comum” (At 4,32).
Queridos
leitores! Vamos pensar um pouco sobre essa mudança de comportamento. Por que
eles começaram a repartir os bens materiais, que acumularam ao longo da vida?
Certamente porque descobriram um bem maior pelo qual vale a pena repartir tudo.
O que é mesmo esse bem maior? Descobriram Jesus Cristo Ressuscitado, que passou
pelo mundo repartindo tudo o que possuía, inclusive seu corpo e sangue, e agora
nos aguarda no banquete do Reino dos Céus. Descobriram Jesus que buscava
constantemente as coisas do Pai, as coisas do alto, que após a sua morte subiu
ao Céu onde prepara um lugar para todos os que fazem o bem, isto é, os que
repartem. Além disso, entenderam também, que tudo o que é feito a um irmão é
feito ao próprio Jesus.
Diante
do testemunho e da pregação dos que conviveram com Jesus, que o ouviram
falando, que o viram repartindo, que participaram da sua prisão e condenação à
morte de cruz e mais do que isso, que o viram ressuscitado, multidões de fiéis,
se convertiam a esse novo modo de vida. Claro que para os que não creem em
Jesus Ressuscitado, esse modo de vida não passa de uma loucura coletiva. O que
é importante, queridos leitores, não é discutirmos os prós e os contra, mas
notar que quando o Evangelho e a sua mensagem entram no coração do homem e da
mulher surge um novo homem e uma nova mulher. Um homem capaz de repartir tudo o
é e o que possui em favor do bem comum. Surge um casal consciente que tudo o
que possui e tem, deve repartir com o cônjuge e com os filhos, em primeiro
lugar, e com a comunidade em segundo.
A
partir da adesão a Jesus Ressuscitado surge um novo modo de nos relacionarmos
com os bens terrenos. Eles não são mais os nossos senhores, mas ferramentas
para fazermos o bem a quem necessita na família e na comunidade. São apenas
meios que usamos e partilhamos com aqueles que mais necessitam. Isso leva a uma
liberdade extraordinária em relação aos mesmos. Nisto aprendemos a viver, como
S. Paulo, com muitos bens e também com alguma carência sem, contudo, perder a
alegria, pois o bem maior está garantido a todos os homens e mulheres de fé.
Além
de tudo isso, surge um novo modo de relacionamento humano, isto é, um
relacionamento respeitoso e cuidadoso do outro e da outra. Não mais seremos
capazes de explorar o trabalho do outro para nos enriquecer, mas saberemos
valorizar e remunerar o seu trabalho. Uma vez ressuscitados com Cristo,
saberemos valorizar o outro, agradecendo o presente do céu que ele é, e não
apenas um concorrente ou um assaltante que procura nos prejudicar. Quando a
Ressurreição de Jesus nos toca, os nossos olhos se abrem para ver no outro um
irmão e uma irmã pelos quais Jesus deu a vida e nos convida a dá-la também em
seu favor.
Penso
que depois dessa meditação vocês, meus queridos leitores, já degustaram um
pouco do Céu, que nós os seguidores de Jesus podemos e devemos fazer acontecer,
pelos menos um pouco, na vida das nossas famílias e comunidades. Vai depender
de cada um de nós assumir essa oportunidade ou deixá-la escapar como a areia
debaixo dos pés e continuar lamentando que o mundo está ruim.
Pe. Arlindo Toneta - Pároco –
Paróquia N. Sra. da Boa Esperança - Pinhais - PR